A discussão sobre domínio brasileiro e argentino na Copa Libertadores ? há três anos que apenas equipes desses dois países chegam à semifinal da competição ? pode evoluir do oligopólio para o monopólio. Dependendo dos resultados das partidas de volta das quartas de final ? o primeiro jogo decisivo acontece nesta terça-feira, às 21h30, entre Palmeiras e São Paulo, no Allianz Parque ?, o principal torneio de clubes do continente terá quatro de um mesmo país entre os semifinalistas. Bom para o futebol brasileiro, a curto prazo, ruim para o sul-americano em geral, se isso se tornar frequente.

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A hegemonia de um sobre todos os outros vai contra um dos elementos fundamentais do esporte competitivo: a imprevisibilidade do resultado. Isso é o que defende Fernando Trevisan, diretor da Trevisan Escola de Negócios. Para ele, a Libertadores corre o risco de perder o que a diferencia de outras competições de futebol pelo mundo, como as ligas nacionais europeias e a própria Champions. Os outros jogos dos brasileiros são entre Flamengo e Olimpia (PAR), Fluminense e Barcelona (EQU) e Atlético-MG e River Plate (ARG).

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? Quando aumenta a dominância de brasileiros e argentinos, já acende o sinal de alerta ? afirma: ? Um cenário previsível pode dificultar a vinda de torcedores mais jovens, que têm à disposição outras alternativas de entretenimento e lazer.

Manter a Libertadores mais plural até suas fases mais decisivas perdeu força ao longo dos anos. Nos anos 1990, os times de um mesmo país ficavam no mesmo grupo e, caso ambos passassem para as oitavas, o pior classificado enfrentava o campeão mais recente, se ele fosse do mesmo país.

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Nos anos 2000, após duas finais brasileiras, a Conmebol decidiu que, se dois times do mesmo país chegassem à semifinal, eles teriam de se enfrentar na fase, abrindo espaço para uma terceira equipe, de país diferente, chegar à decisão.

Atualmente, não há mecanismos para minimizar o domínio de clubes de um determinado país e não deve mudar nada neste sentido a curto prazo. Sem maiores regulações, os resultados seguem o lastro do dinheiro. E ninguém na América do Sul chega perto do poderio financeiro de brasileiros e da dupla argentina Boca Juniors e River Plate.

? Esse domínio brasileiro é um cenário que se desenha cada vez com mais força, a medida que você tem clubes com solidez financeira montando bons elencos. Mas temos de pensar que pode mudar porque certamente está causando desconforto, especialmente nos argentinos ? afirmou o comentarista Paulo César Vasconcellos.

Fluminense tem missão mais difícil

Ao menos um time brasileiro já está garantido na semifinal da Libertadores: quem se classificar no duelo entre Palmeiras e São Paulo. Com o empate em 1 a 1 na partida de ida, no Morumbi, o alviverde joga hoje por um 0 a 0.

Para que a semifinal inédita da Libertadores, com quatro equipes de um mesmo país, aconteça, é preciso também que os brasileiros levem a melhor nas outras três partidas das quartas de final. O Flamengo, que venceu o primeiro jogo contra o Olimpia por 4 a 1, tem a classificação bem encaminhada. O Atlético-MG bateu o River Plate por1 a 0, na Argentina, e joga a volta com a vantagem do empate, em casa. O cenário mais complicado é o do Fluminense, que empatou com o Barcelona em 2 a 2, no Maracanã, e terá de vencer no Equador (ou igualdade a partir de 3 a 3) para chegar entre os quatro melhores.

? É possível, o Fluminense voltar do Equador classificado, sim. Até porque existem dois Fluminenses: um que, ofensivamente, vai muito mal no Brasileiro, e outro que, na Libertadores, vai bem no ataque. A equipe passa por instabilidade atualmente por erros individuais, mas acredito na classificação. Até porque, em um passado recente, dentro da própria Libertadores, o time foi muito bem fora de casa – afirmou PC Vasconcellos.