Para vencer sempre, às vezes não é possível vencer do mesmo jeito. Essa tem sido a marca registrada do Flamengo de Renato Gaúcho. Quando tem força máxima à disposição, o time exibe supremacia técnica e atropela adversários. Quando precisa rodar o elenco em função de desfalques, o técnico se adapta, reconfigura um pouco o DNA de uma equipe implacável, em prol do resultado. Foi assim que veio mais uma vitória sobre o Palmeiras, fora de casa, com direito a torcedor ilustre, o novo reforço David Luiz, que acompanhou a partida em São Paulo e será apresentado nesta segunda no Rio.
Há nove jogos o Palmeiras não vence o Flamengo, que não permite que o líder Atlético-MG se distancie na tabela do Brasileiro. Na terceira posição, o rubro-negro tem 34 pontos, com dois jogos a menos, contra 42 dos mineiros. O Palmeiras tem 35, na vice-liderança.
A virada no placar que terminou em 3 a 1 mostrou novamente como o Flamengo sem suas principais peças consegue criar outras soluções. E Michael, autor de dois golaços, tem ficado marcado por esse estilo de jogo mais reativo quando necessário. No primeiro gol, aproveitou com uma cabeçada estilosa a boa jogada de Éverton Ribeiro. No fim, já com o Flamengo recuado, teve campo para fazer o que sabe melhor. Arrancar, cortar o adversário e marcar.
O jogo ainda teve o gol de cabeça de Pedro, após escanteio cobrado por Vitinho. A bola parada foi alternativa quando o Palmeiras estava melhor no jogo, já no segundo tempo. A etapa inicial de maior equilíbrio se deu enquanto Arrascaeta esteve em campo. O uruguaio, que se somou aos desfalques importantes, saiu de campo lesionado aos 22 minutos. Antes disso, iniciou a jogada com Éverton Ribeiro, outro que voltou de seleção, e deu passe para Michael empatar.
O primeiro gol do Flamengo surgiu logo após o do Palmeiras, que explorou exatamente o mesmo espaço que o rival usou em seu terceiro gol. Quando o goleiro Weverton repôs a bola para Dudu na ponta esquerda, o meia deu passe em profundidade para Wesley. O jogador superou Isla, entrou na área, e acertou o canto, enquanto o miolo da zaga do Flamengo, que estava mais adiantada, ainda tentava se reposicionar.
Ou seja, quando tentou jogar com as peças que tinha no campo do adversário, o Flamengo encontrou problemas. No meio-campo ao lado de Ribeiro e Arrascaeta, Andreas Pereira fazia a estreia como titular ainda sem a intensidade necessária. Os donos da casa dividiam a posse de bola e espetavam seus atacantes nas costas dos defensores e laterais.
Mas o fato é que depois do gol de empate, o Flamengo não sofreu tanto defensivamente. Embora não tenha conseguido também criar situações de perigo no primeiro tempo. Com Vitinho no lugar de Arrascaeta, o jogo ficou amarrado até o segundo tempo. O atacante conseguiu uma finalização de perigo apenas, que passou rente à trave.
Na etapa final, as investidas do Palmeiras foram bem cortadas por Bruno Viana e Gustavo Henrique, com participação de Willian Arão e atuação segura de Ramon. Não dá para dizer que o Flamengo voltou disposto a jogar pelo empate, mas o Palmeiras avançou para tentar a vitória com Scarpa na vaga de Raphael Veiga. O meia deixou a equipe no campo de ataque nos minutos de pressão inicial, mas foi o Flamengo que marcou o gol.
Recuar para vencer
Nas substituições em seguida, os dois treinadores apresentaram as cartas que tinham para vencer. Abel Ferreira chamou Patrick de Paula, Luiz Adriano e Breno Lopes, saíram Danilo, Rony e Wesley. Em seguida, tirou o lateral-esquerdo Piquerez e colocou mais um atacante, Willian. O apetite foi semelhante ao do Grêmio sobre o Flamengo na Copa do Brasil.
Renato respondeu primeiro com Thiago Maia no lugar de Éverton Ribeiro. Dez minutos depois, trocou Isla, Pedro e Andreas por Matheuzinho, Rodinei e Gomes. O Flamengo ficou com Vitinho e Michael no ataque preparado para contragolpear na força dos volantes e laterais. Depois de uma arrancada em campo aberto frustrada por Rodinei pela direita e de João Gomes pela esquerda, Michael foi lançado por Vitinho mais livre. Teve apenas um adversário para ultrapassar e tocar no canto, aos 35 minutos.
A virada estava estabelecida com uma equipe em campo totalmente modificada. Não apenas as peças, mas a forma de jogar. E esse poder de adaptação deu resultado. Não dá para dizer que o Flamengo jogou bem ou fez uma grande apresentação, mas encontrou a maneira de vencer quando não podia exibir o que tinha de melhor em termos conceituais.
Fonte: O Globo