Logo na primeira edição do Campeonato Brasileiro disputado por pontos corridos, em 2003, o Cruzeiro fez história. Em que pese o fato daquele torneio ter 46 rodadas, os números ilustram a grandiosidade do feito da equipe celeste, que ficou em segundo lugar na eleição dos melhores times do Brasileirão dos últimos 50 anos, promovida pelo GLOBO e ‘Extra’. Foram incríveis 31 vitórias, com um saldo de 55 gols, ambos recordes entre todas as edições do campeonato até hoje. O clube ainda teve o melhor ataque até então, com 102 gols marcados, a segunda melhor defesa da edição, com 47 gols sofridos (atrás apenas do São Caetano, com 37), além de, com o título brasileiro, terminar aquele ano memorável com a tríplice coroa, após ter conquistado o Mineiro e a Copa do Brasil ? ambos de maneira invicta.
A equipe também aplicou a maior goleada da competição, quando fez 7 a 0 no Bahia, na última rodada, com direito a cinco gols do maestro daquele time, o meia Alex. Aquela se tornou a maior goleada de um time visitante na história do Brasileiro (outro recorde que dura até hoje), e deixou claro o desejo dos jogadores de marcar aquele Cruzeiro na história do torneio.
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? A relação entre os jogadores era a melhor possível. Foi um time que começou a ser montado no final da temporada anterior, quando a gente ficou de fora das principais disputas. Ali, começou um trabalho muito importante do Luxemburgo, que detectou as carências do elenco, fez algumas dispensas e trouxe peças novas. Então, desde dezembro, aquele ambiente já vinha sendo construído ? revela Alex.
Mesmo assim, o meia lembra que o início daquela temporada não parecia tão promissor para os mineiros. A expectativa de brigar apenas pelo meio da tabela vinha, em grande parte, pelo grande número de jovens naquele time, que, no entanto, viriam a assumir papéis de destaque ao longo da competição. Os volantes Wendel (com 21 anos), Augusto Recife (20) e Felipe Melo (20), o zagueiro Thiago (23) e o atacante Mota (22) foram algumas das revelações da equipe.
Mescla importante
Alex destaca que essa mescla foi fundamental para a conquista do Brasileiro daquele ano ? o mais longo da história, junto com a edição seguinte, de 2004, com 46 rodadas cada, disputadas entre 24 clubes. Nos bastidores, o clima também era o melhor possível, segundo o meia, com todos os atletas tendo a liberdade de cobrar um ao outro. Com isso, o potencial do elenco foi sendo descoberto ao longo da temporada.
? A Copa do Brasil acabava no primeiro semestre. E, até aquele período, quem ganhava o torneio já tinha a vaga na Libertadores garantida, o que fazia com que os clubes relaxassem no Brasileiro. E nós fizemos o contrário. Depois daquela conquista, foi como se tivéssemos vencido nada. Recomeçamos com força máxima para ganhar o Brasileiro. E é marcante justamente por isso, o que não aconteceu em outro momento ? relembra Alex.
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O time era comandado por Vanderlei Luxemburgo. O técnico teve de superar algumas perdas ao longo do Brasileirão, principalmente após a conquista da Copa do Brasil, que chamou a atenção de clubes da Europa para alguns nomes daquele elenco.
O zagueiro Luisão foi vendido ao Benfica, deixando a vaga para Edu Dracena, que formaria a nova dupla titular ao lado de Cris ? que também sairia no fim do ano. O atacante Deivid foi outro que saiu no meio temporada, após trocar a raposa pelo Bordeaux ? a reposição seria feita pelo contratado Márcio Nobre, que ajudaria o time com cinco gols na reta final do torneio.
? O Vanderlei foi o grande responsável por a gente manter aquela pegada durante todo o campeonato. Ele não queria só ganhar: ele queria marcar na história aquela conquista. O objetivo dele era montar um time que fosse lembrado 20, 30 anos depois. E deu certo, sendo ele o cara que comandou tudo isso. O trabalho naquele ano foi muito intenso, diariamente. No primeiro dia de janeiro ele batia na nossa porta dizendo que a gente ia ser campeão brasileiro, e exigia que os treinos fossem elevados ao extremo, para que a gente chegasse até o último jogo da temporada com todos os resultados alcançados ? destaca.
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Estrela vestia a 10
Com 23 gols, Alex se tornou o maior artilheiro do Cruzeiro em uma única edição do torneio ? marca que ainda não foi superada. Ainda naquele campeonato, o colombiano Aristizábal marcou 21, seguido por Deivid e Mota, que fizeram 15 gols cada (a artilharia ficou com Dimba, do Goiás, com 31). Mesmo com os números marcantes, Alex prefere não comparar aquele Cruzeiro com outros campeões brasileiros.
? É muito difícil ranquear esses campeões, até porque eu tenho uma memória afetiva muito grande. Eu tive a oportunidade de ver times fantásticos, como o Flamengo da era Zico, o São Paulo do Telê, o Palmeiras com o próprio Luxemburgo, e outros que eu não cheguei a ver, como o Palmeiras, em 72 e 73. De 2003 para cá, talvez tenha sido um dos que mais me encantaram, junto com o Flamengo do Jorge Jesus. Então, a comparação é difícil, mas o que importa é que a gente conseguiu marcar o nosso nome com aquela campanha ? afirmou.
Fonte: O Globo