Quando tudo isso passar, o mundo do futebol vai estar diferente. Transições e mudanças de geração têm seu próprio calendário, e, enquanto os torcedores ficam longe dos estádios por causa da pandemia, seus ídolos vão enfrentando a passagem do tempo. O que parecia inimaginável para toda uma geração já começou a acontecer: Messi e Cristiano Ronaldo dão sinais de que não serão mais jogadores dominantes. Antes de continuar o raciocínio, é preciso exercer a cautela de dizer que eles continuam espetaculares, que ainda são as estrelas de times de ponta da Europa e que, apesar de terem ambos caído nas oitavas de final da Liga dos Campeões (pela primeira vez em 16 anos), podem muito bem voltar a conquistar títulos nos anos de carreira que lhes restam. Mas já é hora de pensar na troca da guarda.

Lewandowski, o escolhido pela Fifa como melhor jogador da temporada marcada pela Covid-19, parece muito menos um candidato natural a assumir o trono do que o homem certo no lugar certo na hora certa (como costuma ser dentro da área), o representante da máquina de conquistar títulos do Bayern de Munique. Os olhos de quem procura os herdeiros de Messi e Ronaldo têm se voltado mais para dois jovens: Mbappé, perto do fim de seu contrato com o PSG, e Haaland, a sensação norueguesa que está sendo oferecida pelo agente e pelo pai num tour pelos principais clubes da Europa. Real Madrid e Barcelona se assanham com a possibilidade de serem, mais uma vez, as camisas com as quais se luta pelo posto de número um do mundo.

E, perdido no meio desse caminho, está Neymar. Às voltas com mais uma lesão, o camisa 10 da seleção brasileira voltou a campo ontem, para que seu novo treinador, Mauricio Pochettino, pudesse avaliar suas condições para a próxima rodada da Liga dos Campeões ? e também para defender a liderança do Campeonato Francês, o que, na ordem atual do futebol mundial, não está no topo da lista de prioridades. Brigou com um adversário, foi expulso e o PSG perdeu. Não se trata, claro, de dizer que essa sequência ? lesão, retorno, confusão ? é um retrato de sua carreira. Mas é difícil escapar da sensação de que são esses os obstáculos ao sonhado posto de número um do mundo.

Neymar já foi campeão e protagonista na Liga dos Campeões da Europa ? quando ainda jogava pelo Barcelona, ao lado de Messi. Terminou a competição como artilheiro e decidiu o jogo mais difícil, a “remonatada? contra seu atual clube. Mas, na hierarquia que ainda não mudou no futebol mundial, se o time de Messi é campeão, o destaque terá sido Messi. Essa avaliação foi importante na decisão do brasileiro de escolher o caminho do PSG. Para consolidar a carreira solo, ainda falta a glória europeia, que na temporada passada esbarrou justamente no Bayern de Lewandowski, que o sorteio botou no caminho bem antes da final deste ano.

Para diferenciar-se de Messi e Cristiano, ainda resta a Copa do Mundo, distante do imaginário sul-americano com as Eliminatórias paradas. Mbappé já foi campeão com a França, Haaland terá dificuldade até de participar com a Noruega. Já aprendemos a não fazer previsões com relação à pandemia, mas todos esperamos que até lá ela já tenha ficado no passado. Aliás, com o futebol também é prudente não prever nada. Juntando os pontinhos, porém, o Catar vai se tornando o palco de que Neymar precisa para brilhar entre duas gerações.