Palco de manifestações, paixões e debates em tempo de pandemia e convívio reduzido, as redes sociais ganharam papel crucial de termômetro dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Em postagens de Twitter, stories no Instagram e vídeos no TikTok, ídolos se popularizaram, momentos se eternizaram e histórias foram contadas. Como resultado, os atletas brasileiros colhem frutos positivos: veem crescimento em suas redes sociais, abrindo portas de visibilidade e reconhecimento.

Os medalhistas chegaram a crescer mais de 3.000% no número de seguidores no Instagram de julho até aqui, segundo levantamento da empresa de marketing de influência Spark, via ferramenta Tagger Media. A ginasta Rebeca Andrade, ouro no salto e prata no individual geral, é um dos casos de maior sucesso: pulou de 235 mil seguidores no Instagram para mais de 2,5 milhões, crescimento de 976%.

Rayssa Leal: ‘Minha vida mudou por completo’

? Foi extraordinário, não imaginava que ganharia tantos seguidores. Quando vi, pensei “meu Deus, quanta gente! Como vou conseguir responder todo mundo, interagir com tanta gente?? É um reconhecimento do meu trabalho, do meu esforço, um carinho das pessoas que ficaram felizes em me ver competindo, com as medalhas. Não foi um susto, foi uma coisa muito boa e um sentimento muito bom ? diz a atleta de 22 anos.

 

Com o sucesso, Rebeca, assim como vários outros atletas, já vem participando de campanhas publicitárias nas redes. No TikTok, aplicativo de vídeos que faz sucesso entre o público jovem, são 1,7 milhões de seguidores. Ela diz que tem conseguido equilibrar bem o tempo entre a vida de atleta e os novos compromissos trazidos pelo mundo digital.

? É um pouco mais cansativo, sim. Antes o meu tempo era só para treinos, e hoje tenho outros projetos também. Mas quando preciso desligar, descansar mais, eu combino com a minha equipe. Não posso comprometer meu treino nem meu rendimento, procuro conciliar da melhor maneira e tenho conseguido fazer isso sem atrapalhar o esporte e nem o meu descanso.

Fora da curva

A Olimpíada “revelou? para o mundo digital nomes como Douglas Souza e a “Fadinha? Rayssa Leal. O atleta do vôlei cativou o público com stories espontâneos e divertidos, chegando a mais de 3 milhões de seguidores. A skatista de 13 anos, mais jovem medalhista brasileira, chegou a criar uma conta no Twitter em meio aos Jogos, tamanho o sucesso. Hoje ela tem quase 7 milhões de seguidores no Instagram, maior número entre os medalhistas. A dupla segue muito visada pelo mercado publicitário.

?Foram números que trouxeram atenção, um movimento fora da curva. Além dos feitos, junta-se questões como história de vida, carisma e a televisão, janela que constrói muito bem com o digital ? analisa Raphael Pinho, CEO da Spark.

Para Luiz Paulo Moura, coordenador do Curso de Gestão de Entretenimento e Marketing no Esporte da PUC-Rio, o esporte é um conteúdo nobre, que detém a característica da emoção. Para ele, o “vácuo? de uma agenda positiva em meio à pandemia pode ter ajudado no crescimento exponencial nos números dos atletas, mas a presença cada vez maior das redes no dia a dia do brasileiro tornou o fenômeno iminente, e passível de extensão para além do período de competição.

? Cada vez mais existirá uma ligação entre os grandes eventos, grandes picos de audiência, mas as histórias vão continuar sendo contadas até o próximo ciclo ? avalia o especialista.

Ajuda com volume de mensagens

Uma dessas histórias é a de Laura Pigossi e Luisa Stefani, dupla do tênis que cativou o público. Classificadas de última hora a Tóquio, brilharam nas duplas e garantiram a primeira medalha brasileira no esporte. De quebra, quase quadruplicaram os seguidores.

? Minha mãe me ajudou a planejar um pouco o uso e me deu um suporte gigante ajudando a separar as mensagens em categorias, para que ficasse mais fácil essa interação e para eu conseguir responder o maior número de pessoas. Gosto bastante dessa troca, sempre gostei de levar a conta eu mesma ? diz Pigossi.

A atleta admite que se conectou mais após os Jogos, mas encontrou um balanço após tirar um tempo para si mesma. Em agosto, chegou até a ser hackeada, mas conseguiu recuperar sua conta. Agora, comemora a visibilidade.

? Bastante gente me reconhece, pede foto. Quanto a patrocínios, estamos indo aos poucos, tenho uma medalha de bronze, mas como não estou entre as 100 melhores (no circuito da WTA), fica mais complicado ? brinca.