Um “novo rico” pode estar pintando no futebol. Nesta quinta-feira, o Newcastle confirmou sua aquisição por um grupo de empresários capitaneados pelo fundo de investimentos público da Arábia Saudita. As negociações, que duraram cerca de um ano e meio ? e chegaram a ser desfeitas ? foram concluídas após os sauditas comprovarem que o governo do país não controlará o clube.

O Public Investment Fund (PIF), fundo do tesouro saudita com capital estimado em 500 bilhões de dólares, assumirá 80% da operação de compra, que gira em tornos dos 300 milhões de libras (cerca de 2,25 bilhões de reais), segundo a emissora britânica “BBC”.

O fundo é comandado por Muhammad bin Salman, príncipe herdeiro da coroa saudita e uma figura das mais controversas da política internacional. Para além das extravagâncias e polêmicas na vida pessoal, bin Salman é acusado pela morte brutal do jornalista Jamal Khashoggi, ex-correspondente do jornal “Washington Post”, em 2018. Crítico do governo saudita, Khashoggi foi morto dentro da embaixada da Arábia Saudita na Turquia, quando tentava obter documentos para se casar. O corpo do jornalista nunca foi encontrado.

Mohammed bin Salman, príncipe da Arábia Saudita Foto: Handout . / VIA REUTERS
Mohammed bin Salman, príncipe da Arábia Saudita Foto: Handout . / VIA REUTERS

 

Um relatório de inteligência dos Estados Unidos concluiu, em fevereiro, que o príncipe, que tem grande controle da segurança e inteligência do país, é um dos responsáveis por uma operação pela captura e morte do jornalista. Sete homens que fariam parte de sua guarda oficial estariam ligados ao crime. Meses antes, a Arábia Saudita condenou oito pessoas à prisão pelo caso, mas não revelou suas identidades.

A presença de bin Salman, homem forte na política saudita, nas negociações nunca foi bem vista pela Premier League e por uma parcela de torcedores, sob a suspeita de que o clube poderia ser utilizado como forma de maquiar as ações controversas e do desrepeito aos direitos humanos tomadas pelo governo local. Daí veio a necessidade da comprovação de que não haverá controle.

“As discussões legais eram sobre que entidades seriam donas ou poderiam controlar o clube após a compra. Todas as partes envolvidas concordaram que esse acordo era necessário para encerrar a longa incerteza dos torcedores sobre o clube. A Premier League recebeu garantias legais de que o Reino da Arábia Saudita não controlará o Newcastle”, diz comunicado da liga.

De acordo com o anúncio do clube, o príncipe não terá papel na diretoria do clube, por ora. Quem assume como presidente não-executivo é o governador e segundo no comando do PIF, Yasir Al-Rumayyan. Ele foi breve, em curto agradecimento aos torcedores no comunicado.

Al-Rumayyan será o presidente não-executivo do Newcastle Foto: AHMED YOSRI / REUTERS
Al-Rumayyan será o presidente não-executivo do Newcastle Foto: AHMED YOSRI / REUTERS

 

Além dos sauditas

A presença de outros empresário no processo foi outro facilitador da compra. Líder do processo de compra, Amanda Staveley, dona PCP Capital Partners, empresa de investimentos que auxiliou os governos dos Emirados Árabes e do Qatar em operações financeiras na Europa, será uma das diretoras do clube. A inglesa de 48 anos já esteve envolvida em outra tentativa de adquirir o clube, em 2017, e foi uma das facilitadoras na operação de compra do Manchester City pelo xeque Mansour.

Amanda Staveley tem boa relaçõe com governos do Oriente Médio Foto: LEE SMITH / Action Images via Reuters
Amanda Staveley tem boa relaçõe com governos do Oriente Médio Foto: LEE SMITH / Action Images via Reuters

? Queremos criar uma filosofia de união, estabelecer uma proposta clara e prover liderança para que o Newcastle atinja objetivos grandes a longo prazo. Nossa ambição está alinhada à dos torcedores. Queremos criar um time de suceso consistente, que esteja competindo regularmente pelos principais títulos e que gere orgulho ao redor do mundo ? prometeu a empresária.

Ainda segundo a “BBC”, umas das principais barreiras para o negócio foi justamente um problema entre sauditas e qataris. Em meio a tensas relações diplomáticas, a beIN Sports, emissora do Qatar dona dos direitos de trasmissão da Premier League, era impedida de fazer transmissões na Arábia Saudita e acusava os sauditas de piratearem as partidas. A transação deve encerrar esse imbróglio.

Quem fecha a tríade de investidores por trás da “nova era” do Newcastle, como o clube vem tratando o processo em suas redes sociais, é a família Reuben. De origem indiana, os bilionários estão entre os mais ricos empresários do Reino Unido. São donos de edifícios, pistas de corrida e ações que somam cerca de 16 bilhões de libras, segundo estimativas da “Forbes”. É o primeiro investimento direto dos discretos Reuben num clube de futebol.

Seu representante no clube, também como diretor, será Jamie Reuben, sob o braço da RB Sports & Media. O jovem empresário de 34 anos e nascido em Mumbai já foi diretor do Queen’s Park Rangers, da segunda divisão inglesa, e é nome influente na política do Reino Unido. Apoiador do Partido Conservador, Jamie fez parte do comitê de campanha para a reeleição de Boris Johnson, atual primeiro ministro, como prefeito de Londres, em 2012.

Jamie Reuben (esquerda), novo diretor do Newcastle Foto: LEE SMITH / Action Images via Reuters
Jamie Reuben (esquerda), novo diretor do Newcastle Foto: LEE SMITH / Action Images via Reuters

? Newcastle é uma cidade fantástica em que nossa família vem investindo pesado por muitos anos. Ser parte desse grande clube com torcedores incríveis é um privilégio. Vamos construir um clube da comunidade baseados no conhecimento da família sobre a cidade e de acordo com os planos que fizemos com a prefeitura para trazer um crescimento sustentável de longo prazo ? afirmou Jamie.