Lebron James, Stephen Curry, Roger Federer e Rafael Nadal são algumas das estrelas ausentes dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Diante das incertezas que cercam uma edição em meio a uma pandemia, o êxodo de atletas é mais perceptível no tênis e no basquete. A lista de desistências ficou mais longa com a aproximação da cerimônia de abertura, marcada para sexta-feira, 23, e diversos astros das quadras abandonaram o evento para focar em outras prioridades.

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No tênis, o debate principal está na localização do evento dentro do calendário do circuito mundial de tênis. O espanhol Rafael Nadal, por exemplo, priorizou fortalecer o físico após um desgastante torneio de Roland Garros, na França. O suíço Roger Federer desistiu após sentir dores no joelho. Já a americana Serena Williams não queria ficar longe da filha durante o período dos Jogos. Por diversos motivos ? incluindo a pandemia ?, teremos uma das edições mais esvaziadas da história. Entre os brasileiros, Thiago Wild também é ausência por lesão. 

? Infelizmente esse ano não vou poder ir à Olimpíada. Estou com o meu fisioterapeuta aqui na Europa, tratando o meu quadril. É um problema que vem se arrastando há algum tempo, que não me impede de jogar, mas que me incomoda bastante. A opção de ficar jogando na Europa esses dois últimos torneios e não parar de jogar foi porque vou continuar na quadra de saibro (o torneio da Olimpíada é disputado em quadra rápida), que exige e me machuca menos ? afirma. 

Outro debate tem a ver com calendário. Isso porque o torneio olímpico é considerado mais prestigioso do que os eventos regulares do circuito, mas menos importante do que os quatro Grand Slams. De quebra, a edição deste ano está próxima do US Open, o principal objetivo da maioria dos tenistas neste final de temporada. É o caso do austríaco Dominic Thiem, que no mês passado anunciou o abandono do torneio olímpico para focar na defesa do título no Grand Slam americano.

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Para o ex-tenista brasileiro Fernando Meligeni, tantas desistências são o resultado da distância de Tóquio (em relação à sede atual do circuito mundial, concentrada na Europa), o calendário e má preparação devido à pandemia.

? Depende muito das pretensões de cada atleta. Eu sempre gostei de jogar Olimpíada e Pan, só não fui quando realmente não classifiquei. Mas hoje é fácil dizer que eu não deixaria de ir de jeito nenhum, pela experiência, pela bagagem, pela representatividade e importância. Mas quando você está no meio do circuito, as decisões precisam ser tomadas muito rápido, você tem que pensar no circuito, em pontos, no ranking. É uma decisão complicada no momento. Para mim era fácil porque era um sonho ? diz Meligeni.  

Desinteresse no basquete

No basquete masculino ? o feminino dá importância maior ?, existem dois grandes debates sobre a ausência das principais estrelas: o fato de os Jogos Olímpicos não serem a maior honraria do esporte e o desgaste físico da temporada profissional da liga norte-americana. Inclusive, se dependesse da NBA, a convocação para a Olimpíada reuniria apenas atletas sub-23.

? Com a Olimpíada e a Copa, os jogadores vão acabar atuando sem parar durante o ano todo ? afirmou Adam Silver, dirigente da NBA, em 2012, também atacando a Copa do Mundo de basquete realizada pela Fiba (a federação internacional da modalidade). 

Apesar do sucesso do “Dream Team” nos anos 1990, que contou com astros como Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird e entrou para a história como uma das maiores equipes de todos os tempos, a presença dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos é vista hoje como mais um problema de calendário. Por outro lado, serve como propaganda para os atletas em ascensão.

O ala-armador Devin Booker, finalista da NBA com o Phoenix Suns, é um bom exemplo dos dois lados desta moeda. Aos 24 anos, ele é um dos confirmados para os Jogos de Tóquio e sempre afirmou que é um desejo pessoal ser campeão pelos Estados Unidos. Também é uma oportunidade de se firmar como um “all-star” da categoria.

A direção do Suns, porém, foi contra a participação de Booker pois entendeu que ele terá pouco tempo de descanso até o início da próxima temporada da NBA. Ao final, abriram mão da queda de braço com uma de suas maiores estrelas e cederam ao desejo do atleta. Outras equipes, no entanto, não foram tão maleáveis a essa ideia.

?  As competições internacionais (Mundial e Olimpíada) ocorrem em um período de “férias? dos jogadores que muitas vezes têm de optar por estar com a seleção ou estar preparado para a próxima temporada com sua equipe, que é o que realmente lhe sustenta. Como essas temporadas com as equipes são muito desgastante, muitos preferem não fazer temporadas seguidas ? comenta Zé Neto, técnico da seleção brasileira feminina de basquete.

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E não são apenas as franquias que pensam assim. Aos 36 anos, LeBron James anunciou que não participaria da Olimpíada para “cuidar do corpo” e se recuperar de uma lesão. Os Jogos de Tóquio ainda sofreram com um diferencial devido à pandemia da Covid-19: a atual temporada é a que teve menor tempo de férias e, consequentemente, carrega uma série de lesões entre as estrelas. 

? Também tem a situação de renovação de contrato em que o jogador não tem uma garantia da próxima temporada e não quer correr o risco de lesão ? completa Zé.  

Apesar das desistências, os Jogos Olímpicos não serão ignorados pelo público norte-americano fã de basquete. Principalmente pelo aspecto pessoal, ter uma medalha de ouro no currículo é considerado quase uma “obrigação” para os superatletas.

A geração do bronze em Atenas-2004, por exemplo, recebeu muitas críticas no país. Novatos à época, como Lebron James, Carmelo Anthony e Dwayne Wade, que estavam na Grécia, se viram forçados a retornar em Pequim-2008 para recuperar a medalha de ouro.