Ao fim dos sete dias iniciais da Olimpíada de Tóquio, o Brasil termina o período de uma semana de competição com mais resultados positivos do que negativos. Seis modalidades que não eram favoritas ao pódio já tiveram medalhistas confirmados, de acordo com o Medalhômetro do GLOBO. Três desses medalhistas são considerados surpresas, já que sequer eram cotados a disputar medalha.

Outros três favoritos, porém, saíram sem medalhas do Japão e são contabilizados como decepções. O Medalhômetro analisou, com 50 especialistas, 92 possibilidades de pódio para a delegação brasileira nos Jogos Olímpicos nos 28 esportes em que o país tem representantes nesta edição.

Até agora, dois atletas, um no surfe e uma no skate, atingiram medalhas para as quais eram cotados e, portanto, entram no cálculo de quem alcançou as melhores expectativas nesta Olimpíada, junto aos medalhistas que não eram considerados favoritos, mas que tinham chance de pódio.

Houve ainda seis atletas que, embora fossem avaliados com chance de medalha, não conseguiram se classificar para as finais e, portanto, não disputaram vaga no pódio. Como não eram favoritos, não são contabilizados aqui como desempenhos negativos, tampouco entre os resultados comemorados. Confira a seguir quem surpreendeu, quem atingiu as melhores expectativas e quem ficou abaixo do esperado:

Surpresas

Daniel Cargnin (Judô)

Daniel Cargnin conquistou medalha de bronze no judô e está atraindo empresas de telefonia, marcas de material esportivo e produtos alimentícios Foto: Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação / Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação
Daniel Cargnin conquistou medalha de bronze no judô e está atraindo empresas de telefonia, marcas de material esportivo e produtos alimentícios Foto: Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação / Gaspar Nóbrega/COB/Divulgação

O judoca conquistou o bronze da categoria até 66 kg com direito a cinco vitórias na mesma noite. Cargnin, embora fosse bicampeão do Pan-americano de judô e nome incontestável no peso meio-leve no Brasil, chegou à Olimpíada como 13º colocado no ranking após passar por um período difícil, em que foi infectado pelo Covid-19 e perdeu o Mundial, que poderia lhe render pontos para entrar numa chave mais favorável.

Correndo atrás do prejuízo, Cargnin estreou com vitória sobre o egípcio Mohamed Abdelmawgoud no golden score (“ponto de ouro”), com um ippon nos primeiros segundos. Nas oitavas de final, passou por Denis Vieru, da Moldávia, também no golden score, com um waza-ari. Nas quartas, superou o número 1 do mundo, o italiano Manuel Lombardo, com um waza-ari faltando poucos segundos para o fim da luta. Embora tenha perdido a semifinal para o japonês Hifumi Abe, que se consagraria campeão olímpico, Cargnin manteve o foco e derrotou Baruch Shmailov, de Israel, na disputa pelo terceiro lugar.

Fernando Scheffer (Natação)

Fernando Scheffer comemora medalha de bronze inesperada na Olimpíada de Tóquio. Nadador tinha apenas 31% de chances de conquista, segundo medalhômetro do GLOBO. Foto: Sátiro Sodré
Fernando Scheffer comemora medalha de bronze inesperada na Olimpíada de Tóquio. Nadador tinha apenas 31% de chances de conquista, segundo medalhômetro do GLOBO. Foto: Sátiro Sodré

Nos Jogos do Rio-2016, o nadador amargou a decepção de perder a vaga olímpica por oito centésimos. Depois de faturar dois ouros no Pan-Americano de 2019, em Lima, e de marcar o recorde sul-americano nos 200m livre, Scheffer chegou a Tóquio com moral, mas ainda assim tido como azarão numa categoria que tinha o britânico Duncan Smith e o japonês Katsuhiro Matsumoto entre os favoritos.

