RIO – Torcedores argentinos com testes falsos de Covid-19 assistiram à final da Copa América no Maracanã, no último sábado, mesmo após a Conmebol ser alertada sobre a prática e constatar fraudes. Antes da partida, a entidade afirmou que barraria a entrada de quem apresentasse exame RT-PCR adulterado e disse que os controles seriam “extremamente rigorosos”. A Época teve acesso a um modelo de exame falsificado usado por torcedores para ver a decisão. O documento é similar ao emitido pelo laboratório Labormed, que confirmou se tratar de um teste adulterado ao checar o número do protocolo. O nome do paciente não foi informado para preservar o sigilo da fonte.
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Com a desorganização para a retirada das credenciais de acesso, torcedores entraram no estádio sem dificuldades depois de mostrarem testes falsos. Aglomerados, alguns esperaram mais de oito horas na fila até conseguirem ingressar no Maracanã. Boa parte sequer usava máscara.
Argentinos que assistiram à final com exames adulterados relataram a Epoca que os profissionais de saúde responsáveis por verificar os testes apenas olhavam os documentos, sem verificação em computadores. Diante da demora e das filas extensas, a fiscalização acabou afrouxada, segundo eles.
‘Yo soy argentino, PCR negativo’
Um dos torcedores, que pediu para não ser identificado, afirmou que, em seu grupo, todos acessaram o estádio com exames falsos. A maioria usou modelos de resultados prontos, alterando apenas os dados. Durante a espera na fila, outros comentaram que também portavam testes fraudulentos.
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? A maioria da galera foi tudo feito na internet, editado. O meu quem fez foi um amigo. Ele tirou um modelo na internet, botou nome, documento. Mudou tudo. ? disse Ángel*. ? Estava entrando todo mundo. Me falaram que uma pessoa foi barrada, mas não vi mais ninguém. E quanto mais tarde era, acho que eles queriam liberar todo mundo. Tinha fiscalização, mas só olhando. Não sei como faziam a avaliação. Era só no olhar mesmo ? completa.
Nas arquibancadas do Maracanã, a torcida argentina entoou um hit que debochava da exigência do teste. A canção logo se popularizou entre os “hermanos”. A letra dizia: “Oh, yo soy argentino, PCR negativo”.
Horas antes da decisão da Copa América, um laboratório identificou que ao menos 17 exames com a marca da empresa foram falsificados, como revelou a ‘Folha de S. Paulo’. Pouco depois, a Conmebol informou, por meio de comunicado, que “foi detectada uma considerável quantidade de exames PCR fraudulentos” de convidados às tribunas brasileira e argentina. A entidade ressaltou que todos deveriam apresentar o resultado negativo para Covid-19 e que não seria aberta nenhuma exceção. Disse ainda que analisava a possibilidade de aumentar o controle em caso de necessidade.
Exame falsificado
Embora constasse a data 9 de julho no teste obtido por Época, ele foi realizado por outra pessoa em 27 de fevereiro. Ao contrário do que o exame informava, o verdadeiro paciente testou positivo para o coronavírus na ocasião. Em nota, a Labormed afirmou a Época que até o momento desconhecia qualquer prática nesse sentido, mas confirmou a falsificação do exame.
A presença de público no jogo entre Argentina e Brasil não seria autorizada, a princípio. Na última sexta-feira, porém, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) atendeu ao pedido da Conmebol e permitiu que o estádio recebesse cerca de 10% da capacidade máxima do local.Foram distribuídos 4.400 convites, sendo 2.200 para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e 2.200 para a Associação Argentina de Futebol (AFA) ? que transferiu o repasse de parte dos convites ao consulado do país no Rio de Janeiro.
O anúncio da Conmebol, feito na véspera da partida, surpreendeu torcedores, que deveriam apresentar o resultado negativo de teste de Covid-19 realizado até 48h antes do jogo. O aviso tardio, segundo torcedores ouvidos pela reportagem, foi o que motivou muitos a recorrerem a exames adulterados. O entendimento é de que, se houvesse tempo hábil, mais pessoas teriam se submetido ao PCR.
Ao menos uma nova variante que não circulava no Brasil chegou ao país por causa da Copa América, conforme mostrou o jornal ‘Estado de S. Paulo’ na última segunda-feira. Testes realizados no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, identificaram a variante conhecida como B.1.621 em amostras de dois integrantes de delegações estrangeiras. A cepa seria originária da Colômbia e já foi detectada no Equador, Estados Unidos, Caribe e em alguns países europeus, mas era até então inédita por aqui.
Questionada nesta quarta-feira, a Conmebol não respondeu até a publicação desta reportagem.
*Nome fictício
Fonte: O Globo