Ao buscar o argentino Hernán Crespo, a diretoria do São Paulo sabia exatamente o que queria: um time mais vertical, de muita construção e que procura o gol de forma objetiva sempre que está com a posse de bola. E é exatamente o que os dirigentes encontraram. Em pouco mais de dois meses de trabalho, o treinador transformou o tricolor paulista em um time protagonista do jogo. Já são nove partidas de invencibilidade na temporada 2021 e hoje a equipe pode aprimorar as estatísticas. Se vencer o Racing, na Argentina, nesta quarta-feira, às 19h, será o melhor início do clube na Libertadores, com três vitórias seguidas.

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A contratação de Crespo não foi no escuro. Depois de trabalhos modestos no Modena (Itália) e no Banfield, da Argentina, o ex-centroavante colocou o Defensa y Justicia no mapa sul-americano com o título da Copa Sul-Americana de 2020 ao bater o Lanús no início deste ano ? já sem o treinador, mas com o mesmo espírito, a equipe conquistou a Recopa ao vencer o Palmeiras.

? Crespo chegou ao Defensa depois de uma passagem irregular por outra equipe pequena da Argentina,o Banfield. Lá, ele não pôde terminar de impôr a sua ideia de jogo, mas deixou a base. Um conceito muito vivo para que o time chegasse à final do torneio passado (a Copa Diego Maradona) contra o Boca e perder apenas nos pênaltis. No Defensa, encontrou um clube com predisposição total ao seu estilo de jogo ? afirma o jornalista argentino Diego Macias, do Diário Olé, acrescentando que o River Plate já o vislumbra como umas possibilidades futuras para substituir Gallardo.

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A filosofia de jogo de Crespo segue com ele por onde vai. Um time com uma defesa bem montada, geralmente num esquema de três zagueiros, boa pegada e pressão no meio-campo e rápido nas finalizações. Seja na Libertadores ou no Paulista ?líder na classificação geral ?, a equipe mantém o padrão, apesar das mudanças na escalação por causa da pesada sequência de partidas. Um time que, como o recém-contratado Miranda disse, pretende atingir o nível do Flamengo, a equipe brasileira a ser batida.

. Foto: Arte O GLOBO
. Foto: Arte O GLOBO

 

Os números recentes do São Paulo são bons exemplos de que tudo que é treinado por Crespo vem sendo implementado em campo. Em 13 partidas, o time soma 35 gols marcados e apenas oito sofridos.

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Na Libertadores, por exemplo, a defesa ainda não foi vazada. Numa comparação com o time de Diniz na fase final do ex-treinador no Morumbi, mostra bem a transformação do time. Nos últimos 13 jogos do ex-treinador, o São Paulo marcou 16 gols e sofreu 17. Em todo 2020, levou 79 gols em 65 partidas, média de 1,22.

? Ele trouxe uma característica ao time que é a marcação individual como se fazia nos anos 80 na Itália. Contra o Bragantino, por exemplo, o Luan perseguiu o Claudinho o jogo todo ? analisa o comentarista do SporTV Paulo Vinicius Coelho, ressaltando outro ponto. ? Houve uma grande mudança de ambiente e a confiança foi retomada. Isso ajuda muito no início de um novo trabalho.

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O bom casamento entre Crespo e o elenco do São Paulo ? são poucas novidades no time em relação à temporada passada ? segue a cartilha do treinador de falar “a linguagem do campo?. A chave do sucesso tem sido a facilidade de comunicação com os atletas.

? O Crespo, como dizemos, é uma treinador que chega muito bem ao jogador e é simples na hora de transmitir a ideia que ele quer ver no gramado. Ganhar a Sul- Americana foi histórico e o Defensa manteve um estilo de jogo interessante. Agora no São Paulo, ele continua com essa intenção. Um cara muito aplicado taticamente e que procura ter uma equipe protagonista aonde quer que jogue. Seu bom presente não é sorte: é produto do seu trabalho ? disse Silvio Favale, repórter do argentino Olé.

Confiança aos atacantes

Dois casos são bem emblemáticos da boa lábia de Crespo em se fazer claro aos jogadores e recuperar a confiança deles: Braian Romero, do Defensa, e Pablo, do São Paulo. Sob o comando do argentino, os dois atacantes mudaram seu posicionamento em campo, receberam dicas valiosas do ex-centroavante e voltaram a fazer gols.

Romero, que teve passagem apagada no Athletico-PR, passou a atuar mais como um autêntico 9 e foi a figura central na conquista da Copa Sul-Americana e da Recopa.

Pablo estava escanteado na gestão Diniz e recuperou a posição ao lado de Luciano após a saída de Brenner. Em 10 jogos, o atacante fez quatro gols e deu duas assistências.