TÓQUIO ? O Brasil terá Bruninho e Ketleyn Quadros como porta-bandeiras na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no dia 23, no Estádio Nacional. É a primeira vez na história que alguns países vão optar por dividir esta honraria, de acordo com iniciativa do Comitê Olímpico Internacional (COI) para promover a igualdade de gênero entre homens e mulheres. Pela regra, não há obrigatoriedade de escolha por dois representantes dos atletas. Mas, uma vez escolhida esta possibilidade, é preciso ter um homem e uma mulher.

Bruninho brincou que ele e Ketleyn serão o mestre-sala e a porta-bandeira do Brasil em Tóquio. Os atletas, no entanto, ainda não sabem como será a dinâmica da festa.

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Ketleyn foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha olímpica por um esporte individual,  o bronze em Pequim-2008. A princípio, ela trabalhava com a expectativa de disputar os Jogos de Londres-2012, mas acabou conquistando a vaga quatro anos antes, após a lesão de uma colega, Danielle Zangrando. Sua trajetória na modalidade começou aos oito anos, em Ceilândia, após decidir não seguir nas aulas de natação. Nessa época, a menina já dizia a sua mãe Rosemary, cabeleireira, divorciada, mãe de mais duas meninas e maior incentivadora da filha no esporte, que seria atleta olímpica e judoca.

? É uma emoção muito grande. Não imaginava que isso poderia acontecer… É  uma vida dedicada ao esporte e esse é um privilégio, depois de 13 anos participar da segunda Olimpíada e de representar os atletas na festa. Não sei expressar a alegria que sinto agora ? disse a judoca.

Bruninho vai a Tóquio com a chance de figurar em uma lista de apenas cinco atletas que já conquistaram quatro medalhas olímpicas, grupo que tem o brasileiro Serginho, também do vôlei. Amigo próximo de Neymar e Gabriel Medina, é um dos melhores do mundo em sua posição.

Ele disse que não se sente na mesma prateleira de Torben Grael, Robert Scheidt, Adhemar Ferreira da Silva e Joaquim Cruz, mas que o vôlei merecia estar na lista dos porta bandeiras do país.

? É difícil comparar as emoções. Imagino que será diferente de tudo que vivi. Talvez algo parecido com o pódio do ouro no Rio, por causa da carga emocional. É uma honra representar os atletas e o povo brasileiro e também em ser o primeiro atleta do vôlei a carregar a bandeira do Brasil na Abertura da Olimpíada? falou Bruninho, que busca a quinta final seguida, desta vez sem a companhia do seu pai, Bernardinho à frente do time. ? Desde 2017 estamos com o Renan Dal Zotto no time mas a filosofia se manteve. Lógico que são treinadores diferentes mas a base é a mesma. Chegamos em Tóquio após bons resultados no ciclo, que foi um pouco maior. E isso nos dá confiança de que estamos no caminho certo.

A escolha, no entanto, não é simples. Primeiro é preciso levar em consideração fatores práticos e operacionais. Precisa ser atleta que disputará a Olimpíada em vigor, não se pode escolher estrelas de edições anteriores apenas para a função. Depois, esse atleta precisa estar na sede, preferencialmente hospedado na Vila Olímpica e não em Centros de Treinamento, durante a primeira semana de competições. Com isso, fica inviabilizada a escolha de estrelas que chegam no meio da competição e também daqueles que estão em outras cidades em aclimatação.

Também, preferencialmente, a escolha exclui os atletas que vão competir nas 24h até 48 horas depois da festa. E quando isso não ocorre, é criado estratégia para que o desgastante seja o menor possível para o atleta. Por exemplo: o porta-bandeira faz o desfile mas não fica para assistir a cerimônia integralmente.

O COB leva em consideração características como histórico de bons resultados (títulos olímpicos), de boa conduta, que tenha histórias marcantes e que ajude a contar a história da sua modalidade no país.

Bruninho contou que pelo fato de estrear no dia seguinte da festa, o COB consultou a comissão técnica da seleção e, como a Cerimônia de Abertura será reduzida, o tempo em que ele ficará no Estádio Nacional será menor.

? Negar uma oportunidade destas é diícil. É um momento único. Difícil dizer não. E não vai atrapalhar nossa preparação porque nosso treino será à tarde. Isso vai me dar mais motivação para o dia seguinte na estreia.

Os primeiros a entrar no estádio, que não terá a presença de público, serão os porta-bandeiras da Grécia. O Japão, país-anfitrião, encerra o desfile.

O jogador de basquete da NBA Rui Hachimura e a lutadora de wrestling Yui Susaki vão puxar a delegação japonesa. Hachimura foi o primeiro japonês a ser escolhido na primeira rodada do Draft da NBA, em 2019. Aos 23 anos, ele tem duas temporadas à frente do Washington Wizards, com média de 13,7 pontos por partida. Já Yui Susaki conquistou o ouro nos Mundiais de wrestling de 2017 (categoria até 48kg) e de 2018 (até 50kg). Aos 22 anos, ela é uma das favoritas da categoria até 50kg nos Jogos.

Veja os porta-bandeiras brasileiros em todas as edições dos Jogos Olímpicos: 

Antuérpia (1920): Afrânio Antonio da Costa (tiro esportivo) 

Paris (1924): Alfredo Gomes (atletismo) 

Los Angeles (1932): Antonio Lyra (atletismo) 

Berlim (1936) e Londres (1948): Sylvio de Magalhães Padilha (atletismo) 

Helsinque (1952): Mário Jorge da Fonseca Hermes (basquete) 

Melbourne (1956): Wilson Bombarda (basquete) 

Roma (1960): Adhemar Ferreira da Silva (atletismo) 

Tóquio (1964): Wlamir Marques (basquete) 

Cidade do México (1968): João Gonçalves Filho (polo aquático) 

Munique (1972): Luiz Cláudio Menon (basquete) 

Montreal (1976) e Moscou (1980): João Carlos de Oliveira (atletismo) 

Los Angeles (1984): Eduardo Souza Ramos (vela) 

Seul (1988): Walter Carmona (judô) 

Barcelona (1992): Aurélio Miguel (judô) 

Atlanta (1996): Joaquim Cruz (atletismo) 

Sydney (2000): Sandra Pires (vôlei de praia) 

Atenas (2004): Torben Grael (vela) 

Pequim (2008): Robert Scheidt (vela) 

Londres (2012): Rodrigo Pessoa (hipismo) 

Rio de Janeiro (2016): Yane Marques (pentatlo moderno)

Tóquio (2020): Ketleyn Quadros (judô) e Bruninho (vôlei)