A discrepância entre o futebol feminino e o masculino será ainda maior nesta Olimpíada: entre as mulheres, haverá quase cinco vezes mais estrelas da elite do futebol pisando nos gramados japoneses. Segundo levantamento do GLOBO, apenas 11 atletas dos 16 países na disputa entre os homens defendem times que chegaram às oitavas de final da última Liga dos Campeões. Por outro lado, são 49 as jogadoras das 12 seleções femininas que atuam por clubes que alcançaram essa etapa do torneio europeu.

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A diferença se reflete já nas convocações: no masculino, a principal estrela do Brasil será o veterano lateral Daniel Alves, do São Paulo. Entre os três jogadores acima de 23 anos aos quais tem direito, a França, atual campeã do mundo, levou dois atacantes do Tigres, do México: Gignac e Thauvin. Na Alemanha, não há nenhum representante do Bayern de Munique ou do Borussia Dortmund.

 

Essa abordagem distinta é consequência de um embate quase centenário entre a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI). Em meio à popularização e à profissionalização do futebol, a primeira criou a Copa do Mundo, em 1930, num contexto em que os Jogos ainda eram o ponto alto do futebol mundial ? não por acaso, o Uruguai, que dominou o esporte no período, é conhecido como a Celeste Olímpica.

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Mas o COI se apegava ao amadorismo característico da filosofia olímpica, enquanto a Fifa acompanhava os avanços do esporte. E a ela não interessava a existência de uma competição que pudesse ofuscar o seu produto. Mesmo com a abertura definitiva dos Jogos ao profissionalismo, a divergência só foi resolvida em Barcelona-1992, quando se definiu que o megaevento seria disputado apenas por equipes sub-23.

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Não houve a mesma restrição ao feminino. A discriminação contra as mulheres no esporte retardou a regulamentação de competições oficiais e sua entrada no programa olímpico: a primeira aparição foi em Atlanta-1996. Até então, só haviam sido disputados dois mundiais organizados pela Fifa (1991 e 1995), e os Jogos acabaram por ocupar esta lacuna no calendário.

? O futebol das mulheres não teve a oportunidade de criar a sua história com o povo brasileiro ao longo das mesmas décadas que o masculino ? observa Aline Pellegrino, coordenadora de competições femininas da CBF.

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A última Olimpíada, no Rio de Janeiro, em 2016, já mostrou bem a diferença de status entre os dois universos. Todas as equipes que passaram de fase também apareceram no mata-mata da Copa do Mundo, três anos depois. As duas seleções finalistas da última edição, inclusive, estarão em Tóquio: Estados Unidos e Holanda. Por outro lado, entre os homens, países como Honduras, Nigéria e Coreia do Sul avançaram às rodadas decisivas, apesar de não serem potências mundiais.

 

De lá para cá, o torneio ainda perdeu mais relevância, ao menos para os brasileiros. Àquela altura, a conquista da medalha de ouro havia se tornado uma obsessão, turbinada por insucessos diante de Nigéria (1996), Camarões (2000), Argentina (2008) e México (2012). Quando a seleção pentacampeã finalmente foi ao topo do pódio, esse apetite se perdeu. E a má vontade chegou aos clubes, que se recusaram a liberar atletas para os Jogos de Tóquio, como fizeram Flamengo e Palmeiras.

Nesta quarta, às 5h (de Brasília), a seleção feminina estreia contra a China, como aconteceu na Rio-2016. Na ocasião, o Brasil venceu por 3 a 0.

A tendência é que o cenário pouco se modifique para os homens no curto prazo, mas é possível questionar se o crescimento do Mundial feminino, cuja última edição (na França, em 2019) atingiu sucesso sem precedentes, provocará transformações na relevância da Olimpíada para as mulheres. Aline acredita que, embora a Copa tenha se fortalecido, a Olimpíada tem seu trunfo:

? A Copa do Mundo é a principal competição do futebol. Por outro lado, acredito que os Jogos têm uma representatividade muito mais individual e histórica para os atletas que participam dela e têm a oportunidade de ganhar medalha.