Alvo de acalorados debates e polêmicas sem fim, a entrada de investidores milionários em clubes de futebol das principais ligas europeias, no início dos anos 2010, mudou o jogo, o mercado e o cenário competitivo. Clubes como Chelsea, PSG e Manchester City, equipes levemente relevantes em suas ligas, mas longe do patamar dos abocanhadores de taças, galgaram espaço e passaram a dar as cartas no continente.
Mansur: Messi, o espetáculo e a integridade do jogo
Em um cenário de finanças combalidas pela ausência de público e pandemia da Covid-19, as mudanças de clube de Messi (PSG), Lukaku (Chelsea) e Jack Grealish (City), que movimentaram cifras milionárias no atual mercado de transferências, apimentam as rivalidades entre os “novos ricos? e os tradicionais gigantes europeus na temporada que se inicia neste fim de semana.
Ironicamente, a maior operação da janela e do ano não envolveu custos ? ao menos de transferência. Lionel Messi escreveu um novo capítulo ao trocar de clube pela primeira vez na carreira. Deixou o tradicional Barcelona, cada vez mais enrolado em suas pendências financeiras, somadas ao fair play financeiro (apontado, indiretamente, como principal razão para sua saída) para se juntar ao PSG. O qatari Nassel Al-Khelaifi, presidente do clube, tenta segurar Mbappé para, com Neymar, ostentar um trio de ataque sem comparação com qualquer outro no continente. O investimento de 35 milhões de euros (R$ 214 milhões) anuais no salário de argentino é um retrato da obsessão do dirigente e do clube pela conquista da Champions League, que bateu na trave na temporada 2019/2020.
O PSG se recupera do baque de ter ficado sem o título do último Campeonato Francês. Pagou 60 milhões de euros em Hakimi e fez grandes contratações sem pagar taxas de transferências: o goleiro Donnaruma, o meia Holandês Wijnaldum e o experiente zagueiro Sergio Ramos. A Ligue 1 começou no último sábado para o clube de Paris. Dos três, só Wijnaldum foi relacionado e atuou no jogo de estreia, a vitória por 1 a 0 sobre o Troyes ? Messi deve jogar a partir de setembro. Caberá a Mauricio Pochettino encontrar o melhor encaixe para essa equipe.
Sonho de Guardiola
Quem conseguiu lidar com uma tarefa parecida foi Thomas Tuchel. Demitido do PSG, o alemão segurou uma bomba no Chelsea que derrubou até mesmo o ídolo Frank Lampard. O sonhado bicampeonato da Champions sobre o rival local Manchester City salvou um investimento de 222 milhões de libras (R$ 1,6 bilhão) em um pacotão de reforços com Ziyech, Havertz, Werner, Emerson Palmieri e Chilwelll. Como “prêmio? pelo sucesso, receberá Lukaku.
Bastidores:Neymar ligou e mandou mensagens a Messi para convencê-lo a jogar no PSG
O centroavante, revelado às avessas pelo Chelsea ? após dois empréstimos e uma venda ao Everton ?, tornou-se o atleta que mais movimentou dinheiro na história do futebol ao acertar sua volta a Londres por 115 milhões de euros: chegou a 342 milhões , contra 317 milhões de Neymar. Transferência recorde no futebol italiano e quantia valiosa para os cofres combalidos da Inter. É mais um investimento de peso municiado pelo bilionário russo Roman Abramovich.
A vultuosa contratação compete diretamente com os planos do City. Também financiado por bilionários, só que dos Emirados Árabes, os citizens dividem com o PSG a obsessão pela Champions. Com Guardiola, dominaram o cenário doméstico, mas bateram na trave contra os Blues em maio.
Adeus?Mesmo com Messi, Mbappé pode deixar o PSG ainda nesta janela, diz jornal
Para esta temporada, preencheu lacunas e movimentaram o mercado com um dos principais destaques da Inglaterra vice-campeã da Euro: o meia-atacante Jack Grealish foi convencido a deixar o Aston Villa em negócio que envolveu alguns singelos milhões de euros a mais que Lukaku: 117,5 milhões. Guardiola ainda sonha com o centroavante e capitão inglês Harry Kane, negócio que exigiria cifras ainda mais altas. O artilheiro até está disposto a mudar de ares ? chegou a faltar a treinos do Tottenham ? , mas os Spurs fazem jogo duro.
Tanto dinheiro contrasta com a realidade vivida por clubes que dominaram o futebol ao longo das últimas décadas. É o caso do Barcelona. Sem Messi e com problemas financeiros e contábeis, Ronald Koeman tenta reconstruir o time catalão. Os culés garantiram bons talentos com Eric García e Depay, mas as condições físicas de Agüero levantam mais perguntas do que empolgam.
Rivais em reconstrução
O caminho do Barça deve ser olhar mais para as categorias de base, assim como o Real Madrid. Depois de perder Ramos e Varane ? foi ao Manchester United ?, Carlo Ancelotti ganhou Alaba, em boa contratação a custo zero, mas precisará apertar os cintos em meio a uma custosa reforma do Santiago Bernabéu e o frustrado plano da Superliga. A equipe ainda sonha com Mbappé, mas não deve fazer grandes investimentos. O rival Atletico de Madrid, atual campeão, larga como favorito.
Entenda:Por que o PSG pode pagar por Messi e o Barcelona não?
Outro gigante prejudicado pelo cenário global, a Juventus manteve a base e Cristiano Ronaldo, agora com a volta de Massimiliano Allegri, comandante de cinco dos últimos nove títulos italianos. A energia do treinador é uma aposta para um Calcio que anda sem poder de fogo. O modesto mercado do Milan ? que trouxe Giroud e Maignan ? e a partida do técnico Antonio Conte da atual campeã Internazionale, em corte de custos, mostram isso.
Um ponto fora da curva entre os tradicionais é o Bayern de Munique, reforçado por Upamecano, favorito ao 10º título da Bundesliga seguido.
Fonte: O Globo