O técnico José Roberto Guimarães, tricampeão olímpico com as seleções masculina e feminina de vôlei, levou força máxima para a “bolha? da Liga das Nações, na retomada da temporada internacional, a partir de terça-feira, em Rimini, na Itália. Usará esta competição para definir as 12 jogadoras que disputarão os Jogos de Tóquio. Isso se a Olimpíada acontecer. É que ele ainda tem dúvidas se o futuro próximo permitirá. O treinador é contra a realização dos Jogos neste momento em que ainda há muitas mortes e internações mundo afora. Por ora, se concentra na seleção do Canadá, seu rival de estreia na VNL e já sofre com os seis cortes que terá de fazer para a viagem ao Japão: “É o meu carma?.
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Com que sentimento você viaja para a Itália?
É confuso. Por um lado estou feliz. Ficamos parados uma temporada inteira e a Liga das Nações será nossa primeira competição depois que o mundo parou. Mas também preocupado e triste com o que estamos vivendo. Ainda há muita incerteza e insegurança. Mesmo após um ano de pandemia e estudos sobre o novo coronavírus, são várias as descobertas ainda. Muitas coisas estão sendo testadas.
As atletas estão ansiosas?
Sim e é compreensível. Precisam de ritmo de competição. Precisam passar por isso agora; não em Tóquio.
O que achou da bolha da Liga das Naões ? Vocês terão até praia…
Ouvi falar mas não estamos nesse espírito. Vamos com 18 atletas e tem todo um processo sendo feito. Temos muitas preocupações em relação ao time e ao bem-estar de todos. Minha meta é jogar bem e voltar para casa bem. Só ficarei tranquilo quando a gente encerrar a participação e estiver todo mundo bem. A bolha será bem fechada. Ficaremos entre hotel e ginásio.
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Quais pontos quer observar pensando em Tóquio?
Primeiro como os adversários estão. Mesmo que alguns não terão suas principais atletas. Nós teremos 18 jogadoras e nossa estratégia é dar oportunidade para todas. E tem a pior parte de todas. Escolher as 12 que vão a Tóquio. Esse é o meu carma…
Você se sente em dívida com as atletas cortadas?
Não porque toda a comissão técnica opina. Nunca cortei sozinho.
Mesmo no caso da Tandara, Carol Gattaz e Camila Brait (cortadas de Olimpíadas anteriores)? Lá no fundinho…
Não, naquele momento as outras estavam melhores.
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Hoje elas estão no seu time titular? Tandara é o seu principal pilar?
É sim. Desde que esteja em forma e botando bola no chão. Também precisa defender, bloquear, sacar bem. Mas isso é para qualquer jogadora. A gente trabalha com produtividade. Assim como eu também estou sujeito aos resultados o tempo inteiro.
A Ana Cristina, com 17 anos, tem chance de ir a Tóquio?
Por que não teria? É um talento. Claro que precisa evoluir, mas ela aprende rápido. A Fabiana foi nova para Atenas, em 2004. Era a terceira central. Todas elas tiveram este tipo de investimento em algum momento.
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Você já tem uma base?
Tudo é momento. Não dá para falar com exatidão ainda. Uma coisa é convocar uma equipe. A outra é ter um time. Envolve performance, entrega, carinho… O momento de definição das 12 atletas é muito forte.
Você tem time para chegar ao pódio?
Não somos o melhor time do mundo. Mas vamos lutar, temos time para brigar com EUA, Sérvia e China. E também contra a Itália que tem a Egonu em momento excepcional. Ela é a melhor oposta do mundo, ao lado de Bo?kovic (Sérvia) e da Zu (China). Essas seleções tem as melhores atletas do mundo, individualmente falando. O Brasil se pauta no conjunto. A gente precisa jogar como time para chegar aí. A Olimpíada é um campeonato misterioso, não dá para explicar como funciona… tudo pode acontecer. É muito maluco, a gente vê acontecer de tudo. Para o bem e para o mal. Os deuses do Olimpo precisam conspirar a favor, a energia tem de ser positiva, ninguém pode se machucar e agora ninguém pode pegar Covid.
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A Rio-2016 ainda está entalada?
Não porque não tenho raiva, não odeio o que aconteceu. Fiquei triste, claro, mas acredito no aprendizado.
Muito se falou da ausência de Thaisa e Fabiana. O meio é a posição que mais te preocupa?
As duas sempre tiveram entre as melhores do mundo. A Thaisa amadureceu, passou por momentos difíceis, conseguiu superar e hoje é a melhor o mundo na posição. E claro, ter uma Thaisa no time… acho uma pena ela não estar aqui. Mas também não tem como ficar lamentando. Temos boas centrais que terão de fazer muita força para chegar no nível de Thaisa e Fabiana. Mas têm essa possibilidade. São versáteis,experientes e se prepararam para este momento. As chances estão na mesa e vamos à luta!
O que espera viver em Tóquio?
Não sei ainda… Não sei se vai ter Olimpíada ou não.
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Você acha que os Jogos podem ser adiados? Acha que devem acontecer?
Ainda estou inseguro em relação à realização. Estamos nos preparando mas não sei. Não sei o que vai acontecer amanhã. Ainda é tudo muito incerto. É complicada essa pergunta. O momento é muito particular. Se as coisas melhorarem… Ainda temos tempo. Mas acho que as coisas precisam melhorar, os casos diminuírem. Mas se continuar assim ou se agravar, sou contra.
Se tivesse a oportunidade de falar sobre isso com Thomas Bach, o que diria a ele?
Para reavaliar, esperar mais um pouquinho. Sei lá, esperar até 15 de junho para bater martelo. É muita responsabilidade para todo mundo, para todos nós. Tenho visto que boa parte dos japoneses, incluído a classe médica, é contra. Eu sei muito pouco sobre este vírus, o mundo sabe pouco. Ele nos surpreende a cada dia. Um dia é uma coisa, em outro muda, ele muda… É muito risco. Mas veja que incrível. Mesmo neste contexto meu time na Superliga quase passou incólume. Só duas jogadoras tiveram Covid e no finalzinho. Então, não dá para saber.
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Você se sente seguro?
Não tenho medo por mim, não tenho medo de morrer. Vou morrer de qualquer maneira. Só não sei quando, como e onde. Estou servindo o meu país. Se tiver Olimpíada e o meu país quer que eu vá, eu vou. O que podemos fazer é tomar todos os cuidados.
Em julho, o evento será abraçado pela população mundial?
O que vamos fazer? Tóquio se preparou durante anos, com o maior carinho e dedicação… Tem isso também.
E na mala tem aquela cueca da sorte… de 2008?
(risos). Não, não… Troquei. A de 2008 nem sei onde está, nem a de 2012. Acho que não existem mais… Também não é assim. O ritual é diferente. Quando o time ganha eu repito a roupa toda, inclusive a cueca e as meias. Mas eu lavo logo após o jogo para dar tempo de secar.
Fonte: O Globo