Num clássico em que o Flamengo teve amplo domínio durante boa parte do jogo, mas acabou sendo derrotado por 1 a 0, natural que sua torcida queira refletir e tentar entender o que aconteceu. Mas o Fla-Flu na NeoQuímica Arena talvez traga mais lições para o Fluminense, vencedor do duelo. O resultado não só fez os tricolores voltarem a vencer após quatro rodadas – e aliviou a cobrança sobre Roger Machado – como apontou caminhos.
Mesmo que André não tivesse marcado o gol, aos 45 do segundo tempo, o 0 a 0 em São Paulo já teria o Fluminense como uma espécie de vencedor simbólico da partida. Isso porque a equipe soube reagir muito bem ao domínio abosluto do Flamengo na primeira etapa e aos seu proprios erros.
Se os rubro-negros foram tão hegemônicos nos primeiros 45 minutos (tiveram 68% de posse e finalizaram nove vezes contra apenas uma do Fluminense), foi porque a estratégia escolhida por Roger Machado não deu certo. Seu time jogou com as linhas defensivas muito compactadas, o que permitiu ao rival atuar a maior parte do tempo próximo à sua área. Esta postura não é nenhuma novidade na temporada. Sob o comando do treinador, o tricolor se estabeleceu como uma equipe reativa. O problema é que não conseguiu encaixar os contragolpes.
Ao contrário de equipes como Palmeiras e o próprio Flamengo, o Fluminense não costuma encaixar contra-ataques na base de ligaçoes diretas e poucos toques na bola. Exige que seus homens de lado (em especial os pontas, que ontem eram Caio Paulista e Gabriel Teixeira) conduzam a bola em velocidade. Mas a marcação adiantada do rival não permitiu que isso ocorresse. E olha que o posicionamento mais centralizado de Vitinho abriu um corredor pela direita rubro-negra…
A mudança começou antes mesmo das mexidas no time. Já no começo do segundo tempo, os jogadores do Fluminense elevaram a intensidade da marcação, não deixando o Flamengo trocar passes com tanta facilidade. Com as entradas de Nenê, Lucca, Luiz Henrique e, já nos minutos finais, Kayky, o time também evoluiu ofensivamente. Ganhou mobilidade e mais opções de velocidade. Resultado: conseguiu finalizar sete vezes na última etapa, mais que o adversário (que chutou quatro vezes, todas para fora).
Um detalhe curioso é que a mobilidade que o Fluminense ganhou talvez tenha contado com uma ajuda do destino. Roger vem se notabilizando por fazer as mesmas mudanças em todas as partidas (o que ajuda a explicar a queda recente de rendimento da equipe). Sem Abel Hernandez e Bobadilla, desta vez precisou mudar um pouco ao colocar Lucca no lugar de Fred. A novidade deu certo.
O Flamengo também tem o que rever. Mas a verdade é que não se pode esquecer que Rogério Ceni não conta com reservas tão qualificados como seus titulares. E, neste domingo, ele estava sem cinco deles. A expectativa é que, a partir das próximas partidas, o time melhore. Já na quarta-feira, contra o Atlético-MG, no Mineirão, o treinador terá Arrascaeta e Isla à disposição.
Isso não significa que a derrota no Fla-Flu deva ser relativizada. No primeiro tempo, o time teve a oportunidade de abrir o placar e só não conseguiu porque Marcos Felipe fez duas grandes defesas e Gustavo Henrique ainda acertou o travessão. Na segunda etapa, contudo, a equipe não soube reagir à melhora do rival.
Com a marcação do Fluminense encaixada, a solução poderia passar pela movimentação dos jogadores. Aqueles que estão sem a bola, podem se mover para levar seus marcadores consigo e, assim, abrir espaços para os companheiros. Ninguém soube fazer isso. Principalmente Bruno Henrique, dono de uma atuação para ser esquecida.
O gol do Fluminense, por sinal, mostra a importância deste recurso. Após Nenê segurar um pouco o jogo e tocar para Kayky, o jovem acinou Luiz Henrique. O atacante foi à linha de fundo, levando Filipe Luis, Gustavo Henrique e Rodrigo Caio consigo. Quando ele cruza para a área, a movimentação de Lucca faz Matheuzinho acompanhá-lo e deixa o espaço aberto para André chegar por trás e concluir.