A jovem Emma Raducanu fez algo impensável no último sábado ao sair do qualifying e da 150ª posição do ranking WTA para o título feminino do US Open. Diferentemente do que muitos possam pensar, a conquista da britânica de 18 anos não foi um golpe de sorte. Ela teve uma campanha consistente desde o início do torneio, deixando dez adversárias para trás sem perder um set ou jogar um tie-break sequer.
Raducanu nasceu no Canadá, é filha de uma chinesa e de um romeno, e quando tinha dois anos mudou-se para a Inglaterra, onde se naturalizou. Apesar da sua pouca idade, ela já experimentou lidar com as expectativas e as críticas da tradicional e exigente escola de tênis britânica.
A conquista no nível mais importante do tênis também foi a primeira de sua carreira. Ela ainda não venceu nenhum torneio WTA, e o slam americano foi apenas o segundo disputado por ela. Ela debutou como convidada na chave principal de Wimbledon neste ano, quando chegou até as oitavas de final. Tamanho resultado para uma tenista tão jovem em sua estreia teria sido motivo de comemoração em seu país, não fosse a forma como ela foi eliminada.
Raducanu tomou as páginas dos jornais britânicos em julho por desistir de sua partida mais importante até então devido uma crise de ansiedade. Na época ocupando o 338º lugar no ranking, ela começou o torneio derrotando três jogadoras experientes em sets diretos, antes de abandonar a competição nas oitavas quando perdia por 4/6, 0/3 para a australiana Ajla Tomljanovic.
Antes de Wimbledon, Raducanu disse que o maior público para o qual ela já havia jogado era de “talvez? cem pessoas. Na quadra 1 naquele dia, havia alguns milhares de torcedores gritando por ela e muitos no mundo todo acompanhando ao vivo pela TV.
Ela levou a mão esquerda ao abdômen, nitidamente com dificuldades para respirar, antes de chamar o treinador. A promissora jovem britânica foi repentinamente colocada sob os holofotes e as mesmas pessoas que a levaram até lá a chamaram de “fraca? por não saber lidar com isso.
? Acho que é uma ótima experiência de aprendizado para mim. Agora, da próxima vez, espero estar melhor preparada ? disse ela após o episódio em entrevista à BBC.
Apesar de parecer utopicamente otimista, ela estava certa. No US Open, ela agarrou com unhas e dentes a sua segunda oportunidade, mesmo que precisasse percorrer um caminho mais longo para isso entrando no qualifying. Dez partidas depois, ela levantou sorridente ? e um pouco incrédula ? a sua primeira taça após derrotar a canadense Leylah Fernandez, de apenas 19 anos.
A final entre duas jovens até então desconhecidas tinha tudo para mitigar o interesse dos espectadores, mas Raducanu e Fernandez conquistaram a atenção do público do US Open com suas campanhas incríveis e estilo de jogo destemido.
A decisão do último sábado, além de representar um ótimo presságio dos próximos anos no circuito feminino, mostrou a capacidade de jovens talentos de se sobressair em meio ao turbilhão de atenção.
? Mesmo não tendo perdido nenhum set, na teoria, acho que enfrentei muitas adversidades em cada uma das minhas partidas. Posso apontar alguns momentos em que estive para baixo. Mas acho que apenas superar isso já é importante ? disse a campeã.
Bem mais relaxada agora, Raducanu vai se dando conta do conto de fadas que viveu nas últimas semanas. Ela deixa Nova York aplaudida pelo primeiro-ministro Boris Johnson e reverenciada até pela rainha da Inglaterra, Elizabeth II, após conquistar o primeiro grande título feminino para o país em 44 anos.
Além de escalar incríveis 127 posições no ranking, ela leva para casa o prêmio 2,5 milhões de dólares (cerca de R$ 13 milhões) e uma grande lição sobre manter a cabeça no presente.
? Não tenho ideia do que vou fazer amanhã. Estou apenas tentando abraçar o momento e realmente absorver tudo ? disse ela.
Fonte: O Globo