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Landim defende valores oferecidos pelo Flamengo às famílias das vítimas do incêndio



Pela primeira vez desde o incêndio que matou dez jogadores da base no Ninho do Urubu, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, concedeu uma entrevista coletiva na qual não se limitou a fazer um pronunciamento. Durante pouco mais de 1h, ele defendeu a postura do clube em relação às famílias das vítimas, deu o motivo de não ter aceitado a proposta inicial de indenização e reforçou o entendimento de que o incêndio no CT foi uma fatalidade.

Ao lado do vice-presidente geral e jurídico do Fla, Rodrigo Dunshee de Abranches, e do CEO Reinaldo Bellotti, Landim disse que o intuito é negociar um valor específico com cada família. No entendimento do Flamengo, o contexto de cada um dos jogadores que morreram é diferente.

– O que foi colocado antes do processo de mediação foi um piso de discussão, que nós entendemos que é muito acima de toda e qualquer decisão que aconteceu. O Flamengo quer equacionar com valores acima, mas que já são o dobro da jurisprudência. O que não quer dizer que, se pedirem 10 vezes, 100 vezes o valor da jurisprudência, nós iremos aceitar – disse Landim.

Na semana passada, o Ministério Público informou que a proposta inicial rubro-negra ia de R$ 300 mil a R$ 400 mil por família. Por outro lado, o valor desejado pela câmara de conciliação era de R$ 2 milhões e R$ 10 mil mensais até 45 anos. O clube rejeitou. Na sexta-feira, em conversa com as famílias, o Fla chegou a topar pagar R$ 700 mil, sem sucesso.

Por enquanto, os parentes recebem um auxílio de R$ 5 mil mensais. Sob o argumento da segurança das famílias, o Fla não quis confirmar quanto ofereceu como indenização. Landim apenas desmentiu o lado do MP:

– Da forma com que as informações saíram, a resposta é que não foram aqueles valores apresentados.

Outra questão que não ficou clara é quais são, de fato, os casos usados pelo Flamengo como jurisprudência. Os repórteres insistiram por mais de três vezes na questão e receberam respostas vagas.

– Infelizmente, não é a primeira vez que uma tragédia como essa acontece. Há parâmetros similares. Existem diversos casos pelo Brasil a fora de crianças que morreram dentro de clubes. Existe uma jurisprudência sobre o caso de um menino que morreu numa escolinha – limitou-se a dizer o advogado Álvaro Piquet, que atua pelo Fla.

O presidente do Flamengo aproveitou a ocasião para tentar amenizar a impressão de que há um clima de confronto com as famílias. Landim citou que, na reunião de sexta-feira, duas famílias já vieram com advogadas. O aparente entendimento entre as partes de que a conciliação iria para uma determinada rota foi alterado, segundo o dirigente, justamente pela atuação das duas representantes.

– Entendemos que é um momento difícil, mas percebemos que, de alguma forma, essas duas conseguiram criar um clima no grupo. Acabado aquele momento, fomos procurados pelas famílias em busca do processo de mediação com o TJ-RJ. Isso já está ocorrendo. Não posso garantir que todas vão seguir esse caminho – citou Landim, assegurando que já houve uma reunião na própria sexta-feira e que outras “estão marcadas”.

CADÊ O ALVARÁ?

Landim foi confrontado com as informações vindas da Prefeitura do Rio sobre a falta de alvará para o funcionamento do Ninho do Urubu. Empossado no fim de dezembro, o presidente assegurou que a gestão não sabia das pendências com os órgãos públicos, citando que a última multa antes do incêndio fora aplicada em 12 de dezembro. Pelas contas do Fla, inclusive, a Prefeitura emitiu 23 autos de infração contra o clube, sendo 12 após o acidente.

Quando ao Certificado de Autorização do Corpo de Bombeiros, outro documento pendente, o presidente do Flamengo argumentou que a velocidade da evolução estrutural no Ninho foi maior do que a da fiscalização pública.

– Quando foi levado para os Bombeiros, pedimos que fosse feito o licenciamento do CT 1, que era o que existia. Não tinha o 2, que começou a ser construído no fim de 2017. Todas aquelas autuações foram em relação ao CT1. Temos o registro de diversas idas aos Bombeiros. Uma série de exigências foram feitas, até que viu-se que já existia um novo CT2. A orientação em 2017 era que se fizesse por partes. O licenciamento dos Bombeiros se estendeu por tanto tempo, que quando chegou o licenciamento para o CT1, já existia o CT2 – comentou Landim, ressaltando que um novo pedido de licenciamento de toda as instalações já foi protocolado junto aos Bombeiros.

Tanto profissionais quanto jogadores da base não estão mais usando o CT para pernoitar. Mas por que, diante de interdições e multas, o Flamengo segue treinando no Ninho do Urubu?

– As ações que o Flamengo tem dentro do CT estão limitadas ao campo. Ninguém está pernoitando. Qual o risco que esse tipo de atividade oferece? Eu diria que é nenhum. É por essa razão que estamos deixando o time treinar lá. Entendemos que é a própria autoridade que entende dessa forma. O Ministério Público pediu para interditar tudo, mas não existe uma decisão judicial sobre isso – rebateu o presidente

RESPONSABILIDADE

Indagado sobre quais seriam os erros do Flamengo no cuidado com os jogadores e com a estrutura, Landim não quis apontar uma questão específica e ressaltou que o incêndio foi uma fatalidade.

– Aconteceu. Não posso imaginar que alguém diga que o Flamengo não fez alguma coisa porque não cuidava ou não estava ligando – disse ele, sem querer responsabilizar a gestão anterior:

– No momento em que sentei na cadeira, a responsabilidade para tocar as coisas é minha. Mas não estou deixando de contar com a colaboração de ninguém para contribuir com os esclarecimentos.

Fonte: O Globo


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