Scheffer passou bem pela bateria classificatória, mas avançou à final no limite, com o tempo de 1:45:71 min, apenas três centésimos na frente da zona de eliminação. Na grande decisão, porém, Scheffer nadou entre os primeiros o tempo todo e conseguiu ir mais de 1 segundo abaixo do tempo de classificação, com 1:44:66 min, uma eternidade na natação. Ficou com o bronze.

Abner Teixeira (Boxe)

Ainda não se sabe qual medalha o pugilista levará da Olimpíada de Tóquio, mas a certeza é que não ficará de mãos (nem pescoço) abanando. Semifinalista na categoria pesado, até 91 kg, Abner já garantiu ao menos o bronze, já que o boxe não tem disputa pelo terceiro lugar. Independentemente da cor da medalha, ele já está gravado também como uma das três surpresas positivas do Brasil na primeira semana de Olimpíada.

Atingiram as melhores expectativas

Rebeca Andrade (Ginástica artística)

Por conta de três cirurgias no joelho direito neste ciclo olímpico e da vaga tardia, conquistada apenas em junho, Rebeca chegou a Tóquio como um talento em potencial sobre o qual pairavam dúvidas. Ela tratou de começar a dissipá-las já nas eliminatórias, primeira fase da ginástica, quando só foi superada pela lenda Simone Biles na nota geral.

Na decisão individual feminina, Rebeca teve desempenhos consistentes no salto sobre a mesa e nas barras assimétricas. Dois pequenos erros no solo, logo sua especialidade, acabaram custando o ouro, mas a prata já foi um resultado quase surpreendente – além de inédito para a ginástica feminina. Rebeca ainda buscará mais duas medalhas, nas barras e no solo.

Mayra Aguiar (Judô)

Outra atleta de talento reconhecido, mas que conviveu com problemas físicos no ciclo até Tóquio, Mayra Aguiar não chegava entre as favoritas, mas tinha no currículo dois bronzes olímpicos, em Londres-2012 e no Rio-2016. No Japão, veio mais um para a coleção, na categoria até 78 kg.

Italo Ferreira (Surfe)

Italo Ferreira comemora após conquistar a medalha de ouro no surfe na Olimpíada de Tóquio Foto: LISI NIESNER / REUTERS
Italo Ferreira comemora após conquistar a medalha de ouro no surfe na Olimpíada de Tóquio Foto: LISI NIESNER / REUTERS

O surfista era um dos mais cotados ao ouro, com 95% de chances de ir ao topo do pódio, segundo o Medalhômetro. Acima dele, só a seleção masculina de vôlei – que ainda disputa sua competição – e o também surfista Gabriel Medina, com 96%.

Com desempenhos seguros em todas as baterias, Italo venceu o japonês Kanoa Igarashi na decisão com ampla vantagem para conquista, até agora, a única medalha dourada do Brasil no Japão.

Kelvin Hoefler (Skate)

Primeiro medalhista do Brasil nesta Olimpíada, Kelvin conquistou a prata no skate street. Ele era o brasileiro mais bem cotado na categoria, mas não chegava a ser favorito ao pódio, com 67% de chances.

Rayssa Leal (Skate)

Rayssa Leal levanta o skate e comemora uma de suas manobras na final olímpica em Tóquio: brasileira conquistou a medalha de prata Foto: JEFF PACHOUD / AFP
Rayssa Leal levanta o skate e comemora uma de suas manobras na final olímpica em Tóquio: brasileira conquistou a medalha de prata Foto: JEFF PACHOUD / AFP

Aos 13 anos, a “Fadinha” do skate era cotada para chegar ao pódio, com 82% de chance de medalha, segundo o Medalhômetro. Numa final acirrada, em que era a única representante brasileira, Rayssa só não conseguiu superar a japonesa Momji Nishiya, também de 13 anos, que sagrou-se campeã olímpica do skate street. Rayssa ficou com a prata.

Não alcançaram expectativas, nem decepcionaram

Nathalie Moellhausen (Esgrima)

Após cair numa chave dificílima, estreando contra a italiana Rosella Flamingo, Nathalie levou a luta para a prorrogação após reagir no tempo normal e empatar em 5 a 5, mas acabou perdendo no ponto decisivo. A esgrimista tinha expectativa de sair com uma medalha, mas não estava entre as favoritas.

