O Chelsea é dono de uma história irônica. Quando o magnata russo Roman Abramovich o adquiriu, em 2003, não escondeu que sua meta era fazer dos Blues uma referência em futebol bonito. Até hoje, o clube trabalha com este objetivo. Mas, apesar dos esforços, é visto como o time que vence por saber se defender, não por encantar. Uma imagem que se solidificou neste sábado, na vitória por 1 a 0 sobre o Manchester City que deu ao clube o bicampeonato da Liga dos Campeões.
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Foi uma decisão que consagrou uma boa defesa. Não que Guardiola não saiba se defender. Este mesmo City foi campeão inglês como o menos vazado da Premier League. Mais do que isso, terminou a temporada com a menor média de gols sofridos das cinco principais ligas europeias (Inglaterra, França, Espanha, Alemanha e Itália). Mas, na decisão deste sábado, quem deu aula foi Thomas Tuchel e seus Blues.
O alemão está há apenas quatro meses no comando. Seu maior mérito foi justamente dar solidez ao setor, o que não vinha ocorrendo com Frank Lampard. Nos 30 jogos com o treinador, em apenas 11 a defesa foi vazada. Para se ter uma ideia de seu efeito, em toda a temporada a média de gols tomados do Chelsea foi de 0,72 (43 sofridos em 59 partidas). Mas, se levarmos em consideração apenas os duelos com Tuchel no comando, a marca cai para 0,53.
Esta revolução passa pela adoção do sistema com três zagueiros, tendo Thiago Silva como elemento central. Pela liderança exercida no setor, o brasileiro encerra a temporada como um dos destaques da equipe. Neste sábado, ele deixou o campo com dor na virilha, o que ameaça inclusive sua presença na seleção brasileira, que volta a jogar pelas Eliminatórias esta semana.
? Uma tristeza pela pequena lesão. Mas muito feliz por este momento. Ano passado eu e a comissão batemos na trave (pelo PSG). Este ano, de maneira muito heroica, o homem chega no meio da temporada e muda o time dessa maneira ? comentou Thiago.
? Uma coisa que levo comigo e que o Tite sempre diz é o “fazer por merecer?. E a gente mereceu. Muitos não davam a gente como favoritos. Mas fizemos nossa parte. Uns gostam de um tipo de jogo e outros de outro. Mas na final tudo se iguala.
O jogo
As duas equipes foram muito fiéis ao que fizeram de melhor ao longo da última temporada. O City tentou sufocar o adversário com a marcação adiantada, teve mais posse de bola e trabalhou melhor a troca de passes. O Chelsea, por sua vez, não conseguiu progredir bem neste estilo. Mas sua linha de cinco defensiva esbanjou eficiência. E o ataque mostrou-se extremamente perigoso nos contra-golpes em velocidade.
Os Blues poderiam ter aberto o placar mais cedo, não fosse Timo Werner. O Chelsea explorou bem os espaços e erros da defesa rival, grande ponto fraco do City, mas esbarrou na falta de pontaria do alemão. Ele perdeu ao menos duas grandes oportunidades. Na primeira, furou na cara do gol. Na segunda, chutou em cima de Ederson.
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O gol que colocou a equipe de Thomas Tuchel em vantagem foi uma aula de como atacar em poucos segundos e aproveitar as linhas do rival adiantadas. Aos 42, Chilwell apenas ajeitou com um toque a cobrança de tiro de meta para Mount. O inglês fez um lançamento preciso para Havertz, que ganhou na disputa com Ederson e concluiu a gol.
No lance, importante destacar a participação de Werner. Se não estava numa boa noite como finalizador, o atacante colaborou na jogada com sua movimentação. Ao se deslocar, levou consigo Rúben Dias. Com isso, um buraco foi aberto diante Havertz, que ainda contou com a marcação frouxa de Zinchenko
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Com a desvantagem no placar, o City teve ainda mais domínio na etapa final. Se teve 52% de posse antes do intervalo, chegou a 71% no segundo tempo. A grande melhora do time foi não dar ao adversário o rebote e, consequentemente, a oportunidade de contra-atacar. Correção feita principalmente após a entrada de Fernandinho. Mas, na frente, a dificuldade de transpor a retranca armada por Tuchel continuava.
O Chelsea, mesmo sem criar tanto, teve a melhor chance. Mas Pulisic chutou para fora ao ficar cara a cara com Ederson. Detalhe: ele entrara no lugar justamente de Werner, que vinha mal por pecar nas conclusões.
Para quem já tinha marcado um gol, no entanto, o mais importante era saber se defender. E o City que corresse atrás de fazer sua parte. Com todas as alternativas esgotadas, Guardiola apostou suas últimas fichas em Agüero e toda a sua mística com o clube do qual é ídolo. Quem sabe, justamente no jogo de despedida, o maior artilheiro dos Citizens não faria história novamente?
O argentino não entrou mal. Mas o problema é que a bola não chegava da melhor forma ao ataque. Mesmo nos minutos finais, quando o City apelou para o abafa, a defesa do Chelsea manteve-se impecável. Estabilidade de um campeão que pode até não encantar, mas teve méritos.
Fonte: O Globo