Dez gols separam dois camisas 10 da seleção brasileira. O gol de Neymar na vitória por 3 a 0 sobre a Venezuela, domingo, colocou o atacante do PSG no rumo de um recorde rodeado por polêmica, mas indubitavelmente valoroso: ele está cada vez mais perto de igualar Pelé no número de gols oficiais e se tornar o maior artilheiro da seleção. Se depender do espaço para tentativas, não deve demorar: só em 2021, ele pode entrar em campo ao menos nove vezes com a camisa canarinho.

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Atualmente, Neymar tem 67 gols oficiais pelo Brasil, contra 77 de Pelé. A conta inclui torneios como a Copa do Mundo, a Copa América, as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa e amistosos oficiais entre seleções, bem como torneios já extintos ou disputados sazonalmente, como a Copa das Confederações e a Copa Roca. Não entram na contagem os tentos pelo torneio olímpico e em amistosos contra seleções não reconhecidas pela Fifa ou combinados.

 

A ascensão de Neymar na lista de artilheiros foi meteórica. Em outubro de 2016, quando havia disputado apenas uma Copa do Mundo, o camisa 10 já figurava entre os cinco maiores, ao lado de Zico, com 48 gols oficiais. No espaço de quatro anos, o jogador aproveitou Eliminatórias, amistosos e o Mundial de 2018 para ampliar sua conta. Vale lembrar que o craque ficou fora de duas Copas América de lá para cá: a edição Centenário, em 2016 ? quando optou por jogar a Olimpíada ? e o torneio de 2019, quando se lesionou durante a preparação.

Em grande atuação, Neymar deixou o seu contra a Venezuela Foto: EVARISTO SA / AFP
Em grande atuação, Neymar deixou o seu contra a Venezuela Foto: EVARISTO SA / AFP

 

Em 106 jogos, já contado com a partida contra os venezuelanos, Neymar ultrapassou não só Zico, como Romário e Ronaldo (maior artilheiro do Brasil em Copas do Mundo). É o maior goleador da seleção em amistosos (42, contra 34 de Pelé), terceiro maior na Copa do Mundo, quarto na Copa América e primeiro em Eliminatórias ? torneio que cresceu em número de jogos ao longo das décadas ?, empatado com Zico e Romário. É também o jogador que mais entrou em campo dentre os integrantes do top 5.

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A única estatística que o coloca atrás de todos os seus “concorrentes? é a média de gols por jogo: são 0,63 por partida, a mesma de Ronaldo, o segundo com mais atuações pela seleção. Dono dos melhores números, Pelé tem 0,84, ou seja, marcava em média oito gols a cada dez partidas.

Gols nos campeões

Mais do que o número de jogos e a questão sobre a oficialização ou não de determinadas partidas, um dos méritos da discussão é a competitividade dos adversários. Pelé disputou três Copas do Mundo e marcou contra grandes seleções da época. Dos cinco maiores artilheiros, é o Rei quem mais vitimou seleções que hoje integram a lista de campeãs mundiais. Foram 15 tentos, contra 9 de Neymar. A Argentina foi a principal vítima de ambos: sofreu oito de Pelé e três do atual camisa 10.

? É injustiça comparar épocas, atletas e números. Existe a magnitude de um Zico da vida, que é da minha geração, extraordinário, tem um Neymar extraordinário, logo ali atrás teve Romário, Ronaldo, extraordinários. São etapas, ciclos, momentos que têm que se ter cuidado para não compará-los ? avaliou o técnico Tite, quando perguntado sobre o recorde.

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Alexandre Andolpho, pesquisador de futebol e coordenador do Memofut ? Grupo Literatura e Memória do Futebol, entende as preocupações do técnico em evitar pressão sobre seu camisa 10, mas acredita que a tendência seja natural.

? O ser humano sempre tem essa tendência de comparar. As comparações já estão surgindo e fatalmente teremos uma contagem regressiva ? explica.

Pelé em seu jogo de despedida, contra a Iugoslávia. Rei fez 76 gols oficiais pela seleção Foto: Arquivo O Globo
Pelé em seu jogo de despedida, contra a Iugoslávia. Rei fez 76 gols oficiais pela seleção Foto: Arquivo O Globo

 

A questão temporal reflete não só no contexto das equipes da época, mas também no futebol em sua nuance tática. Neymar começou a carreira como um atacante de lado de campo e foi evoluindo para um jogador mais versátil, capaz de atuar atrás do centroavante, centralizado, nas pontas e até completando uma linha de meio-campistas. Mais artilheiro na metade inicial da carreira, o jogador de 29 anos não deixou a vocação pelo gol de lado, mas hoje equilibra suas tomadas de decisões entre as finalizações e a criação de jogadas ou assistências ? vide os passes para gol que distribuiu para Richarlison, Paquetá e Gabigol nas últimas três partidas da seleção. Caminho parecido com o de Pelé, que, mais para o fim da carreira, passou a ser uma referência técnica, para além do antigo papel de ponta de lança.

? O Pelé como ponta de lança marcou um número enorme de gols, e sempre teve bons parceiros como centroavantes. O que depõe a favor do Neymar é que ele nunca teve parceiros à altura como o Pelé teve à época. Esse número de gols é um fato representativo. À medida que o jogador avança na idade, ele começa a se tornar um jogador mais tático ? avalia Andolpho.

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O caminho está à feição para a quebra do recorde. Há seis jogos de Eliminatórias em 2021, além de duas rodadas adiadas ainda sem data. Na Copa América, há mais três jogos pela fase de grupos e até três nas finais, dependendo do desempenho. Se mantiver a média de gols (0,63), a tendência é que ele ultrapasse Pelé na artilharia em 18 jogos, o que pode ocorrer em 2022, ano de Copa ? quando tentará o primeiro seu título máximo do futebol, do qual o Rei é o único tricampeão da História. Números e cenários à parte, a camisa 10 da seleção segue bem representada.