A bomba que explodiu em cima de Rogério Caboclo, com a denúncia de assédio formalizada na Comissão de Ética da CBF por uma funcionária, agitou os corredores da entidade e os bastidores do futebol. O mandato de Caboclo como presidente da confederação vai até abril de 2023. No entanto, após a denúncia, poucos acreditam que haja condições políticas para ele permanecer no cargo. Apesar disso, não quer dizer que ele vá abrir mão de seu posto.

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A denúncia foi protocolada na sexta-feira por uma funcionária que relatou conversas inoportunas e comportamento inapropriado do dirigente, segundo o ge. O colunista Lauro Jardim, do GLOBO, revelou parte de um diálogo, que foi gravado por ela. Em um dos trechos, Caboclo chega a perguntar se ela se masturbava e ouviu como resposta que a estava deixando sem graça e que ela não queria falar sobre o assunto.

Caboclo não é obrigado a se afastar do cargo, embora o diretor de Governança da CBF, André Megale, tenha recomendado, por meio de um e-mail enviado a ele e a todos os diretores da entidade na noite de ontem, que o presidente se licencie enquanto o caso estiver sendo investigado e julgado pela Comissão de Ética. Apenas a posição da comissão, entretanto, não é suficiente para punir o dirigente. A decisão deles, caso optem por alguma punição a Caboclo, precisa ser referendada por três quartos da Assembleia Geral da CBF. E as sanções são diversas, do banimento até simples advertência. A pior hipótese para Caboclo será a de ter alguma punição severa e, além disso, o caso ser encaminhado para o Ministério Público e a Justiça, possibilidade prevista no Código de Ética da CBF.

O e-mail enviado pelo diretor de Governança da CBF, obtido pelo ge Foto: reprodução
O e-mail enviado pelo diretor de Governança da CBF, obtido pelo ge Foto: reprodução

Há cinco cenários possíveis: Caboclo pedir afastamento para se defender; permanecer no cargo mesmo com a investigação em andamento; ser banido após a investigação; ter uma punição mais branda e ou ser inocentado.

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Caso ele se licencie, a presidência da CBF passa a ser ocupada interinamente por Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, um dos oito vice-presidentes da entidade, mas que recebe o benefício por ser o mais antigo. Ele ficará no cargo até que Caboclo retorne da licença.

Volta de Coronel Nunes

Coronel Nunes já tem experiência em mandato tampão. Ele assumiu a presidência da CBF quando a Fifa afastou Marco Polo Del Nero da presidência da confederação. Durante sua gestão, ele provocou um mal-estar entre os membros da Conmebol porque votou no Marrocos para ser sede da Copa de 2026, enquanto todos os membros haviam concordado em votar na candidatura tríplice de México, EUA e Canadá.

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Em caso de banimento, também é Nunes quem assume. Contudo, ele terá 30 dias para organizar outra eleição. Caso este seja o cenário, os candidatos terão que ser obrigatoriamente aqueles que ocupam hoje o cargo de vice-presidentes da CBF. São eles: o próprio Coronel Nunes, Antônio Aquino, Ednaldo Rodrigues, Castellar Guimarães, Fernando Sarney, Francisco Noveletto, Marcus Vicente e Gustavo Feijó. Isso não quer dizer que os oito são obrigados a concorrer.

O presidente eleito teria, então, um mandato mais curto. O período de presidência seria para completar o tempo que deveria ser cumprido por Caboclo. O eleito pode disputar a reeleição em 2023.

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Hoje, o favorito é Castellar Guimarães Neto, ex-presidente da Federação Mineira de Futebol. Castellar advoga em Belo Horizonte e tem como cliente, por exemplo, o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo. Porém, seu nome não é unânime. Caboclo ainda tem uma quantidade considerável de aliados que são contrários ao mineiro.

A guerra nos bastidores abre brecha para outros nomes. Segundo um dos vice-presidentes, que pediu reservas ao seu nome, por enquanto, Castellar é o predileto porque o assunto de troca da presidência ser antecipada ainda é uma possibilidade e não uma certeza.

? Quando se tiver certeza de que haverá eleições, os vice-presidentes vão se movimentar e começar a fazer campanha. Dizer que o favorito de hoje vai se eleger é prematuro porque os candidatos vão fazer política e há muitos votos a serem disputados ? contou.

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O vice baseia sua afirmação na forma como a votação é feita. Ao todo, são 67 votos, mas que possuem pesos diferentes. Votam as 27 federações estaduais, cujo voto tem peso 3; os 20 times da Séria A (peso 2); e os 20 da Série B (1) .

Nos bastidores há quem garanta que um nome que teria apoio e poderia fazer frente a Castellar é o de Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney. Fernando é conhecedor da política do futebol brasileiro e é membro do Conselho do Conselho Executivo da Fifa.

Caboclo não se afastará

Mesmo com os bastidores agitados, a troca da presidência neste momento é algo incerto. Pessoas ligadas a Caboclo dizem até que improvável. A esses interlocutores, o presidente diz que não se afastará. Os advogados de Caboclo afirmam que ele “nunca cometeu nenhum tipo de assédio e vai provar na investigação da Comissão de Ética da CBF?.

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Caboclo tentará sustentar a argumentação de que relação entre ele e a funcionária era antiga e que as conversas estavam dentro de um contexto, cujo ela se aproveitou para prejudicá-lo. Além disso, os aliados ouvidos pela reportagem acreditam que o processo na Comissão de Ética pode ser prolongado e se arrastar por meses. A secretária foi procurada, mas preferiu não se manifestar.

Por ora, a única certeza que se tem é a de que mesmo que consiga permanecer até o fim de seu mandato, Caboclo não será mais presidente da CBF após as eleições de 2023. Com o cenário atual, com a denúncia ainda sendo investigada, ele pode concorrer à reeleição.

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Mas os problemas não começaram hoje. Contam a seu desfavor as brigas com presidentes de clubes, áudios vazados e um histórico de inabilidade política. Apesar de estar tentando reverter o quadro, com visitas a presidentes de federações e ouvindo conselhos de ex-caciques como Ricardo Teixeira e Del Nero, a situação de Caboclo requer mais esforço, caso ele queria melhorar sua imagem, agora também diante da opinião pública.

Caboclo terá de lidar também com a relação abalada com a seleção brasileira, seja com a comissão técnica (críticas em áudio vazado irritaram Tite), patrocinadores (quatro empresas manifestaram preocupação e pediram investigação séria sobre o caso de assédio, segundo o Uol) e, claro, jogadores que estão insatisfeitos com a forma como a vinda da Copa América para o Brasil foi conduzida. Eles vão se manifestar na terça-feira, após o jogo contra o Paraguai, pelas Eliminatórias.