TÓQUIO e RIO ? O skatista brasileiro Pedro Barros, que subiu ao pódio nesta quinta-feira, nos Jogos de Tóquio, é o retrato da entrada do esporte no programa olímpico. Uma mistura, às vezes confusa, de competição ferrenha por medalha e clima “paz e amor”, algo raro quando se entra em campo, quadra, piscina para ganhar. Não foram poucas as vezes em que se perguntou se o skate ? e seu lifestyle ? teria perfil para fazer parte de uma competição “tradicional”. Desde o início da Olimpíada, os atletas bateram na mesma tecla: a de que, na modalidade, a rivalidade fica à margem e o importante mesmo é mostrar o seu “rolê”. Medalhista de prata na modalidade park, Pedro Barros resumiu esse sentimento ao comemorar seu pódio:

? Essa medalha foi simplesmente um detalhe, um souvenir. Essa experiência que a gente leva para a vida é muito maior e muito melhor do que qualquer objeto material. Essa medalha aqui não deixa de ser um objeto material, expectativas que as pessoas criam. Mas o olímpo é a harmonia, o amor que eu tenho pela minha família, o amor que tenho por quem está do meu lado, pelo skate, pela terra, pelo mundo. É a vontade de tentar ser um ser humano melhor no dia a dia e a esperança de ver um amanhã melhor.

Perfil:  Conheça Pedro Barros, o medalhista de prata no skate que já disputou prêmio com Phelps e Bolt

O discurso bicho grilo apareceu diversas vezes nas entrevistas do skate olímpico. Os atletas tentaram explicar que o importante para eles “era o rolê” e não a competição, a rivalidade, o “ou eu ou ele”. Para Barros, o incrível de estar em Tóquio é vivenciar “essa história, quase uma história que você vê em contos de fadas. Todos esses atletas competindo entre si, mas na verdade apenas torcendo uns pelos outros e querendo o melhor um para o outro, se abraçando, compartilhando amor”.

Na entrevista pós-medalha, ele disse que esse amor é o “que falta no mundo, mas que o skate está aqui para mostrar que ele ainda resiste”.

Barros também falou sobre ter feito a comunidade onde morava feliz. Não foi da boca para fora. Ele ostenta, entre dez tatuagens, o acrônimo RTMF nos dedos da mão direita, uma homenagem às suas raízes na comunidade de Rio Tavares, em Florianópolis-SC.

Para entender Pedro Barros, é preciso conhecer o seu estilo de vida. Para ele, o skate vai além do esporte e merece ser tratado como uma expressão de arte. Nascido em uma família com forte ligação com os modalidades de prancha ? seu pai André era dono de uma loja de surfe em um shopping em Florianópolis ?,  ele aprendeu a usar o esporte como forma de meditação, além da competição.

Faça o testeQual o seu esporte na Olimpíada de Tóquio?

Influenciado desde a infância pelo pai, o jovem catarinense é considerado uma lenda do skate mundial: possui seis medalhas de ouro em X Games (2008, 2010, 2012, 2013, 2014, 2016), foi campeão da final nacional do STU (2021) e eleito, em 2018, o melhor skatista do ano pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

? Hoje não é mágico só porque tenho uma medalha no pescoço. É mágico porque eu fui capaz, junto com meus amigos, de escrever História. Estamos fazendo do esporte um lugar melhor, um mundo melhor. É disso que se trata. O skate é uma comunidade, é um estilo de vida. Vai muito além de um esporte ? afirmou.

Além do reconhecimento internacional e de levantar a bandeira do esporte lifestyle, ele transita entre as várias tribos do skate. É um cara agregador.

“Parabéns, ídolo”, escreveu Rayssa Leal. Primeiro a faturar uma medalha no skate para o Brasil, Kelvin Hoefler também comemorou o feito de Barros e a participação brasileira na final do skate park. “Que orgulho”, publicou junto com a foto da classificação. Já Letícia Bufoni gravou stories acompanhando as manobras dos colegas e celebrou bastante a prata de Barros. “Vamooos. É pódio!” (Veja o quadro de medalhas atualizado). 

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Barros afirma que não fez sacrifícios durante o período em que se preparou para estrear nos Jogos. Mas precisou se adaptar a uma nova realidade, como a dedicação ao treinamento físico. E também mudanças em relação a costumes.

? Eu me divirto. Ando de skate diariamente, eu vibro nessa essência. Estou aqui como um atleta olímpico, mas vivendo como um skateboarder ? falou o brasileiro.

Em 2018, Pedro foi pego em exame antidoping, durante o Vert Jam, em Itajaí (SC). A substância proibida encontrada na urina do atleta foi um derivado de maconha. Por ser incluído no calendário olímpico em 2016, o skate precisou se adaptar ao controle da Agência Mundial Antidoping (Wada).

Por questões financeiras, o skate nunca teve essa regulação. Ele levou seis meses de suspensão e viu sua imagem abalada fora do meio (foi o primeiro torneio de skate no Brasil com a presença de fiscalização antidoping; atualmente, as penas para esses casos são mais brandas).

? Para mim, o skate é uma forma de arte. É basicamente falar que músicos, artistas, desenhistas, pintores não usaram algo ilícito. Não existe. Foram formas de abrir a mente para quebrar barreiras e fazer algo completamente diferente. No skate, vai sempre existir esse lado ? declarou à época.

Voltando aos Jogos Olímpicos, Barros disse que este foi um torneio de skate como outro qualquer e que a diferança estava no alcance, na possibilidade de passar mensagens ao público. E por isso valeu o sacrifício:

?  Podemos enviar uma mensagem maravilhosa com esta conquista. É muito maior do que qualquer outro título que ganhei no skate. Maior do que qualquer outra coisa que ganhei em minha vida, porque tenho certeza de que a mensagem que sempre quis passar alcançará seu objetivo. A mensagem de respeito, a mensagem de que podemos cair e nos levantar novamente e nos levantar e continuar lutando.