No combalido futebol do Espírito Santo, o novo campeão é resultado do projeto de um homem só. Empresário do ramo de mármore e granito, Flaris Olímpio da Rocha criou o Real Noroeste do nada, em 2008. Construiu o estádio da pequena cidade de Águia Branca, batizou-o com o nome do pai, e desde então subiu degraus no futebol capixaba. O topo veio ontem, ao derrotar o Rio Branco de Venda Nova nos pênaltis.
O Real Noroeste é um dos quatro campeões estaduais inéditos que o Brasil conheceu no fim de semana. Existe uma semelhança entre três deles. Assim como o time capixaba, o Costa Rica, vencedor no Mato Grosso do Sul, e o Grêmio Anápolis, que levou a melhor em Goiás, são clubes novos. O mais velho, o goiano, foi fundado em 1999, ainda na cidade de Inhumas, e com o nome de Inhumense.
Real Noroeste e Grêmio Anápolis são empresas, não possuem o formato associativo predominante no futebol brasileiro. No caso do campeão goiano, que derrotou o favorito Vila Nova na decisão, quem está à frente do projeto é o empresário de jogadores português Antônio Teixeira.
Durante anos, ele se dividiu entre os jogadores que representava em Portugal e os que tentava revelar no interior goiano para exportar em seguida para o futebol europeu. Paralelamente, os resultados no futebol goiano começaram a aparecer.
A prioridade, em ambos os clubes, é a revelação de jogadores. O Real Noroeste já foi o único clube capixaba com certificado de formação de jogadores da CBF e foi campeão com jogadores formados em casa. O caminho até o título não foi fácil. Devido a processos trabalhistas de ex-jogadores, Olímpio da Rocha viu a Justiça colocar uma fazenda sua a leilão. Agora campeão capixaba, comemora a caminhada:
? Não é fácil, é uma coisa que tentamos há dez anos. Já fomos campeões quatro vezes da Copa do estado, vice estadual. É o clube onde eu trabalho sozinho, tenho a responsabilidade 100% sobre mim.
Outro campeão inédito, o Costa Rica, levou 17 anos para dar a volta olímpica no Mato Grosso do Sul. O título veio com uma rodada de antecedência no hexagonal final. Foi uma campanha quase irretocável, com apenas uma derrota em 17 partidas. Em comum com os outros três, a pouca torcida local. Talvez os títulos estaduais ajudem neste sentido.
Tradição baiana
A exceção entre os campeões inéditos vem da Bahia. O Atlético de Alagoinhas é mais antigo, fundado em 1970, e tem tradição no interior do futebol baiano. O clube conta até com participação na Série B do Brasileiro, em 1973.
Em 2020, já havia batido na trave e terminado com o vice-campeonato. Este ano, veio a volta olímpica sob o comando de um velho conhecido do futebol do eixo Rio-São Paulo: Estevam Soares, com passagens por Palmeiras e Botafogo, além de uma penca de equipes menores, especialmente no interior paulista.
Assim como o Grêmio Anápolis, cujo feito é ainda maior por ter sido conquistado tendo como adversários um time da Série A (Atlético-GO), e dois da Série B (Vila Nova e Goiás), o Atlético de Alagoinhas surpreendeu ao avançar no Baiano mesmo com as presenças do Bahia, da Série A, e do Vitória, que disputará a Série B.
Fonte: O Globo