Desde 2018, Palmeiras ou Flamengo conquistam um título de expressão por temporada. Primeiro, os paulistas venceram o Brasileirão-18. Em seguida, os rubro-negros ganharam tanto a Série A quanto a Libertadores. No ano passado, ambos ergueram troféus (o time alviverde faturou o torneio internacional e a Copa do Brasil, enquanto o carioca foi bi nacional). Em 2021, esta tradição já está garantida. A final da principal competição continental marca um capítulo especial nesta disputa por hegemonia. Ao mesmo tempo, levanta um debate: estará o duelo inaugurando um novo patamar na história das rivalidades no país?

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No Brasil, os antagonismos sempre foram alimentados por disputas locais. Seja em cidades menores, como Guarani x Ponte Preta, em Campinas; seja nas maiores, como Grêmio x Internacional, em Porto Alegre. Ganhar estes clássicos é o equivalente a demarcar território. Uma motivação alimentada pela força que os Estaduais tiveram até o século passado. Com a constante desvalorização destes torneios, as fronteiras mudaram. Passaram a ser nacionais.

? A palavra “rivais? vem do latim rivales. São aqueles que habitam as margens do mesmo rio. A rivalidade é maior quanto maior é a proximidade. Está assentada nas disputas da mesma cidade. Aí você tem Celtic e Rangers, cuja disputa em Glasgow (Escócia) envolve questões política e religiosa; Boca e River, em Buenos Aires; Palmeiras e Corinthians, entre outros ? explica Flávio de Campos, professor da pós-graduação em História Sociocultural do Futebol na Universidade de São Paulo (USP).

? O segundo fator é desempenho, como as disputas mais recentes vão potencializando rivalidades. E aí entra o caso de Flamengo e Palmeiras.

 

Com o futebol europeu como modelo, o Brasil passou a valorizar mais o campeonato nacional. E Palmeiras, desde 2016, e Flamengo, desde 2019, ocupam um patamar acima dos demais em termos competitivos. Já Atlético-MG, Santos e a dupla Gre-Nal têm se alternado como seus principais perseguidores.

? Todo campeonato produz uma elite de dois, três ou quatro grandes. Por que o Brasil tem supostamente 12 grandes? Porque tinha 27 campeonatos. Então você tinha a grandeza regional que levava a uma grandeza nacional ? afirma o jornalista e escritor Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista de futebol do SporTV.

? Acho que esse fenômeno (das rivalidades nacionais) está acontecendo em alguns lugares. O que acontece com Atlético-MG e Flamengo é que eles ficaram sem rivais em seus estados. O atleticano quer ganhar do Cruzeiro. Mas ele está na Série B. E, no Rio, Vasco e Botafogo não brigam mais com o Flamengo. O Fluminense briga no limite dele.

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A rivalidade entre Atlético-MG e Flamengo não é nova. As derrotas impostas pelo time carioca nos anos 1980 nunca foram esquecidas pelos mineiros. A rixa de rubro-negros e palmeirenses também já existia. Tem origem na antiga aliança entre a torcida do clube paulista com a do Vasco. Mas, de fato, foi intensificada pelos próprios jogadores nos últimos anos.

 

Em 2016, o Palmeiras celebrou o Brasileiro com camisa e faixa alusivos ao “cheirinho? (referência aos fracassos rubro-negros). Dois anos depois, novo título festejado pelos jogadores com o termo ? em frente a uma loja do Flamengo no aeroporto. No ano seguinte, a forra. No desfile pós-título da Libertadores, Gabigol puxou do carro de som uma música que alfinetava os paulistas.

? O Flamengo está sem rival no Rio, mas o Palmeiras tem em São Paulo. Foi quando o time perdeu para o Corinthians que a torcida fez manifesto cobrando jogadores, diretoria e técnico. Não foi para o Flamengo ? lembra PVC, que considera cedo dizer que a rivalidade entre os dois está consolidada. ? Pode ser sazonal, como é na Inglaterra. Antes, era Corinthians, Cruzeiro e Fluminense. E agora são estes de 2016 para cá. Mas a gente não sabe se essa elite vai ser Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG por dez anos. Temos que entender este cenário de nacionalização e as mudanças que ele vai trazer.