Ao menos 504 dos 3.205 servidores da Presidência da República já contraíram o novo coronavírus até agora — 43 deles só em março. O dado é o último disponível e foi encaminhado pela Secretaria-Geral da Presidência da República ao Estadão. O número indica que 15,7% dos servidores já enfrentaram a covid-19.
Segundo infectologistas, eventos em ambientes fechados são a principal forma de espalhamento do vírus, e devem ser evitados. Mas, desde o começo da pandemia, esta recomendação tem sido ignorada pelo presidente Jair Bolsonaro – o mandatário promoveu e participou de pelo menos 41 cerimônias com aglomeração de pessoas no Palácio do Planalto do início da pandemia até o fim de março deste ano.
Enquanto o número de mortes no país crescia, centenas de pessoas participaram de eventos como posses de ministros, cerimônias de sanção de leis e até lançamento de selo postal comemorativo. Em várias ocasiões, Bolsonaro estava sem máscara.
A demografia dos servidores do Planalto também contribui para aumentar a gravidade do problema. Dos 3.205 mil servidores da Presidência, quase um terço (1.031) têm mais de 50 anos. No fim de março, um estudo com dados de mais de 70 mil pacientes publicados pela revista médica britânica The Lancet mostrou que a doença fica mais grave em pacientes a partir desta idade.
Estão neste grupo o próprio presidente Jair Bolsonaro, que completou 66 anos em março; e três dos quatro ministros que despacham no Palácio. Já passaram dos 50 os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil (64 anos); Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência (66); e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (73). A exceção é a titular da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (41).
A contaminação de servidores da Presidência atingiu o pico em julho de 2020, quando foram registrados 116 novos casos de servidores com a doença. Nos meses seguintes, o volume de novos casos declinou. Em março de 2021 voltou a acelerar, com 43 novas contaminações. No mês anterior, fevereiro, foram registrados apenas 17 novos casos. Ao menos um servidor morreu em decorrência da covid-19: o segundo sargento do Exército Silvio Kammers, que trabalhava no gabinete pessoal do presidente.
Se o Palácio do Planalto fosse um país à parte, estaria em segundo lugar no ranking mundial de infecções pela covid-19. Com uma taxa de contaminação de 15,7 por 100 mil, a Presidência da República brasileira só perderia para o principado de Andorra, uma pequena nação com 77 mil moradores na Europa. A taxa de casos em Andorra é de 16,2 casos por 100 mil nesta terça-feira, dia 13, segundo informações do site Our World in Data, desenvolvido pela Universidade de Oxford.
A taxa de infecção na Presidência da República – 15,7 por 100 mil — superaria com folga o segundo colocado no mundo real, Montenegro (15,0). Também seria quase três vezes maior que a taxa da população brasileira como um todo, que hoje é de 6,3 por 100 mil habitantes.
O infectologista Rivaldo Venâncio relativiza o número de infectados no Palácio do Planalto. Segundo ele, é possível que a taxa entre os servidores da Presidência seja mais alta que na população em geral por causa do maior acesso dos servidores à testagem para a covid-19, em comparação com os demais.
“Essas pessoas de uma forma ou de outra foram infectadas, por um infortúnio, o que não necessariamente se deu no ambiente de trabalho. Agora, eu não diria que é um número espantoso. Temos visto inquéritos epidemiológicos em outros locais (no Brasil) mostrando a presença de anticorpos em patamares inclusive superiores”, diz ele, que é o atual coordenador de Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Outros Poderes também foram atingidos pela doença. Até fevereiro deste ano, por exemplo, a Câmara dos Deputados registrava 103 casos de infecção pelo novo coronavírus entre os deputados e 541 entre servidores ativos (concursados e comissionados). Os dados foram obtidos pelo Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação. A força de trabalho na Câmara é muito maior que a da Presidência da República, somando 14,5 mil pessoas. Ou seja, só 3,7% dos servidores contraíram a doença. Nesta semana, morreu o primeiro deputado por complicações da covid, José Carlos Schiavinato (Progressistas-PR).
Prevenção. Em resposta à reportagem do Estadão, a Presidência da República detalhou medidas que estão sendo tomadas para tentar reduzir a transmissão do vírus. De julho de 2020 a março de 2021, foram 174 “sanitizações” nos palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu e da Residência Oficial da Granja do Torto, além da aquisição de totens com álcool em gel e tapetes sanitizantes para os pés. Servidores com mais de 60 anos e em grupos de risco passaram a trabalhar remotamente, e o acesso do público aos prédios foi reduzido.
“A Coordenação de Saúde da Presidência da República mantém a orientação para que os servidores procurem a assistência médica quando apresentarem quaisquer sintomas relacionados à Covid-19, a fim de avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame”, afirmou a Presidência, em nota.
