O cenário ainda pouco detalhado a respeito da vacinação que a Conmebol se propõe a liderar ao conseguir 50 mil doses junto à empresa farmacêutica Sinovac divide os clubes que participam da Libertadores. O presidente do Santos, Andres Rueda, foi o primeiro a se manifestar, criticando a iniciativa. De todo modo, o tratamento do assunto, em geral, é com cautela.

Até a CBF se vê um pouco no escuro, já que a Conmebol anunciou a doação do lote de vacinas nesta terça-feira, sem um detalhamento do plano de aplicação em cada país. Além da questão ética, é preciso resolver pendências jurídicas, legais e de logística.

 ? O Internacional tem consciência do momento difícil que vive a sociedade. Não esquecendo a suma importância do futebol no seu papel social dentro do mundo esportivo e fora dele também. Assim, sempre estaremos acompanhando a luta diária para vencermos esta pandemia. Com relação ao tema do possível fornecimento de vacinas aos clubes pela Conmebol, não temos informações detalhadas desse processo, pois não fomos informados oficialmente e, em nenhum momento, descumpriremos as legislações brasileiras e nem tampouco estaremos desconectados do momento difícil que passa a saúde de milhões de brasileiros  ? disse Alessandro Barcellos, presidente do Internacional.

Por mais que a negociação da Conmebol junto à Sinovac tenha sido via governo uruguaio, o santista Andres Rueda ponderou que a iniciativa de vacinar os jogadores coloca a classe como prioritária em relação a outras camadas da sociedade. A Conmebol, inclusive, espera que a vacina chegue ao Uruguai em maio.

? Eu não vejo com bons olhos. Acho que no momento que a sociedade está vivendo, você começar a dar vantagens para algum nichos, acho meio desumano. O futebol é divertimento, é entretenimento. Por que eu, só por que sou presidente de um clube, vou tomar vacina na frente do carregador de papelão na rua? Não vejo com bons olhos. Isso demonstra que o poder econômico pode ir até determinado ponto. Quando a gente fala de vidas… vidas não têm preço, não têm carimbo, se é real, se é dólar, se é euro, isso está acima dessa questão ? disse ele, durante o programa “Seleção SporTV”.

O GLOBO consultou outros participantes da Libertadores.

? O Grêmio irá avaliar o processo sob o ponto de vista ético e humanitário. Existem categorias que, neste momento, impactam mais na busca pela normalidade do convívio social e comunitário, e por isso precisam ser tratadas de forma prioritária. O futebol, mesmo com os seus cuidados, não pode se antepor ao tema que é de cunho coletivo ? disse o presidente gremista, Romildo Bolzan.

O departamento de comunicação do Atlético-MG disse que o clube é a favor da iniciativa da Conmebol. No São Paulo, o fato de não haver um ofício enviado diretamente – como citado pelo presidente do Inter  ? ainda freia qualquer posicionamento. O Palmeiras ainda avalia o cenário.

O Flamengo vai em caminho similar e considera prematuro emitir qualquer opinião no momento. Mas os dirigentes rubro-negros ponderam que há dúvidas sobre o sucesso do plano da Conmebol diante das questões legais brasileiras relacionadas à vacinação. Há um projeto de lei tramitando no Congresso para permitir que entidades privadas adquiram e apliquem vacinas. Por ora, isso é prerrogativa exclusiva do sistema público de saúde, obedecendo uma ordem de prioridades.

O Fluminense não vai se posicionar, por ora.