É inevitável não cair na tentação de associar a campanha da Dinamarca na Eurocopa à superação. Até porque, de fato, sua caminhada é marcada pela reação ao trauma de ver o camisa 10 Christian Eriksen sofrer um mal súbito na estreia, ficar com o coração parado por alguns minutos em campo e abandonar o torneio. Mas é preciso fugir da cilada de reduzir os dinamarqueses, que neste sábado avançaram à semifinal com um 2 a 1 sobre a República Tcheca, a esta narrativa. Trata-se de uma equipe técnica, que não chega entre as quatro primeiras apenas pela força emocional dos jogadores.

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Antes do torneio continental, a Dinamarca já vinha se impondo em campo. Nas eliminatórias europeias, é líder de seu grupo. Em três rodadas, tem 100% de aproveitamento, 14 gols marcados e nenhum sofrido. Nas eliminatórias da própria Eurocopa, garantiu sua vaga de forma invicta (quatro vitórias e quatro empates).

A trajetória na fase de grupos da Eurocopa poderia ter sido mais tranquila. Mas seria cobrar demais que os jogadores não se abalassem após o episódio com Eriksen. Apesar do incidente, a partida não foi adiada, e a Dinamarca acabou derrotada por 1 a 0 pela Finlândia. Em seguida, uma derrota previsível para a favorita Bélgica. E, ainda assim, a seleção nórdica conseguiu reagir com uma goleada sobre a Rússia na última rodada que a levou para o segundo lugar de sua chave.

Os dinamarqueses chegam à semifinal não só fortes mentalmente, mas também com o segundo melhor ataque da competição, com 11 gols. Estão atrás apenas da Espanha, com um a mais. E com um detalhe que mostra a coletividade do time, marcado pela organização tática: sete jogadores do elenco balançaram as redes.

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A superioridade técnica da Dinamarca foi clara na partida. Mas nem por isso o duelo deixou de ser equilibrado. Nos primeiros minutos, de fatos a equipe nórdica teve amplo domínio do jogo. Não deixou o rival jogar, chegou a ter 70% de posse e abriu o placar logo aos 4 minutos, com Delaney, de cabeça.

Sem a mesma técnica, os tchecos apostaram na imposição física. Levava mais jogadores à frente, ficava sempre com a segunda bola e abusou dos levantamentos na área. O jogo acabou ganhando um desenho curioso. Ao contrário do habitual, a Dinamarca foi uma equipe mais reativa, que preferia jogar nos contra-ataques.

Nem por isso, contudo, a atuação do time foi ruim. Com a bola nos pés, conseguiu sair rápido com uma troca de passes objetiva eficiente. E assim, mesmo pressionada, ainda ampliou sua vantagem antes do intervalo, com Dolberg, concluindo cruzamento de trivela de Mahele.

Os 2 a 0 não derrubaram os tchecos. As mexidas promovidas por Jaroslav Silhavy e a aplicação de um ritmo mais intenso fizeram com que a seleção do Leste Europeu pressionasse ainda mais na etapa final. Foram cerca de 15 minutos em que só eles jogaram. E como além da imposição física ainda contavam com a estrela de Schik, diminuíram a vantagem do rival com mais um gol do atacante, que chegou aos cinco e se igualou a Cristiano Ronaldo na artilharia da Eurocopa.

Mas seria difícil manter este ritmo até o fim. O cansaço dos tchecos e até mesmo a reação dos dinamarqueses à mudança do rival voltaram a igular a disputa. Os tchecos não consseguiram buscar o empate. Mas pode se dizer que venderam caro a derrrota.