“A Presidência da República também tem promovido, desde março, orientações sobre cuidados pessoais aos servidores e colaboradores, seja por meio de painéis, e-mails ou textos informativos na intranet. Nessas orientações, tem-se destacado os cuidados com a higienização das mãos, uso correto de máscaras, distanciamento social e, inclusive, os cuidados necessários ao chegar em casa, após o trabalho”, diz o texto.
“Com cerca de um terço dos servidores em trabalho remoto (teletrabalho) ou em escala de revezamento, a Presidência da República busca continuamente manter o ambiente de trabalho o mais seguro possível e não hesitará em adotar procedimentos complementares, caso necessário”, continua o órgão. / COLABOROU CAMILA TURTELLI
Leia abaixo a íntegra da resposta da Presidência da República:
“Diante do estado de emergência relacionado ao Coronavírus (Covid-19), desde o início da pandemia, foram prontamente adotadas nas dependências da Presidência da República as seguintes providências, à luz das orientações emitidas pelas autoridades federais e distritais competentes:
– aquisição adicional de dispenser e totens para álcool em gel, além de tapetes sanitizantes para instalação nos prédios da Presidência da República, possibilitando a intensificação dos procedimentos de assepsia de servidores, colaboradores e eventuais visitantes,
– realização de 174 sanitizações de ambientes nos Palácios do Planalto, da Alvorada, do Jaburu, nas Residência Oficial da Granja do Torto, nos Anexos e instalações da Via N2, no período de julho de 2020 a março de 2021, além de sanitização semanal dos ambientes da Coordenação de Saúde (COSAU),
– foram intensificados os procedimentos de limpeza das áreas comuns, especialmente dos banheiros, e das salas dos servidores, mediante a utilização do álcool líquido 70 e 90, mais especificamente nas mesas e aparelhos eletrônicos,
– utilização de equipamentos tecnológicos de última geração e de alta performance, que possibilitam maior aproveitamento dos insumos de higienização e redução da intervenção humana em áreas críticas com alto fluxo de pessoas, como lavadoras sanitizadoras, lavadora a vapor, etc,
– servidores pertencentes ao chamado grupo de risco (acima de 60 anos, imunodeficiente, possuidor de doença crônica preexistente ou responsável pelo cuidado de pessoa com suspeita ou em tratamento de covid-19) foram dispensados do trabalho presencial para desempenhar suas funções na modalidade trabalho remoto,
– colaboradores terceirizados do grupo de risco foram imediatamente afastados, independentemente do serviço prestado,
– adequação inicial dos espaços do restaurante comercial e da lanchonete de acordo com o espaçamento entre as mesas, conforme medidas de prevenção à covid-19 ou fornecimento de marmitex, tendo em vista a publicação do Decreto Distrital nº 41.874, de 08/03/2021,
– acesso às agências bancárias e aos Correios ficou restrito a servidores e colaboradores da PR,
– as visitações ao Palácio do Planalto e ao Palácio da Alvorada foram suspensas por tempo indeterminado; assim como as exposições,
– realização de sanitização dos ambientes do Palácio do Planalto e dos Anexos;
– a fim de manter o público interno permanentemente atualizado sobre as medidas de proteção para o enfrentamento à Covid-19, são publicados na Intranet da PR documentos denominados ‘Esclarecimentos sobre o Coronavírus’, que são atualizados imediatamente à publicação de novas normas,
– aquisição de testes rápidos IGG/IGM, testes PCR e de termômetros para aferição de temperatura,
– atendimento na COSAU de casos emergenciais,
– direcionamento para o trabalho remoto de todos os servidores e empregados públicos cuja saúde ou situação pessoal implique risco de contágio do coronavírus; e
– estabelecimento de turnos de revezamento para os serviços de segurança, saúde e demais de natureza essencial à PR.
A Coordenação de Saúde da Presidência da República mantém a orientação para que os servidores procurem a assistência médica quando apresentarem quaisquer sintomas relacionados à Covid-19, a fim de avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, a Presidência da República também adotou inovações tecnológicas nos protocolos de limpeza e passou a realizar desinfecção das áreas comuns com máquinas de alta tecnologia, limpeza detalhada de equipamentos dos servidores (computadores, teclados, telefones, etc) e ampliação do fornecimento de dispenser de álcool em gel em suas dependências, anexos e adjacências.
A Presidência da República também tem promovido, desde março, orientações sobre cuidados pessoais aos servidores e colaboradores, seja por meio de painéis, e-mails ou textos informativos na intranet. Nessas orientações, tem-se destacado os cuidados com a higienização das mãos, uso correto de máscaras, distanciamento social e, inclusive, os cuidados necessários ao chegar em casa, após o trabalho.
Com cerca de um terço dos servidores em trabalho remoto (teletrabalho) ou em escala de revezamento, a Presidência da República busca continuamente manter o ambiente de trabalho o mais seguro possível e não hesitará em adotar procedimentos complementares, caso necessário.
Vale lembrar que no dia 03 de fevereiro de 2020, portanto ainda no início da pandemia, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, decretou emergência de saúde pública em território nacional.”
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Fonte: Terra Saúde