A história de Gerd Muller como lendário jogador do futebol alemão foi de reviravoltas. Morto aos 75 anos neste domingo, após lutar contra o Alzheimer, o jogador chegou sob desconfiança ao clube bávaro na década de 60. A princípio, o técnico da equipe não achava seu físico adequado para um jogador de futebol.

“O que você quer que eu faça com um garoto que levanta peso?”, disse o técnico croata Zlatko ?ajkovski, quando conheceu o jogador, em 1964, declaração que virou parte da lenda do atacante. Dos seus 1,76m de altura, considerados baixos para um atacante na época, Muller chamava atenção por ter um tronco largo, mas pernas curtas. As pernas bombardeariam bolas para as redes nos anos seguintes.

Na época, o Bayern passava longe de ser o gigante que é atualmente. Havia vencido o Campeonato Alemão uma única vez, em 1932, e estava disputando a segunda divisão nacional. A chegada do jovem de 19, nascido numa Nordlingen ainda ocupada pelos Aliados após a queda da Alemanha de Adolf Hitler e destaque como artilheiro do clube local, mudou para sempre a história dos bávaros.

 

A desconfiança  de Cajkovski no “baixinho e gordinho” logo deu lugar a quase uma dependência. Era muito difícil jogar sem Muller, um atacante moderno para a época, que se movimentava com uma facilidade pouco vista no futebol alemão e tornou-se um especialista na pequena área. As pernas curtas logo ganharam força muscular e o poder de fogo que lhe rendeu a artilharia do campeonato em sete edições e o apelido de “bombardeiro”.

Desde a chegada do atacante, o Bayern só cresceu. Em time que tinha outras lendas como o zagueiro Franz Beckenbauer e o goleiro Sepp Maier, o clube garantiu o acesso já em 1965 e nunca mais chegou perto da Segundona. O time de Muller empilhou títulos: foi campeão da elite em 1969 e depois tricampeão entre 1972 e 1974. Durante a passagem do atacante, vieram também três dos seis títulos europeus do clube. Foram 566 gols em 607 partidas de Muller.

? Gerd Muller é a origem. Na minha opinião, o jogador mais importante da história do Bayern. Às vezes, as pessoas classificam os jogadores como “o mais valioso”. Esse era era ele, Gerd era o jogador mais valioso. Também o mais importante ? resumiu Beckenbauer, em novembro do ano passado.

A história de Muller pelo Bayern não passou em branco quando o jogador se aposentou e enfrentou problemas com alcoolismo e depressão. No pior momento da vida, o clube estendeu a mão para seu ídolo: o ex-atacante foi convidado a trabalhar no futebol, superou as dificuldades e refez sua vida a partir dali. Muller foi olheiro, auxiliar técnico e técnico do time reserva até ter que deixar o esporte de vez em batalha contra o mal de Alzheimer. Sua última aparição pública foi em 2013.

? O Bayern sempre vai auxiliar Gerd Muller e sua família, sempre que for necessário ? garantiu o ex-CEO do clube, Karl-Heinz Rummenigge, em 2015, quando o clube anunciou seu diagnóstico com a doença.