O Palmeiras joga nesta quarta-feira na Argentina pela Recopa. No domingo, enfrenta o Flamengo na Supercopa do Brasil, em Brasília. O alviverde está ainda na expectativa de saber quando atuará de novo pelo Paulistão. A agenda do atual campeão da Libertadores é um dos elementos que explicam por que o futebol não cogita parar novamente diante da pandemia e não recorre a uma “bolha?, a exemplo da NBA na temporada passada.

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Sem um esquema de bolha, competições como a Libertadores ficam sujeitas a alterações a qualquer momento. O Grêmio viajou para Quito, onde enfrentaria também nesta quarta o Independiente del Valle. O técnico Renato Gaúcho, com Covid-19, nem embarcou. Já no Equador, o goleiro Paulo Victor e o lateral-direito Vanderson testaram positivo e foram isolados. O clube gaúcho não pôde deixar o hotel para treinar e as autoridades equatorianas não autorizaram o jogo. A Conmebol transferiu o duelo para sexta-feira, em Assunção (PAR), às 19h15 (de Brasília).

A implantação de uma bolha foi um dos caminhos indicados por Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da USP, em entrevista ao GLOBO na semana passada. Ele coordenou o estudo acadêmico que analisou os testes de mais de quatro mil jogadores de 122 clubes paulistas e constatou percentual de contaminação do vírus em 12% dos atletas, um nível semelhante aos resultados envolvendo profissionais de saúde.

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As bolhas, no entanto, estão fora do radar do futebol brasileiro e sul-americano. Principalmente no topo da pirâmide. Há barreiras de calendário e estruturais.

? Não discutimos isso ? disse o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, sobre as reuniões com a CBF que se desenrolaram desde a paralisação em 2020.

Ao contrário da NBA, o futebol tem um sistema administrativo em forma de pirâmide. Associações nacionais são ligadas a confederações, mas cada lado com seus contratos e interesses comerciais. Libertadores, Brasileirão, estaduais, Copa do Brasil em algum momento se entrelaçam. De quem seria a prioridade?

A Conmebol não imagina uma concentração de clubes em um mesmo local para fazer suas competições. Libertadores e Sul-Americana têm uma fase de grupos com 32 times. O sorteio das chaves será sexta-feira.

Os dirigentes se perguntam: haveria lugar com quantidade de estádios necessária, hotel e campos de treinamento disponíveis para juntar todo mundo? Não.

O cenário se replica nacionalmente. A Copa do Brasil traz o maior desafio logístico, com clubes de todas as regiões atravessando o país para entrar em campo onde for possível. Com a restrição ao futebol em São Paulo, o Corinthians foi mandar jogo em Saquarema. O Ypiranga-AP, em Mesquita.

Quando a NBA recorreu à bolha, usou as instalações da Disney, em Orlando, para dar fim à temporada 2020. Nem todos os times foram inseridos: oito franquias sem chances de vaga nos playoffs foram preteridas.

O sistema de remuneração da liga permite esse tipo de decisão. No futebol brasileiro, “cortar? times de torneios traria prejuízo financeiro (direitos de transmissão) e consequentes repercussões na Justiça.

? A única bolha que teve foi a da NBA. Bolha mesmo é quando ninguém entra e ninguém sai. Onde funcionário vai e vem, não tem bolha ? explica Jorge Pagura, coordenador da Comissão Nacional de Médicos da CBF.

Sub-18 com ‘semibolha’

O mais perto que a CBF chegou de criar uma bolha foi na realização do Brasileirão sub-18 feminino. A primeira fase foi toda disputada em Sorocaba, entre o fim de janeiro e início de fevereiro. Os 24 clubes usaram a estrutura do CT do Atlético Sorocaba e ficaram em seis hotéis na cidade do interior paulista.

? Fizemos uma “semibolha?. Aumentamos o nível de testagem. Cinco pessoas deram positivo, foram isoladas e não tivemos contaminação. Mas foi em um tiro curto ? explicou Pagura.

Nessa maratona, os times jogaram dia sim, dia não. Foram seis rodadas. A segunda fase, com dois grupos de quatro e três rodadas, se concentrou em Criciúma.

Orientações novas

Sem parar as competições, a CBF se escora no protocolo médico, que recebeu algumas atualizações para 2021. Uma recomendação aos clubes envolve máscaras: recorrer ao modelo PFF-2 (profissional) ou usar duas máscaras (uma de tecido e outra cirúrgica).

A demanda por testes PCR também se estende aos membros da comissão técnica que ficam no campo, e não só a jogadores e treinador. A CBF criará ainda um certificado imunológico temporário. O teste PCR é obrigatório para quem é considerado “suscetível? à contaminação com o coronavírus: quem testou negativo e não tem anticorpos.

A entidade estende a necessidade de testes periódicos a funcionários de hotéis com atuação mais próxima às delegações. Será criada a figura do fiscal sanitário em estádios e concentrações. Isso já vale para a Supercopa do Brasil. Flamengo e Palmeiras, inclusive, serão testados nesta quinta e no sábado.