O desfile das delegações, parte fundamental da cerimônia de abertura da Paralimpíada de Tóquio, marcada para 7h50 (de Brasília), será iniciado com aquela que é a principal novidade do evento. Com a bandeira do comitê internacional levantada, seis atletas representarão a equipe de refugiados. Num universo que já tem a superação como elemento básico, sua presença à frente dos 162 países reforça a mensagem que os Jogos procuram passar.

? Estamos aqui representando as pessoas de todo o mundo que são refugiadas. Por isso, todos nós temos trabalhado muito para enviar uma mensagem de esperança e fazer com que esta equipe mostre isso ? afirmou Ileana Rodriguez, chefe de missão da equipe na capital japonesa.

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Aqueles com memória mais aguçada irão se lembrar que, há cinco anos, dois refugiados disputaram a Rio-2016. Naquela edição, contudo, eles participaram como atletas independentes. Agora, cresceram em número e, principalmente, em representatividade, ao ganharem status de delegação, assim como já ocorre nos Jogos Olímpicos desde a edição brasileira.

Este movimento acompanha a evolução das Paralimpíadas, que chegam ao Japão com recorde de participantes (4.537) e de nações. Na comparação com a primeira edição (Roma-1960), o salto é de 1.034% no número de atletas e de 604% no de delegações.

Editoria de arte Foto: O Globo
Editoria de arte Foto: O Globo

O sexteto não representa um país específico, mas os mais de 82 milhões que se viram obrigados a deixar suas terras em todo o mundo. Destes, estima-se que 12 milhões tenham algum tipo de deficiência.

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Os conflitos armados, naturalmente, são uma das causas. Aos 8 anos, o hoje lutador de taekwondo Parfait Hakizimana viu a mãe ser morta por rebeldes durante a Guerra Civil do Burundi, na África Oriental, e ainda teve os movimentos do braço esquerdo comprometidos definitivamente após levar um tiro.

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Importante lembrar que suas trajetórias não são definidas apenas por dramas, mas também pela determinação e, no caso de Hakiziman, pela solidariedade. Morando num campo de refugiados em Ruanda desde 2015, ele abriu uma escola de taekwondo no local e deu aula para mais de mil crianças.

? Os esportes me ajudaram a superar a dor que passei ? contou em depoimento à agência para refugiados das Nações Unidas.

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A equipe de refugiados conta com um afegão, o nadador Abbas Karimi. Nascido sem os braços, ele deixou o país em 2013. Vive nos Estados Unidos desde 2016. Hoje, cerca de três milhões de pessoas nascidas no país árabe estão longe de sua terra. E a tendência é que este número cresça ainda mais com a retomada do grupo Talibã ao poder. Na coletiva de imprensa de apresentação da delegação, ontem, o momento atual foi abordado.

? Estou certa que esses atletas irão dar tudo o que tem durante esses Jogos para apoiar os refugiados lá fora e fazer que eles sintam esperança, e a mesma mensagem vai para as pessoas do Afeganistão, com certeza ? completou Ileana Rodriguez.

A equipe de refugiados é formada também com o iraniano Shahrad Nasajpour, do lançamento de disco, e o sírio Ibrahim Al Hussein, da natação. Os dois estiveram na Rio-2016 como atletas independentes.

O grupo é fechado pelos também sírios Anas Al Khalifa, da canoagem, e Alia Issa, do lançamento de club, destinado a pessoas com paralisia cerebral. Ela será a primeira mulher a participar do time paralímpico de refugiados.

? Quero compartilhar com as mulheres com deficiências: não fiquem em casa. Tentem todos os dias ir para fora com o esporte.

As primeiras competições serão disputadas nesta terça à noite. O Brasil estreia às 21h (de Brasília) com a equipe de Goalball masculino (contra a Lituânia) e as eliminatórias da natação.