Vini Jr. nunca foi tão requisitado desde que chegou ao Real Madrid. O período de afirmação no clube coincide com maior desafio da carreira até o momento: a primeira semifinal de Liga dos Campeões da Europa. O adversário é o Chelsea, nesta terça-feira, às 16h (de Brasília, com transmissão da TNT), no estádio Alfredo Di Stefano, em Madri.

A temporada atual ainda não terminou, mas Vini Jr. já superou em muito as duas anteriores no que diz respeito ao tempo em campo. Somando todas as competições, ele já passou dos 2.253 minutos em campo, sendo titular em 24 dos 41 jogos dos quais participou. Por consequência, ele tem a melhor marca em gols desde que chegou ao Real Madrid: são seis até o momento. Na temporada passada, Vini teve 1.818 minutos, sendo titular em 17 das 38 partidas que fez. O número de gols ficou em cinco.

Depois de três temporadas no Real, o brasileiro de 20 anos olha para si e não se vê como antes. A mutação de Vini Jr. vai muito além do nome artístico, que já não é o mesmo dos tempos de Flamengo. Dessa equação faz parte o técnico Zinedine Zidane, a quem o jogador atribui muito do processo de evolução.

? Ele me dá muita confiança. Em termos táticos, é um dos treinadores que mais exigiu de mim. Graças a ele, faço coisas que antes não fazia. Hoje sou um jogador completamente diferente, mas com as mesmas qualidades que antes ? disse Vini ao site da Uefa.

 

Quem acompanha a carreira de Vini de perto aponta que essa transformação envolve tanto a parte defensiva quanto ofensiva. Parece clichê quando se trata de jogadores brasileiros na Europa, mas Vini precisou desenvolver disciplina tática na linha defensiva. Algo que, nos tempos de base do Flamengo, não precisava se apegar, já que a missão era desequilibrar na frente. No jogo ofensivo, nota-se um Vini mais consciente, sem tentar arrancadas a todo instante.

? A grande mudança foi encontrar o equilíbrio entre o jogador que ele é, uma fera indomável, e o jogador que o Zidane quer que ele seja: alguém que, além de atacar de forma voraz, é capaz de voltar para apoiar, abrir espaços. Hoje, Vini Jr. é mais equilibrado e menos frenético ? avalia Fernando Kallás, do “AS? e SporTV.

Vini Jr no Real Madrid Foto: Editoria de arte
Vini Jr no Real Madrid Foto: Editoria de arte

 

Na visão do próprio Vini, o francês Karim Benzema cumpre um papel crucial nesse amadurecimento. A dobradinha tem rendido frutos pelo lado esquerdo do ataque madrilenho. As dificuldades físicas de Hazard propiciaram a brecha no time titular.

Fora de campo, o acolhimento de outros medalhões do Real Madrid tem surtido efeito. Casemiro e Marcelo são os responsáveis pelo aconselhamento. A relação com Militão, que também tem sido titular na zaga, e Rodrygo ameniza a ausência de alguns parentes. Familiares mais próximos estão na Espanha com Vini, mas o jogador não vem ao Brasil desde o Natal de 2019.

Os dois gols no jogo de ida contra o Liverpool, nas quartas de final da Champions, são o melhor extrato da evolução de Vini. O primeiro, especificamente, teve alto grau de dificuldade, após lançamento de Toni Kroos.

– O jeito que ele mata no peito naquela velocidade e, sem nem pensar, já arremata, é gol de atacante veterano. Não é normal o Zidane dar tantas oportunidades para um jogador e não é fácil um jogador conseguir sair do buraco como ele saiu depois de passar por uns momentos muito ruins no começo da temporada. É porque ele tem um talento especial e também porque ele mostra vontade incansável de querer evoluir. Não é à toa que o Florentino Pérez já disse várias vezes: “Não se vende e não se toca” – completa Kallás.

Quando questionado sobre o aproveitamento nas finalizações, Vini Jr. recorre ao termo “trabalho”. Os treinos específicos do fundamento ganharam intensidade quando Zidane voltou ao Real Madrid, em março de 2019. Mas a pandemia mexeu no calendário, no ritmo de treinamento e aumentou a atenção para prevenção de lesões. Assim, a carga de treinos é reduzida.

De qualquer forma, os seis gols na atual temporada – melhor marca em três anos de clube – servem como argumento ainda mais difícil de ser batido. E ir bem contra o Chelsea pode fazê-lo voar ainda mais alto e deixá-lo mais perto de uma conquista inédita.