Um homem, com idade entre 25 e 29 anos, nascido no estado e na cidade de São Paulo e que nunca participou de uma edição de Jogos Olímpicos. Este é o perfil médio do atleta que representará o Brasil em Tóquio até o próximo dia 8 de agosto. O lateral Gustavo Rodrigues, da seleção de handebol, e o ciclista Luiz Henrique Cocuzzi estão dentro deste perfil: mas são suas trajetórias que mostram o quanto eles se diferem. Enquanto o primeiro, de 26 anos, atua há sete na Europa (para onde migra a elite da modalidade), o paulista de 27 mora até hoje em Parelheiros, na periferia de São Paulo, no Lar Nossa Senhora Aparecida, projeto criado por seus pais para ajudar menores carentes.

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O conjunto destas histórias reflete o esporte nacional, fruto da sociedade na qual está inserido, com trajetórias diversas e altamente concentrado nos estados do Sul e, principalmente, do Sudeste. Além disso, ainda não consegue oferecer oportunidades iguais para homens (53%) e mulheres (47%), embora a delegação feminina seja a maior em números absolutos em edições fora do país (141) e com algumas das principais esperanças de medalha para o país.

As histórias dos brasileiros em Tóquio estão reunidas no guia “Quem são os atletas do Brasil na Olimpíada”, que conta um pouco sobre a batalha de cada um para chegar ao Japão.

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Não é coincidência que a lista dos estados que mais forneceram competidores em muito se pareça com a dos maiores PIBs por unidade federativa. Afinal, para ser competitivo o esporte demanda investimento. Dos 302 brasileiros inscritos para os Jogos (o hipismo ainda não anunciou qual dos quatro cavaleiros da equipe de saltos será substituto, que o COB não considera como olímpico), 108 são de São Paulo. Ou seja: mais de um terço do total vem da maior economia do país. Rio de Janeiro, com 51, Minas Gerais (20), Rio Grande do Sul (19) e Santa Catarina (15) completam os cinco primeiros.

Editoria de arte Foto: O Globo
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Ter nascido e crescido nos estados mais ricos do Brasil, contudo, está longe de ser sinônimo de uma jornada sem percalços. E provavelmente foram eles que ajudaram a forjar muitos destes atletas. Como Douglas Luiz, da seleção de futebol. Há cinco anos, quando o país ganhava seu primeiro ouro, ele perdia treinos do sub-20 do Vasco por causa dos tiroteios no Complexo da Maré, onde morava. Hoje, atua na Inglaterra.

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Também carioca, Lucas Verthein não teve seu direito de ir e vir cerceado como os moradores das favelas em dia de tiroteio. Mas também precisou percorrer um caminho sem facilidades. Para se tornar o único remador brasileiro nos Jogos, ele conciliou os treinos matutinos com o trabalho numa loja de manutenção de eletrônicos à tarde e as entregas das comidas feitas por sua mãe pelas ruas do Rio à noite.

 

Apesar do PIB aquecido pelo agronegócio, os estados do Centro-Oeste não aparecem com destaque na lista dos melhores representados na delegação olímpica. Eles colaboraram de forma tímida em termos de quantidade. De lá, saíram apenas 13 atletas. Entre eles, Ketleyn Quadros. A judoca do Distrito Federal, escolhida para ser porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura ao lado de Bruninho, do vôlei, foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha olímpica em esporte individual (bronze em Pequim-2008).

Editoria de arte Foto: O Globo
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A terceira força é o Nordeste. A região traz consigo uma peculiaridade. Ao contrário da média nacional, conta com mais mulheres do que homens na delegação olímpica: são 29 contra 17. Como a maranhense Rayssa Leal, a caçula do Time Brasil (13 anos) e que também atende pelo apelido de Fadinha do skate. Isso porque, aos 7, vestiu uma fantasia de Sininho (da história de Peter Pan) e saiu por aí andando sobre as rodinhas. O vídeo com esta cena viralizou na internet.

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As maiores contribuições do Nordeste estão no atletismo e no futebol. São 17 representantes no primeiro e dez no segundo. E é do esporte mais popular do país que vem um dos exemplos que talvez melhor personifiquem a força da região: Marta. Hoje chamada de Rainha, ela deixou o sertão de Alagoas sozinha para tentar uma vaga no Vasco, aos 14 anos. Passou por outros nove clubes até chegar ao atual, o Orlando Pride, dos Estados Unidos. No caminho, foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo. Primeira e única mulher na Calçada da Fama do Maracanã, superou a marca de Pelé ao se tornar a maior artilheira da história da seleção.

Editoria de arte Foto: O Globo
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Cinco estados não contam com representantes no grupo que foi a Tóquio: Rondônia, Acre, Amapá, Tocantins e Amazonas. Todos da Região Norte. Apenas um roraimense (Luiz Altamir, da natação) e dois paraenses (Rogério Moraes, do handebol, e Lucas Mazzo, da marcha atlética) participarão dos Jogos. Também na delegação brasileira estão nove competidores que nasceram fora do país, como o cubano Leal, naturalizado brasileiro.

Embora tenha 32 anos, Leal é um estreante em Jogos, assim como a maioria da delegação: 174 vão sentir a emoção olímpica pela primeira vez, enquanto quatro quebrarão o recorde de sete participações: Formiga (futebol), Robert Scheidt (vela), Jaqueline Mourão (ciclismo) e Rodrigo Pessoa (hipismo). Dos quatro, três têm mais de 40 anos.