A edição 2021 da Libertadores fala português. O torneio volta hoje com uma semifinal brasileira de peso: Atlético-MG e Palmeiras se enfrentam no Allianz Parque, às 21h30, no duelo de ida por vaga na decisão. Amanhã, o Flamengo recebe o Barcelona de Guayaquil, no Maracanã. O cenário garante um time do país na final, com chances claras de uma decisão nacional, reflexo de um domínio de números e mercado do Brasil no futebol do continente.
A superioridade brasileira fica evidente nas estatísticas. Das dez equipes que mais marcaram gols, cinco são do Brasil, sendo que o trio semifinalista lidera: Flamengo (28 gols), Palmeiras (26) e Atlético-MG (19), todos em dez jogos. A estatística pouco muda quando observada apenas a fase de grupos, com todas as 32 equipes fazendo seis partidas: o time paulista terminou a primeira fase com o melhor ataque (20), seguido por Galo e LDU (15) e Deportivo Táchira e Flamengo (14).
Brasileiros dominam estatísticas da Libertadores Foto: Editoria de arte
O rubro-negro marcou metade de seus gols no mata-mata, alavancado pela chegada do técnico Renato Gaúcho. Foram duas goleadas sobre o Olimpia (4 a 1 e 5 a 1), nas quartas, e uma sobre o Defensa y Justicia nas oitavas (4 a 1, depois de vitória por 1 a 0). A equipe carioca exala volume de jogo: cria 2,6 grandes chances, chuta a gol 11,6 vezes e marca 2,8 gols por partida. Uma taxa de conversão de 24% das chances em gol, segundo o site Sofascore. O discurso é de um time insaciável:
? Nosso time cria bastante, tem muitas chances, mas se fossem seis ou sete gols, teria definido o confronto. Temos que melhorar, mas conseguimos fazer quatro gols. Em outras partidas fizemos quatro ou cinco. Precisamos melhorar sempre ? disse Gabigol após a vitória no jogo de ida contra o Olimpia.
O atacante é o artilheiro da competição, em quadro estatístico também monopolizado pelos representantes brasileiros. São 10 gols em 10 jogos para Gabi, seguido por Hulk (Atlético) e Fred (Fluminense), com 7 cada. Rony (Palmeiras) e Borja (ex-Junior Barranquilla, hoje no Grêmio) vêm logo depois, com 6.
Os artilheiros e líderes em assistência da atual edição da Libertadores Foto: Editoria de arte
Nas assistências, Arrascaeta e Savarino, de Flamengo e Atlético-MG, respectivamente, lideram a lista, com cinco passes para gol cada. O venezuelano comanda um Galo com brilho de Hulk, mas que conta com outras peças capazes de decidir. Como Nacho Fernández, ex-River Plate, que marcou o gol da vitória no jogo de ida contra seu ex-clube, que abriu caminho para os mineiros se garantirem na semi.
O time de Cuca cria três grandes chances por jogo. Chuta mais que o Fla (13,5 por jogo), mas não converte tantas chances em gol (14%). Por outro lado, é mais seguro na defesa: é a segunda melhor do torneio, com apenas três gols sofridos ? todos na fase de grupos. Equilibrado, o Atlético prefere chegar à área para finalizar (marcou 18 de seus 19 gols dentro dela) e distribui seus tentos entre a legião estrangeira: são três gols do argentino Zaracho, que cresceu no mata-mata, dois do chileno Vargas e dois de Savarino.
