A soma de frustrações desportivas deixa ainda mais complicada a tarefa de estancar a sangria financeira no Botafogo. O cenário é recorrente ? especialmente de 2017 para cá ? e ajuda a explicar o motivo do colapso financeiro que afeta o clube. Não se trata de uma exclusividade da gestão Durcesio Mello, que assumiu a presidência em janeiro.

A eliminação mais recente, na segunda fase da Copa do Brasil, significa que o clube deixará de receber, de imediato, R$ 1,7 milhão pela disputa da terceira fase. Essa era justamente a meta mínima colocada na proposta orçamentária para 2021. O documento, inclusive, foi aprovado na segunda-feira, dois dias antes da derrota nos pênaltis para o ABC, em Natal.

Em uma lista elaborada pelo GLOBO, considerando em qual fase e contra quem os 16 melhores do ranking da CBF foram eliminados da Copa do Brasil, o Botafogo é quem acumula o índice mais alto de decepções.

Nos últimos anos, o alvinegro perdeu para a Aparecidense (então na Série D), na 1ª fase de 2018; o Juventude (na Série C), na 3ª fase de 2019; e o Cuiabá (à época na B) nas oitavas do ano passado.

O montante de R$ 1,7 milhão faz falta para qualquer clube no cenário atual da pandemia. Mas essa ausência cresce de escala por se tratar do Botafogo, que já experimenta uma queda de receitas (na casa dos R$ 100 milhões, no mínimo), fruto do rebaixamento à Série B.

? Todo mundo está ciente disso. Inclusive o elenco. A gente contava com esse dinheiro. Em clube com um passivo alto, que está com queda brusca de receitas. Faz uma falta tremenda ? diz o vice-presidente geral e de finanças do Botafogo, Vinícius Assumpção.

No orçamento, a estimativa do Botafogo era arrecadar cerca de R$ 145 milhões em 2021, mas essa meta já começa a ficar comprometida. A diretoria, inclusive, já planeja uma readequação orçamentária a ser feita em dois ou três meses.

?Aprovamos uma proposta que não será uma cerca. Será uma bússola. Daqui a dois, três meses, vamos apresentar outra. Em um orçamento sério, se eu perdi R$ 1,7 milhão, tenho que suprir isso. Vamos achar receita nova ou cortar em algum lugar ? analisa Assumpção.

A frase do zagueiro Kanu, um dos líderes do elenco, a um torcedor que protestava na saída do estádio Frasqueirão, resume bem o cenário:

? Irmão, não tem dinheiro.

O efeito da queda na Copa do Brasil vai além dos números do balanço de 2021, que sairão em 2022. Dá para sentir agora. O Botafogo a cada mês tem um rombo no fluxo de caixa que fica na casa de R$ 10 milhões. Aí, o bolo de déficit vai crescendo.

? A cada mês é um buraco desse. Isso foi falado na reunião do Conselho Deliberativo ? acrescentou o VP.

Sem bilheteria, ainda sem consolidar a receita do Carioca e vendo os resultados de campo afastarem o sócio-torcedor, a reconstrução do time fica mais complicada. A contratação do atacante Anselmo Ramon está travada porque a Chapecoense quer o pagamento de R$ 1 milhão.

No estadual, a chance de ida às semifinais parece remota: em sexto, faltando duas rodadas, o Bota está quatro pontos atrás do Fluminense. Com a chegada da Série B, o quadro financeiro tende a se amenizar, mas a cota de TV não é o suficiente para resolver a questão. Por isso, o movimento do Botafogo é de buscar novas receitas e reduzir custos.

? A eliminação é horrível para todos, péssima em todos os sentidos. Estamos decepcionados ? disse o técnico Marcelo Chamusca.

No começo de abril, o Botafogo divulgou uma nota na qual disse estar avaliando “a continuidade de modalidades esportivas e outras atividades que não sejam autossustentáveis?.