Seleção feminina de futebol

Com as já veteranas Marta e Formiga, o Brasil chegou ao Japão sob a batuta da técnica sueca Pia Sundhage vivendo a esperança de um novo pódio olímpico, após duas pratas em Atenas-2004 e Pequim-2008. Nas quartas de final, contudo, a seleção acabou derrotada nos pênaltis pelo Canadá e deu adeus à Olimpíada.

Arthur Nory (Ginástica artística)

Ginástica Artística Masculina: Arthur Nory falha e não vai às finais na Olimpíada de Tóquio Foto: Foto Gaspar Nóbrega/COB / Agência O Globo
Ginástica Artística Masculina: Arthur Nory falha e não vai às finais na Olimpíada de Tóquio Foto: Foto Gaspar Nóbrega/COB / Agência O Globo

Embora seja o atual campeão mundial na barra fixa, em 2019, e tivesse sido medalhista de bronze no Rio-2016 no solo, Nory não chegava como favorito ao pódio por conta de desempenhos medianos no período mais recente. A eliminação nos dois aparelhos sem nem mesmo avançar à final foi uma surpresa negativa, por conta do currículo do ginasta, mas não chegou a impactar a projeção de medalhas do Brasil nesta Olimpíada.

Rafael Silva (Judô)

O “Baby”, como é conhecido, tinha adversários duros na categoria acima de 100 kg. Perdeu para o georgiano Guram Tushishvili nas quartas de final e enfrentou logo o multicampeão Teddy Riner, da França, na repescagem, quando acabou derrotado novamente e fora da disputa pelo bronze.

Maria Suelen (Judô)

A judoca, que competiu na categoria feminina acima de 78 kg, se lesionou na derrota para a francesa Romane Dicko, nas quartas de final, e teve que desistir da repescagem contra a chinesa Shyian Xu. A lesão, no ligamento patelar do joelho esquerdo, obrigará Maria Suelen a passar por cirurgia. Com isso, ela também está fora da disputa mista por equipes.

Tatiana Weston-Webb (Surfe)

A surfista, que chegava credenciada pela vitória na etapa de Margaret River (Austrália) da Liga Mundial de Surfe, neste ano, acabou eliminada nas oitavas de final na Olimpíada.

Abaixo do esperado

Gabriel Medina (Surfe)

Gabriel Medina chegou ao Japão como favorito ao ouro, deixará o país sem medalha olímpica Foto: LISI NIESNER / REUTERS
Gabriel Medina chegou ao Japão como favorito ao ouro, deixará o país sem medalha olímpica Foto: LISI NIESNER / REUTERS

Favorito ao ouro, o surfista foi eliminado na semifinal pelo japonês Kanoa Igarashi sob reclamações das notas atribuídas pelos juízes. Na disputa pelo bronze, Medina acabou novamente superado, desta vez pelo australiano Owen Wright.

O atleta, que chegou a reclamar publicamente do Comitê Olimpíco do Brasil (COB) por não liberar a viagem ao Japão de sua mulher, Yasmin Brunet, acabou saindo sem medalha de sua primeira Olimpíada, embora seja o único brasileiro bicampeão do circuito mundial de surfe.

Pâmela Rosa (Skate)

Número 1 do ranking mundial do skate street, Pâmela acumulou quedas na semifinal e, mesmo sendo favorita ao ouro, acabou terminando na 10ª colocação, sem vaga na final. Após a prova, insatisfeita com o próprio desempenho, a skatista publicou uma foto do tornozelo bastante inchado e disse que havia se machucado dias antes da viagem a Tóquio. Ela também afirmou ter se sentido “muito sozinha” na Olimpíada.

Leticia Bufoni (Skate)

A skatista bateu na trave e ficou na 9ª colocação geral, uma a menos do que o necessário para chegar à final do skate street. Bufoni, atual número 4 do mundo, era uma das favoritas para o pódio.