Pode parecer duro o que será escrito, mas Vanderlei Luxemburgo foi o melhor e o pior na curta carreira de Talles Magno. Recai sobre o treinador boa parte da responsabilidade sobre o destino do atacante, prestes a se transferir para o New York City, dos Estados Unidos, sem quem os vascaínos sintam muita falta do talento que vai embora e da fortuna que um dia imaginavam que ele poderia gerar.

Foi Luxemburgo quem buscou o atacante, então reserva na equipe sub-20, para ser o pulo do gato do time profissional em 2019. Já na época, a ascensão meteórica pegou algumas pessoas de surpresa. Talles não era daqueles fenômenos como Neymar e Philippe Coutinho, cujos primeiros lances, ainda na infância no futsal, já indicavam um ponto fora da curva.

Tinha algum destaque, passagem por seleção brasileira de base, mas não era tido como fenômeno. Passou a ser depois que Luxemburgo foi seu trampolim. O técnico surpreendeu ao puxá-lo e ninguém teve coragem de questionar.

Até porque o conto de fadas é sedutor. O futebol brasileiro se alimenta da expectativa de magia, do novo fenômeno vindo do nada, e “Talles Mágico” era a síntese disso. Driblador. Sorridente. Dançarino na comemoração do gol. Nascia um novo craque com a assinatura do futebol-arte pentacampeão.

Além disso, o capítulo seguinte à ascensão meteórica é a venda milionária para o futebol do exterior. Era disso que o Vasco precisava, mais do que tudo. É disso que o clube ainda precisa e precisará pelos próximos anos. Então o cruz-maltino fechou os olhos para o que acontecia e que hoje reconhece que aconteceu.

Tanto que, dentro do departamento de futebol do Vasco, Talles Magno virou exemplo. Exemplo de como o clube não deve fazer a transição de seus jogadores da base para o time profissional. Talles subiu rápido demais, com expectativa demais. Em um time de qualidade de menos. Quando é assim, fica difícil recolocar a promessa no elenco sub-20 se for preciso. A torcida não entende. O jogador não entende.

A percepção da pressa não demorou. Passada a empolgação inicial, no fim de 2019, a comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo já dizia que era preciso trabalhar muito as finalizações. Quando voltou, no fim de 2020, o técnico disse publicamente que Talles precisava se dedicar mais nos treinos. A equipe de Marcelo Cabo, antes da iminente transferência para a MLS, dizia que Talles precisava ganhar força muscular. Veja o quanto que ainda faltava para o garoto.

O menos culpado disso é Talles Magno. Tão novo, teve de lidar com a expectativa gigantesca que talvez tenha vindo antes da hora. Passou a ser perseguido pela torcida nas redes sociais, perdeu o sorriso de antes, deixou de dançar em campo.

Ainda bem, tudo isso aconteceu e ele ainda tem 18 anos. Longe de São Januário, poderá escrever uma nova história. Provavelmente no New York City terá o tempo para amadurecer que não teve no Vasco. E se daqui a alguns anos, virar o que Vanderlei Luxemburgo viu em 2019, o conto de fadas se confirmará. Mas por linhas mais tortas que o necessário.