Quem assistiu às últimas temporadas de Lionel Messi, seja no Barcelona ou na seleção argentina, sabe que “La Pulga”, apelido baseado na velocidade e explosão do baixinho argentino, já não o resume tão bem. Aos 34 anos e mais próximo do fim da carreira do que do início, o craque argentino refinou seu jogo para uma abordagem mais cerebral e de eficiência. No PSG, sua entrada cria um dilema em relação ao papel de Neymar e tende a facilitar ainda mais a vida de Mbappé.

Nas grandes partidas dos franceses na Champions League da última temporada, Neymar tinha uma função perceptível até aos olhos menos treinados. Jogando atrás de Mbappé, o brasileiro flutuava pelo meio, tentava encontrar espaços e recebia as bolas recuperadas pelos volantes do PSG para iniciar jogadas de contra-ataque, seja com a capacidade de drible ou com as tabelas e trocas de posição rápidas com o francês. A ideia de Neymar como um playmaker, um criador de jogadas, já havia sido introduzida com Thomas Tuchel e foi reaproveitada por Mauricio Pochettino.

Mbappé e Neymar se revezam no ataque Foto: CHRISTIAN HARTMANN / Reuters
Mbappé e Neymar se revezam no ataque Foto: CHRISTIAN HARTMANN / Reuters

 

O grande dilema do técnico argentino se dá pelo atual jogo de Messi. No Barcelona, seu compatriota fazia uma função muito semelhante com a do brasileiro, embora atuando um pouco mais perto da área. Messi recebe de frente para o gol, dribla e finaliza as jogadas com um passe ou um chute. Nem Ney, nem Messi possuem grandes responsabilidades de marcação fazendo tais funções.

Isso cria um problema de intensidade. É possível, mas pouco recomendado para uma equipe que quer atingir um nível tão alto, manter dois jogadores sem responsabilidade de, pelo menos, integrar a recomposição no meio. Nesse cenário, é natural pensar que Neymar, pela menor idade, seja deslocado de volta à ponta esquerda, sua posição natural, ou passe a atuar ainda mais perto do gol.

ney2 - Champions League - Football tactics and formations

 

Nada impede, porém, que Poch faça o contrário: Messi próximo ao gol (como faz muito bem na Argentina) e Neymar mantido no meio. Há ainda a possibilidade de deslocar Messi para a ponta direita, o que parece improvável, já que o PSG tem boas para os lados do ataque, com Di María e Draxler.

 

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Entre as várias opções exploráveis pelo técnico, há a possibilidade até de encaixar Neymar como ponta-esquerda e Messi como ponta-direita. Um esquema que exigiria muito do físico da dupla, mas que, contra adversários mais fracos, pode tirar o melhor das características dos craques.

 

Seja qual for a escolha do técnico, a tendência é que a dupla, que marcou época no Barça ao lado de Luis Suárez, se beneficie da presença um do outro em campo. Messi e Neymar são jogadores que precisam de pouco espaço para encontrar bons ataques e tirar coelhos da cartola. Naturalmente, atraem mais marcadores. Tirar marcadores de seu posicionamento, especialmente próximo à grande área, é criar o cenário propício para que um dos dois brilhe. No Barça, foram 232 gols e 119 assistências em 162 partidas em que os dois estiveram juntos em campo.

E Mbappé?

Com um ano de contrato restante com o PSG, o francês não é presença garantida na temporada, em meio a interesse do Real Madrid. Se ficar, pode experimentar um cenário que não teve nem em seus jogos mais afinados com Ney.

O jogador de 22 anos tem como uma de suas especialidades a infiltração nas costas do último defensor. Se pelo menos um de seus companheiros de ataque estiver em uma noite boa, encontrará ainda mais espaço para aproveitar sua velocidade.

Assim como um grande finalizador, goleador e driblador, Messi é tambem um tremendo garçom ? na última temporada, deu 14 assistências em 37 jogos. Se Kylian se entender com o argentino, seus estilos de jogo, aparentemente complementares, podem levar o jovem ainda mais longe. Quem sabe, para a quarta artilharia seguida do Campeonato Francês.