São Marcos pode ter falhado naquela final, mas a imagem do pentacampeão do mundo como um dos maiores ídolos palmeirenses segue intocada entre os torcedores. Depois de encerrar a carreira inteiramente feita no Verdão, ganhou busto, chegou a ser embaixador do clube e hoje é empresário, ainda com fortíssima ligação à equipe. Foto: Instagram/Marcos R S ReisMulti-campeão pelo clube, o lateral-direito paraguaio Arce disputou a Copa do Mundo de 2002 e se aposentou quatro anos depois. Lenda do futebol de seu país, hoje é técnico do Cerro Porteño, clube pelo qual conquistou dois nacionais. Foto: Divulgação/Cerro PorteñoO lateral-esquerdo Júnior esteve no elenco da seleção brasileira pentacampeã do mundo em 2002 e ainda viria a ganhar Libertadores e Mundial pelo rival São Paulo. Aposentou-se em 2010 e, desde então, tem participado de eventos. Nas horas vagas, se dedica à pescaria, que descreve como o 'segundo esporte favorito' em seu perfil no Instagram. Foto: Instagram/Júnior SouzaApós a passagem pelo Palmeiras, o zagueiro Roque Júnior fez carreira em clubes Europeus, com passagens por Milan e Bayer Leverkusen, além de ter sido pentacampeão mundial em 2002 com a Seleção Brasileira. Voltou ao Palmeiras em 2008 e aposentou-se dois anos depois. Após deixar os gramados, arriscou-se na carreira de técnico por XV de Piracicaba e Ituano, além de ter atuado como diretor de futebol de Ferroviária e Paraná. Foto: Twitter/Roque JúniorPolêmico e sem papas na língua, Junior Baiano passou ? e venceu ? por grandes clubes do futebol brasileiro, com Vasco e Flamengo, além de ter sido vice-campeão mundial com a Seleção Brasileira, em 1998. O zagueiro rodou por clubes de menor expressão antes de encerrar a carreira no futebol norte-americano, em 2009. Fora dos gramados, tentou a carreira de técnico por Santa Helena e Itumbiara, sem muito sucesso. Foto: Reprodução/Youtube TV Torcedores
Nome icônico do futebol brasileiro, Cesar Sampaio teve carreira vitoriosa, jogando pelos quatro grandes de São Paulo e disputando Copa do Mundo em 1998. Após a aposentadoria, em 2004, atuou como comentarista, dirigente e empresário. Hoje, é auxiliar técnico da Seleção Brasileira. Foto: Kin Saito/Divulgação/CBFVolante de força e imposição física revelado pelo Verdão, Galeano teve carreira movimentada e passou por outros 14 clubes, como Botafogo e Juventude, antes de encerrar a carreira, em 2019. Depois de pendurar as chuteiras, foi dirigente do Ituano, coordenador técnico do Palmeiras e auxiliar de Antônio Carlos Zago no Juventude, em 2016. Foto: Arthur Dallegrave / E.C.JuventudeTetracampeão mundial em 94, Zinho venceu a Libertadores de 1999 em sua segunda passagem pelo Verdão. Rodou por grandes clubes brasileiros até se aposentar em 2007. Fora dos gramados, foi dirigente (Flamengo e Santos), auxiliar técnico de Jorginho (Vasco) e hoje é comentarista de TV. Foto: Twitter/ZinhoUm dos meias mais talentosos dos anos 2000, o multi-vitorioso Alex (esquerda) teve grandes passagens por outros clubes brasileiros, com destaque para o Cruzeiro. Virou lenda no Fenerbache, da Turquia, e aposentou-se no Coritiba, em 2014. Foi comentarista de TV e anunciou, em 2020, que iniciaria a carreira de técnico. Foto: Twitter/Alex de SouzaContratado como reforço de peso para a disputa do Mundial, o colombiano Asprilla ficou até 2000 no Palmeiras, antes de partir para o Fluminense. Um dos grandes nomes da história da seleção colombiana, disputou as copas de 1994 e 1998, rodou pelo futebol sul-americano e aposentou-se em 2004. Voltou ao futebol brevemente, por clubes de menor expressão, até 2009. Hoje, é empresário e lançou sua própria linha de preservativos. Foto: Twitter/Faustino Asprilla
O "Diabo Loiro" Paulo Nunes foi parte de grandes ataques do futebol brasileiro nos anos 90. Viveu grande fase por Grêmio e Palmeiras no fim daquela década e manteve rivalidade eletrizante com o Corinthians, clube no qual jogaria em 2021, sob protestos da torcida. Depois de aposentado, participou de reality show. Hoje, é comentarista do Grupo Globo. Foto: Reprodução/TVArtilheiro dos gols importantes pelo Verdão, Oseás foi um dos principais atacantes do futebol brasileiro daquela época. Depois da trajetória de títulos pelo Palmeiras, atuou por clubes como Cruzeiro, Santos e Internacional. Aposentou-se em 2015 e hoje é empresário do ramo imobiliário. Foto: Oséas Silva/InstagramReserva de luxo daquela equipe, o experiente atacante Evair deixou o Palmeiras em 2000 como um dos maiores artilheiros do clube. Passou ainda pelo rival São Paulo e por clubes como Goiás e Figueirense, antes de se aposentar em 2013. Atuou como empresário e como técnico de equipes como Vila Nova, Itumbiara e River-PI. Segue muito ligado ao clube e esteve presente na final da Libertadores. Foto: Instagram/Evair PaulinoO 'filho do vento' Euller (esquerda) se transferiu para o Vasco após a decisão. Depois, passou pelo futebol japonês e pelo São Caetano, mas foi em três passagens pelo América-MG, clube que o projetou para o futebol, que Euller reforçou sua idolatria. Já no fim da carreira, foi campeão brasileiro da Série C e da Segundona do Mineiro. Aposentado desde 2011, o ex-atacante é técnico do Safor Club, da sétima divisão da Espanha. Por lá, vem fazendo cursos da Uefa para técnicos. Foto: América-MG/DivulgaçãoLuiz Felipe Scolari, o Felipão, dispensa maiores apresentações no futebol brasileiro. Após o projeto vencedor entre 1997 e 2000 pelo Verdão, foi pentacampeão do mundo com a Seleção Brasileira em 2002. Voltaria ao Palmeiras em 2010 e 2018, vencendo a Copa do Brasil de 2012 e o Brasileirão de 2018. Seu último trabalho foi no Cruzeiro, encerrado ainda este ano. Foto: Igor Sales/Cruzeiro
? Você passar por Boca e River numa competição tão difícil como a Libertadores é lógico que dá uma casca maior, são equipes tradicionalíssimas. Mas a gente tem que levar em conta o momento do futebol argentino, que não está no ápice ? disse Cuca, ressaltando ainda os desfalques dos rivais.
