Gabriel Medina é um homem realizado. Cansado, mas realizado. Menos de 24 horas após conquistar o tricampeonato mundial com o qual tanto sonhou, após derrotar Filipe Toledo, o surfista paulista de 27 anos conversou com O GLOBO por telefone e avaliou o desfecho da temporada como “um dia perfeito”. Tão perfeito que ele nem quis fazer nada após a vitória sobre Filipe Toledo, em Trestles, para “nem dar chance para o azar”.

Com elogios à namorada Yasmin Brunet, Medina diz que nunca se sentiu tão preparado quanto neste ano e revela que pretende renovar a parceria com seu técnico, o australiano Andy King.

Análise:Medina fez justiça com título na WSL Finals

O título de ontem foi a sua conquista mais emocionante?

É para isso que eu surfo. Sempre tive o sonho de ser três vezes campeão. Não é todo dia que você realiza um sonho, e ontem foi um desses dias. Era isso que me motivava. Chegar num dia como ontem e levantar aquele troféu. São anos de dedicação para chegar naquele dia e ser recompensado. Foi um dia perfeito. Eu nem quis fazer tanta coisa depois, para não estragar o dia! Parar por cima, nem dar chance para o azar.

Nem teve comemoração depois?

Não teve festa, só uma reunião que a WSL promoveu com outros campeões mundiais, pessoas do evento, foi um brinde. Eu estava cansado. Surfei só duas baterias, mas psicologicamente é um stress, é muita ansiedade. E foram baterias de 35 minutos, contra um dos melhores caras (Filipe Toledo). Me cansei muito, mas dormi bem.

E teve até tubarão na água, né. Como foi aquele momento?

Quando tocou a sirene (de aviso que o campeonato estava paralisado), eu não sabia o que estava acontecendo. No meio do título, não é possível! Quando vi o jet-ski vindo na minha direção, logo pensei que era tubarão. Deu tudo certo. Ele estava só de passagem, foi visto em uma praia ao lado.

Como você avalia sua temporada? No que acha que evoluiu em relação ao circuito de 2019?

Foi o meu melhor ano em resultados. Tive algumas mudanças, né (Gabriel deixou de ser treinado pelo padrasto, Charles Saldanha, e passou a trabalhar com o australiano Andy King). Me sinto mais preparado fisicamente, mentalmente. Foi o ano em que me senti mais completo. Procurei aproveitar mais os lugares por onde passei, viver o momento. Não pensar no passado, não pensar no futuro. Acho que isso me colocou mais no chão.

No que o trabalho com o Andy King lhe ajudou?

O Andy me ajudou bastante. Foi o primeiro ano que peguei alguém diferente, que não estava acostumado. Só de estar do lado dele me sinto bem, é um cara do bem, positivo. Ele entende muito de surfe, trabalhou muitos anos com Mick Fanning. Ele me ajudava com muitos detalhes que às vezes eu não dava importância. Por exemplo, nunca dei tanta importância para manobra de borda. Ele ama esse tipo de surfe, me ajudou a colocar mais a borda, em que parte da onda fazer as manobras. Quanto mais a gente treinava, mais eu pegava confiança. O resultado é que nos treinos eu já estava errando bem pouco. O backflip mesmo, que eu acertei logo na primeira tentativa, porque estava acertando nos treinos. Nada é à toa. É praticar, é treinar.

 

Continuarão juntos no ano que vem?

Acho que a gente vai continuar, mas ainda não sentamos para conversar. Meu plano é continuar com ele.

E qual a importância da Yasmin (Brunet) nesta sua temporada?

Ela tem sido demais. A gente viajou para caramba, passamos por várias situações. Se não tivesse ela, teria sido muito mais difícil. Ela me faz sentir mais confortável. Tive a ajuda e o carinho dela, e isso me ajudou mais a focar no surfe e fazer minhas coisas.

O título mundial veio menos de dois meses depois da Olimpíada. O que aconteceu em Tóquio, com a derrota na semifinal, ainda lhe incomoda?

Já foi, passou. Claro que eu queria fazer a final com o Italo, mas aconteceu, não tem como voltar atrás. Eu sabia que tinha um porque. Talvez esse porque tenha sido respondido ontem. Já vivi várias situações assim, e melhor coisa que posso falar é deixar acontecer que você vai entender. Deixa a vida responder. Ontem fui recompensado.

Você fala que o tri sempre foi um objetivo, um sonho. E agora, com o que sonha Gabriel Medina?

Eu quero aproveitar um pouco mais minha vida. Agora é curtir as férias e deixar as coisas acontecerem. Ainda não caiu a ficha pelo título, vai caindo aos poucos. Mas quando digo que não tenho planos, é porque não tenho mesmo. Só quero ficar em casa. Esse ano foi viagem atrás de viagem, foi um ano muito intenso, não parei. Agora quero relaxar.

. Foto: Arte O GLOBO
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