Depois de sete etapas em uma temporada acidentada devido à pandemia, com cancelamentos de eventos, incluindo o de Saquarema, chegou a hora do circuito mundial de surfe consagrar seu campeão. E será muito difícil que, ao fim de um dia de disputas em Trestles, na Califórnia, a bandeira brasileira não esteja tremulando mais alto.
O Brasil conquistou os títulos nas duas últimas temporadas, com Gabriela Medina, em 2018, e Italo Ferreira, em 2019. O circuito de 2020 foi cancelado devido à pandemia de Covid.
Em mais um ano de domínio da “brazilian storm? ? que teve ao menos um integrante em todas as sete finais de etapas ?, Medina, Italo e Filipe Toledo terminaram o ranking nas três primeiras posições. No formato regular, Medina já teria sido coroado, até com antecedência, o campeão, mas a World Surf League (WSL) decidiu, a partir deste ano, zerar tudo e realizar um evento decisivo com os cinco primeiros do circuito, no masculino e no feminino, para decidir o campeão.
Raio-X do Mundial feminino:veja como as finalistas chegam a Trestles
Número 1 do ranking, Medina assistirá de camarote aos duelos de mata-mata anteriores (confira na arte ao lado a ordem das baterias) e enfrentará o vencedor do duelo entre Italo Ferreira (número 2 na temporada) e um surfista que pode ser Filipe Toledo, Morgan Cibilic ou Conner Coffin. Uma leve vantagem, mas que não apaga a sensação de injustiça para o bicampeão mundial (2014 e 2018), que já havia criticado o novo formato antes mesmo do início da temporada.
? É difícil. Não é justo. mas se eu ficar pensando… Prefiro treinar, trabalhar, chegar e performar. Na minha cabeça, aceitei, bola pra frente ? disse Medina, resignado, em entrevista ao GLOBO por telefone.
? Não sou muito a favor deste formato. É difícil, o cara tem um ano super constante, como o Gabriel, e pode talvez perder o título. Acho um pouco injusto ? diz o surfista catarinense Alejo Muniz, 31 anos, integrante da elite mundial por seis temporadas.
Entrevista: Tatiana Weston-Webb fala sobre chance de título inédito
O ano de Medina foi, de fato, impressionante, com cinco finais nas sete etapas, incluindo duas vitórias em Narrabeen e Rottnest, na Austrália. Filipe Toledo venceu outras duas etapas, e Italo ganhou uma, além do ouro olímpico em Tóquio.
? É muito difícil apontar um favorito, principalmente entre os brasileiros. O Filipinho talvez não tenha feito um ano tão forte, mas se fosse ter que escolher um favorito, seria ele. Mora lá, surfa bastante essa onda, fora o talento que ele tem ? aponta Alejo.
Bom desempenho
Filipe Toledo tem, de fato, o melhor desempenho em Trestles entre os cinco finalistas (o australiano Morgan Cibilic, estreante no circuito, nunca competiu lá). Em 22 baterias no local, Filipe venceu 16, com uma pontuação média altíssima de 16,31. Ele foi campeão na última etapa lá disputada, em 2017, e em outras duas oportunidades parou na semifinal na praia californiana, que tem uma onda considerada de “alta performance?, perfeita para todos os tipos de manobras e muitas vezes comparada pelos surfistas a uma pista de skate.
? O Filipe conhece muito bem a onda, mora aqui, já ganhou ? elogia Medina, que tem uma vitória na praia em 2012, mas em evento da divisão de acesso. No WCT, o mais longe que alcançou foi a semifinal de 2015.
Conhecido pelo seu surfe moderno, o campeão olímpico Italo Ferreira disputou apenas três etapas do WCT na praia californiana, sem conseguir bons resultados. Avançou no máximo até as oitavas.
Trestles tem, ainda, um valor sentimental, pode-se dizer, para o surfe brasileiro. Foi lá que nasceu o termo “brazilian storm?, em um evento do Qualifying Series, em 2011, dominado pelos brasileiros, em que um locutor local falou sobre a tal tempestade que, mal sabia ele, chegaria para ficar.
O período para realização do evento, que deve ser encerrado em apenas um dia, começa nesta quinta-feira e vai até o próximo dia 17, sempre com a chamada a partir das 11h (de Brasília, com transmissão Fox Sports). A previsão aponta boas ondas especialmente a partir do domingo.
? Estou ansioso só de saber que vai ter altas ondas ? revela Medina.
Fonte: O Globo