O Galo foi o primeiro time brasileiro a eliminar River e Boca Juniors numa mesma edição de Libertadores.
Times valiosos
A fala de Cuca remete tanto ao momento competitivo quanto ao financeiro do rivais. Vivendo crise financeira desde antes da pandemia, o futebol argentino foi fortemente afetado no aspecto econômico.
Ainda que, dos times classificados às oitavas, os segundos mais valiosos sejam argentinos, a disparidade financeira para as equipes brasileiras é grande: os elencos de River, Boca, Vélez Sarsfield, Racing, Argentinos Juniors e Defensa y Justicia somam valor agregado de 356,44 milhões de euros, contra 581,25 milhões de Flamengo, Palmeiras, Atlético, São Paulo, Internacional e Fluminense, em avaliação do site especializado Transfermarkt. Entre os semifinalistas, apenas Flamengo e Palmeiras ultrapassam a barra dos 100 milhões, enquanto o Barcelona é avaliado em “apenas? 15,95 milhões de euros.
Lista dos elencos mais caros entre os 16 times da fase final da Libertadores Foto: Editoria de arte
Assim como Galo e Fla, seus rivais também na briga pelo Brasileirão, o atual campeão Palmeiras investe alto para chegar novamente em uma semifinal de Libertadores. O atual campeão foi às oitavas como melhor ataque da fase de grupos (20 gols) e precisou passar um clássico para chegar até aqui. A classificação foi sacramentada com um 3 a 0 com autoridade sobre o São Paulo no melhor estilo Abel Ferreira: ficando menos com a bola e apostando na eficiência quando vai ao ataque.
SANTOS – Foi o primeiro clube brasileiro a conquistar dois títulos da Libertadores. O primeiro, em 1962, com Pelé, Coutinho e companhia, contra o Penãrol, do Uruguai. No ano seguinte, levantou novamente a taça ao vencer o Boca Juniors, da Argentina. Voltou a vencer em 2011, sob o comando de Muricy Ramalho, batendo novamente o Peñarol na final Foto: Arquivo / Agência O GloboGRÊMIO – Três vezes campeão da Libertadores da América, o clube levantou a taça pela primeira vez em 1983, numa final disputada contra o Peñarol, do Uruguai. O time paulista repetiu o feito em 1995 e em 2017 Foto: Athayde dos Santos / Agência O GloboSANTOS – Tricolor paulista e tricampeão da Libertadores. O Clube conquistou dois títulos em sequência (1992/93) e, mais tarde, em 2005, com finais disputadas contra o Newell's Odd Boys, da Argentina, Universidad Católica, do Chile, e o Athletico-PR, respectivamente Foto: Claudio Rossi / Agência O GloboCRUZEIRO – Conquistou por duas vezes a Libertadores (1976 / 1997). No primeiro título, disputou a final com o River Plate, ganhando por 3 a 2, no Estádio Nacional, Santiago, Chile Foto: Arquivo / Agência O GloboINTERNACIONAL – Clube venceu o campeonato por duas vezes: a primeira em 2006, com vitória sobre o São Paulo na final; na segunda, em 2011, sagrou-se campeão ao vencer ambas as partidas da final contra o Guadalajara, do México Foto: Antônio Scorza / Agência O Globo
FLAMENGO – Mais recente vencedor da Libertadores, o clube carioca levantou a taça pela primeira vez em 1981, ao vencer o Cobreloa, do Chile, em um jogo de desempate no Estádio Centenário. Em 2019, garantiu o título na final contra o River Plate, ganhando por 2 a 1, no Estádio Monumental U, em Lima, no Peru Foto: Sebastião Marinho / Agência O Globo
Do trio brasileiro, o Palmeiras é o único que não mantém média de domínio da posse de bola em suas partidas (45,6%). Tem sido econômico no mata-mata, mas cria consideravelmente: são 2,9 grandes chances por partida e taxa de conversão de 23%. Além de Rony, referência ofensiva, outros 13 jogadores já foram às redes pelo alviverde, com destaque para Raphael Veiga (quatro), Patrick de Paula (três) e a dupla Willian e Zé Rafael (dois).
? Queremos tanto quanto o nosso adversário. Vamos usar as armas que temos e o mais indicado para estar na final da Libertadores ? afirmou Abel Ferreira.