Salvo por algum problema de lesão, dificilmente a seleção brasileira não terá força máxima à disposição do treinador. Mesmo assim, o exercício proposto por Tite, de rodar algumas peças e poupar titulares, tirou a equipe da chamada zona de conforto. E levou a uma superação que incluiu não só a boa seleção do Peru, mas exatamente essa falta de entrosamento, potencializada pelo gramado ruim do estádio Nilton Santos.

E quando o coletivo do Brasil não está totalmente afinado, as individualidades entram em cena. Na segunda apresentação da Copa América, Neymar voltou a ser protagonista. Embora muito bem marcado, para não dizer caçado, iniciou a jogada do primeiro e terceiro gols e fez o segundo da vitória por 4 a 0. O camisa 10 ainda cavou um pênalti, que o árbitro anulou após ver o vídeo. Alex Sandro, Éverton Ribeiro e Richarlison deixaram suas marcas no placar.

Agora, são seis pontos, seis gols marcados e nenhum sofrido, na liderança do grupo B. O Brasil folga no fim de semana e enfrenta a Colômbia na próxima quarta-feira, também no Rio. Já são nove jogos sem perder, a melhor sequência de Tite.

As experiências propostas pelo treinador, no entanto, só geraram encanto ao telespectador no segundo tempo, quando a maioria dos titulares entrou. A parceria de Neymar com Gabigol na primeira partida da dupla desde o início da competição não gerou o efeito esperado. O atacante do Flamengo saiu no intervalo tendo tido pouca participação nas jogadas ofensivas.

A ideia de ter Gabriel Jesus, que jogou aberto na ponta direita, enquanto Éverton Cebolinha dava profundidade do lado oposto, poderia ter sido melhor explorada. Exatamente como aconteceu no gol de Alex Sandro. A bola começou com Neymar, circulou da esquerda para a direita, e terminou com o lateral vindo de trás para finalizar dentro da área.

Mas a falta de automatização dos movimentos fez o Brasil concentrar demais o jogo pelo meio. Sobretudo após o gol. O Peru, que tem um time entrosado, não se acovardou e incomodou. Não apenas com o excesso de faltas, mas com um toque de bola que também foi desafiador para o setor defensivo brasileiro. Em seu retorno, Thiago Silva teve trabalho. E Fabinho precisou mostrar serviço na frente da área.

Remanescente da equipe titular, Fred deu a esperada dinâmica na transição ao ataque, mas faltava troca de passes mais afiada. Aliás, como um todo o Brasil se comportou bem na pressão sobre a saída de bola peruana, e quando perdia a posse. Só que a vantagem lhe fez afouxar um pouco a marcação no meio.

As entradas de Éverton Ribeiro e Richarlison melhoraram a seleção. Com mais espaço para jogar, diante de um adversário que se arriscou ainda mais, o Brasil continuou com boas tramas pelos lados do campo. Sempre com Neymar centralizado na coordenação das ações. Depois de jogada individual que redundou em pênalti anulado, o camisa 10 acertou um chute cruzado preciso para ampliar. Em seguida, abriu o jogo para Richarlison achar Ribeiro por dentro. A esta altura Firmino já havia entrado também e perdido um gol feito.

De qualquer forma, a volta à estrutura original permitiu à seleção que controlasse mais a partida e finalizasse mais também. No fim, Richarlison ainda deixou o dele, em novo contra-ataque. A experiência promovida por Tite foi bem aproveitada principalmente pelos homens da defesa. No ataque, Gabriel Jesus voltou a provar eficiência tática e física. Mas a sensação no fim das contas foi de preservação de algumas peças em fim de temporada para que pudessem render quando entrassem. Os reservas substitutos, sobretudo os novatos como Gabigol, ainda precisarão entender melhor a dinâmica coletiva de Tite se quiserem brigar por posição na Copa América e até a Copa do Mundo.