O último domingo reservou um momento emocionante para o esporte brasileiro: o jovem Alison Santos recebeu o bastão em quinto lugar e cruzou a linha em segundo, garantindo a medalha de prata para o Brasil no 4x400m misto no Mundial de Revezamentos da Silésia, na cidade de Chorzow, Polônia ? prova disputada por homens e mulheres que estreia no programa olímpico. A vaga em Tóquio já estava garantida, mas o pódio serve para começar a balizar o atletismo brasileiro em relação ao mundo a 80 dias dos Jogos.

#nuncaésóesporte:Vacinação de delegação olímpica é absurdo ético

Não é de hoje, ou melhor de anteontem, que os olhos do atletismo brasileiro estão voltados para Piu, como Alison é conhecido. O sprint do atleta de 20 anos é mais uma validação de um talento prestes a estrear em uma Olimpíada. Piu já era considerado uma das promessas do país nos 400m com barreiras graças ao currículo recente: campeão sul-americano, pan-americano, da Universíade e finalista no Mundial de Doha-2019, no Qatar.

Porém, as grandes competições, como as etapas da Diamond League, só acontecem a partir deste mês, quase às vésperas dos Jogos. E são elas o termômetro para saber as reais condições dos competidores em Tóquio. A medalha de prata do Brasil, por exemplo, é um grande resultado numa prova que nunca foi disputada em Olimpíada, mas os principais países não estavam presentes no Mundial.

? O resultado que a gente fez, ainda mais nas condições climáticas que encontramos, com muito frio, foi bom e fico feliz. Por ser um revezamento, uma prova de equipe, tem muito sentimento e muita energia envolvidos, o que deixa a gente ainda mais eufórico ? valorizou Alison, que retornou ontem para os EUA, onde está treinando e competindo. ? E fiquei feliz também com o meu desempenho individual, por ter corrido bem e pela chegada. Agora é melhorar cada vez mais o nosso individual para que o revezamento melhore como um todo.

Crescimento de Piu

Os feitos de Piu realmente devem ser valorizados. Ele aparece em quinto lugar na atualização mais recente do ranking mundial dos 400m com barreiras da World Athletics (atual nome da Federação Internacional de Atletismo, ex-IAAF).

Precaução:Por Covid, Brasil cogita não ir à cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio

Está ali brigando como nomes como o norueguês Karsten Warholm, o americano Rai Benjamin e o qatari Abderrahman Samba. Ainda é cedo colocá-lo como candidato a um pódio olímpico, mas as próximas competições e tempos podem mudar essa percepção. Neste ano, ele fez 48s15.

? Ele vai entrar folgadamente na final olímpica. É o nosso melhor atleta em evolução técnica. Mas o norueguês tem sido imbatível e será, provavelmente, a competição de mais alto nível técnico do atletismo. Numa final olímpica de prova com barreiras tudo pode acontecer. O cenário para ele é bem interessante ? analisa o comentarista e técnico Lauter Nogueira.

O custo do drible:Confederações perdem repasses federais por causa de reeleições infinitas

Até o momento, o atletismo conta com 28 vagas confirmadas, segundo o COB ? incluindo os revezamentos 4x400m misto e 4x100m masculino, que terminou em segundo no Mundial da Silésia, mas foi desclassificado por infração. São 22 homens e 6 mulheres.

Mas nenhuma dessas vagas, em tese, está totalmente garantida. A briga por índices e por uma melhor posição no ranking vai até o fim de junho. Exceto a maratona e a marcha atlética cujos índices só podem ser obtidos até o fim deste mês para que os atletas cumpram a quarentena exigida. A equipe brasileira de atletismo definitiva só será conhecida após todas as competições oficiais serem realizadas.

Editoria de arte Foto: O Globo
Editoria de arte Foto: O Globo

Expectativa com Darlan

A delegação ainda pode crescer com a conquista de novas vagas, como o 4x100m feminino, que foi desqualificado nas finais do Mundial ? assim como o masculino, cometeu o erro de pisar na linha. Ou as vagas atuais podem ser substituídas por outros atletas que obtenham índices ou ranking melhores. Além do circuito mundial, ainda haverá o Sul-Americano no final do mês (local indefinido), que vale pontos em dobro para o ranking, e o Troféu Brasil, início de junho.

? São poucos os atletas brasileiros que devem conseguir índice nesses dois meses. Há uma diferença muito grande entre a maioria daqueles já garantidos e os que têm a segunda ou terceira melhor marca brasileira ? diz Lauter.

Vacinação:O que dizem os atletas brasileiros já imunizados no exterior

Alguns nomes podem ser considerados certos, como Piu, Paulo André (100m rasos e 4×100), Erica Sena (marcha atlética), Caio Bonfim (marcha atlética), Samory Uiki (salto em distância), Thiago Braz (salto com vara) e Darlan Romani (arremesso de peso).

Darlan, inclusive, é a possibilidade mais concreta de medalha. É o único brasileiro entre os 20 primeiros do ranking geral de todas as modalidades da federação internacional ? está em 13º e é o 3º na sua modalidade.

? Darlan é o nome mais forte hoje. Mas é um atleta que precisa de ritmo de competição. Com três etapas da Diamond League, ele conseguindo bons resultado, vai chegar com condições de brigar pelo bronze em Tóquio ? afirma Lauter.