O Vasco vive um aniversário dos mais melancólicos de sua história. No sábado em que o clube comemorava 123 anos, torcedores foram a São Januário protestar pelos resultados ruins em campo na Série B. Se havia algum resquício de otimismo por uma virada, ele se esvaiu esta noite, em Ponta Grossa: o cruz-maltino voltou a se perder em erros individuais e saiu derrotado por 2 a 0 pelo Operário.

Na saída de campo após a terceira derrota seguida, a terceira com pelo menos dois gols sofridos, o volante Andrey desabafou. Criado na base do Vasco, o jogador falou em “vergonha na cara”e desrespeito. “Temos de ser duros com nós mesmos”, bradou. O forte sentimento depositado na fala, excessos à parte, revela que os jogadores, em sua maioria, sentem o peso da má fase. Se por vezes existe um aceno de parte da torcida a clichês de arquibancada como falta de compromisso, “raça” ou vontade, esse não parece ser o caso do cruz-maltino.

? Temos de ter senso que está uma m…, uma bosta. Se não mudar, vamos continuar na Série B. A pressão é enorme. O Vasco é gigante. Temos de reverter. O lugar do Vasco é na Série A. Sentimento de m… de estar aqui falando e desrespeitando a torcida do Vasco. Pode falar de mim, pode reclamar. Desculpa torcida, mas eu vou dar a cara. O Vasco não merece isso. Eu sou um representante da torcida em campo e vou junto com meus companheiros tentar mudar isso ? disse o volante, sem economizar nas palavras.

Quem assistiu o começo do primeiro tempo, viu um Vasco disposto a reverter o gosto amargo deixado pela virada do Londrina. Cano, que vive uma das piores fases desde que chegou a São Januário, chegou perto de marcar duas vezes, uma já no primeiro lance e outra em uma cabeçada que, por capricho do destino, passou a centímetros do gol de Simão.

Poucos minutos depois, a decepção voltou a dar as caras: Marquinhos Gabriel perdeu para Djalma na defesa, que cruzou para Marcelo marcar. Logo depois, Marcelo arricou de fora da área, a bola desviou em Ricardo Graça, no travessão e matou Vanderlei e a defesa na jogada. Paulo Sérgio conferiu para as redes e abalou ainda mais time e torcedores, em um momento em que nada parece dar certo. Na melhor chance dos cariocas, em cobrança de falta de Marquinhos e Zeca no segundo tempo, mais um soco emocional: o goleiro do Operário fez um milagre, desviando a bola para a trave. A partir dali, a equipe de Lisca pouco produziu de forma clara.

Nervosismo, falhas individuais, falta de sorte e instabilidade emocional são peças de um efeito dominó presente na maior parte das crises no futebol brasileiro. No caso do cruz-maltino, que vive a sua quarta Série B na história, se vê longe do acesso e, como de costume, enfrenta urgências financeiras e um caldeirão político, tudo isso ao mesmo tempo, o sofrimento é amplificado.

É fácil dizer que a solução é colocar a bola na rede, mas não há explicações mais complexas que esta, dada a disparidade, no papel, do Vasco para seus adversários na Segundona. Problemas do clube à parte, é só voltando a marcar com mais frequência que a confiança começará a retornar e lances como o segundo gol dos paranaenses, neste sábado, abalarão menos o time em campo.

Em sua coletiva de imprensa, Lisca sinalizou que conversará com a diretoria. O técnico, que por vezes parecia esgotado à beira de campo durante a sequência de derrotas, tem poucas opções para tentar virar o cenário: pode tentar uma abordagem mais reativa, ou mexer nas suas peças, como fez na segunda etapa, com ligeira melhora no desempenho da equipe em campo. Mas parece buscar mudanças mais profundas: medidas internas e reforços são possibilidades e deverão ser cobradas pelo gaúcho em uma semana livre de trabalho.

Do campo, representado por Andrey, à arquibancada (nos tempos atuais, as casas dos torcedores), a noite de sábado reforça que ninguém quer viver para sempre em um pesadelo. Como os bons sonhos, uma hora eles acabam. Mas o Vasco precisa sair de forma urgente de uma noite longa e turbulenta, como viveu tantas vezes nos últimos 20 anos.