Nao há tempo para quem foi campeão estadual festejar ou para os derrotados lamentarem. No calendário sem pausa do futebol nacional, o Campeonato Brasileiro começa neste sábado com três partidas: os recém-promovidos Cuiabá e Juventude jogam às 19h, na Arena Pantanal; Bahia e Santos duelam às 20h, em Salvador; e São Paulo e Fluminense se enfrentam às 21h, no Morumbi.
A edição atual marca 50 anos desde que a competição recebeu o nome de Campeonato Brasileiro, sucedendo a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, unificados mais tarde pela CBF como títulos nacionais. Entre o gol de Dadá Maravilha que deu o primeiro e único Brasileirão ao Atlético-MG, em dezembro de 1971, ao troféu garantido nos últimos minutos pelo Flamengo, em fevereiro ? em torneio atrasado pela pandemia ?, são meio século de times históricos.
A competição deste ano também é a da “maioridade? dos pontos corridos, disputados há 18 anos. O atual formato se notabilizou e criou identificação. Um exemplo está na eleição realizada pelo GLOBO, que elegeu as melhores equipes da história da competição desde 1971.
Após votos de mais de 60 jornalistas, dois times que brilharam nos pontos corridos lideraram de forma disparada a preferência dos eleitores: o Flamengo de 2019 e o Cruzeiro de 2003. Se entre eles a disputa foi voto a voto, a distância para o restante foi enorme. Um representa os pontos corridos em sua forma mais antiga. Já o outro traz memórias recentes.
Alex: Cruzeiro de 2003 ‘queria fazer história’
? Os pontos corridos testam mais de uma equipe ao longo da temporada. O desafio é maior. Votei em times espetaculares dos anos 1970 aos 1990, e não é difícil imaginar que eles mantivessem o desempenho por 38 rodadas. Mas o Cruzeiro de 2003 e o Flamengo de 2019, por exemplo, fizeram isso por imposição do regulamento ? diz Marcelo Barreto, colunista do GLOBO.
Isso não significa que o mata-mata não tem o seu charme e sua presença na memória afetiva. Os outros oito clubes no Top-10 foram campeões disputando o formato antigo. No geral, 86% dos eleitos vieram de Brasileiros desta fórmula. Leva-se em conta que o número seja amplamente maior por ter mais tempo de existência, mas chama a atenção nenhum ter conseguido sequer se aproximar da dupla dos pontos corridos.
Diego:meia fala sobre Fla de 2019: ‘é preciso vencer e convencer’
Com cinco títulos no currículo, o ex-meia Zinho foi campeão em ambos os modelos. Com Flamengo (1987 e 1992) e Palmeiras (1993 e 1994), no mata-mata. E com o Cruzeiro (2003), nos pontos corridos. O ex-atleta aponta que o atual formato, por ser mais linear e competitivo, ajuda a gravar mais times na memória do torcedor.
? Prefiro os pontos corridos. Premia o melhor elenco, o melhor planejamento, a melhor estrutura. O time tem que ter uma regularidade. O mata-mata dá oportunidade a uma equipe que não é favorita e dá mais emoção. O Flamengo em 1992 não era favorito, mas fomos campeões. Essa é a diferença. Mas prefiro que premiem o melhor ? afirma o comentarista dos canais ESPN e Fox Sports.
‘Supertimes’
Presente no título brasileiro do Cruzeiro de 2003, Alex se diz feliz por ver aquele time listado entre os principais, mas prefere não comparar diretamente com outros campeões.
? É muito difícil ranquear esses campeões, até porque tenho uma memória afetiva muito grande. Tive a oportunidade de ver times fantásticos, como o Flamengo da Era Zico, o São Paulo do Telê, o Palmeiras com o próprio Luxemburgo. A comparação é difícil, mas o que importa é que a gente conseguiu marcar o nosso nome com aquela campanha ? comenta o atual treinador da base do São Paulo.
Essa propensão para criar “supertimes? teve a sua melhor versão em 2019. Diego Ribas era parte daquele Flamengo treinado pelo português Jorge Jesus, que quebrou recordes e foi dominante. O meia afirma que a constância é determinante para analisar uma grande equipe.
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? No modelo do mata-mata, o futebol fica mais imprevisível. Para ser campeão, tem que funcionar no momento certo. Mas os pontos corridos valorizam a constância. Hoje, acho o formato mais justo. Acaba premiando a equipe que foi mais consistente ? afirma o meia, que também foi campeão com o Santos, em 2002, ainda no formato com fase final.
O saudosismo e a nostalgia sempre têm a sua força, mas Marcelo Barreto aponta a definição de um formato de competição como importante para elevar a qualidade do Brasileirão e, por consequência, de seus campeões:
? A memória afetiva te faz buscar os times que te impactaram na juventude. Eu, nesse caso, votaria em equipes do fim dos anos 1970 e início dos 1980. Votar em times mais recentes talvez tenha a ver com o fato de que temos mais imagens, os debates sobre eles ainda estão mais presentes. E pesa também o fato de que o Brasileiro, como competição, evoluiu. Por mais que os times do passado fossem espetaculares, eles foram campeões em formatos malucos que testavam menos sua qualidade.
Candidatos ao título
Com 38 rodadas pela frente, não faltarão jogos e obstáculos para testar a qualidade dos 20 participantes. O Flamengo tentará o tricampeonato brasileiro, algo que aconteceu apenas uma vez na competição ? com o São Paulo, de 2006 a 2008, nos pontos corridos. Alcançar essa marca está na mira do meia Diego Ribas.
? Para ser reconhecido, é preciso vencer e convencer. Não alguns jogos, mas a maioria deles. E, claro, apresentar um futebol bonito.
O Fla terá pela frente rivais que vêm monopolizando a briga pelas principais taças nos últimos anos. O Palmeiras, também de alto investimento e vencedor da última Libertadores e Copa do Brasil, quer recuperar a taça que ergueu em 2018. Ainda no campo das cifras milionárias, o Atlético-MG venceu o Mineiro e fez a melhor campanha da primeira fase da Libertadores.
Outro candidato é o Grêmio, que tenta reconquistar o Brasileiro depois de 26 anos, reforçado por Douglas Costa. O rival Inter tentará dar fim a um jejum ainda maior, que dura desde 1979.
Fonte: O Globo