Principal novidade na Série A deste ano, o limite na troca de treinadores gerou críticas e elogios de técnicos e dirigentes, como era esperado diante de uma decisão tão apertada. Na reunião dos clubes com a CBF, foram 11 votos a favor e nove contra a proposta.
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Neste Brasileirão, cada equipe só poderá demitir um treinador; e cada técnico só poderá pedir demissão e assumir outro time uma vez. Se um clube demitir um treinador pela segunda vez, só poderá efetivar no cargo um outro profissional que já seja funcionário do clube. A medida também valerá na Série B.
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Os treinadores mostraram sentimentos ambíguos. Ao mesmo tempo que acreditam que existirá maior estabilidade, temem o aumento de demissões após os Estaduais.
? A regra acaba obrigando clube e treinador a se aprofundarem mais nas suas escolhas. Isso, na minha opinião, gera um processo seletivo melhor e mais profundo, mas pode gerar efeitos colaterais como uma troca de treinadores em massa aos finais dos Estaduaisl. Pode ter também os clubes invistam mais em auxiliares fixos de maior qualidade para que, em caso de demissão, eles assumam o clube ? opina Eduardo Barroca.
? É o primeiro passo em direção a melhorar essa relação, mas ainda precisamos avançar em outros aspectos. A decisão apertada mostra que os próprios clubes ainda não têm opiniões convictas. Além disso, estamos falando de Brasil, onde são muito comuns as mudanças e jeitinhos diante da Legislação. Isso, infelizmente, é cultural ? completa Zé Ricardo.
Na votação entre os 20 clubes da Série A, os votos contra foram de Athletico, Atlético-GO, Bahia, Ceará, Cuiabá, Grêmio, Flamengo, Fortaleza e Juventude. Já os a favor foram de Atlético-MG, América-MG, Bragantino, Chapecoense, Corinthians, Fluminense, Internacional, Palmeiras, São Paulo, Santos e Sport.
Entre as equipes, os blocos dividiram-se na votação. Quem é contra, como o presidente Adson Batista, do Atlético-GO, vê a decisão ferindo “a autonomia dos clubes? e administrações.
O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, tem pensamento parecido. Ele acredita que a decisão de demitir ou não deve ser da gestão. Curiosamente, o tricolor tem o técnico mais longevo da elite ? Renato Gaúcho.
? Por trás da boa intenção, da moralização, está uma grande questão corporativa. Ter um treinador longevo é um conceito de gestão. Para nós é importante, faz parte do projeto. Mas quem achar que não, que possa trocar até mais de uma vez ? disse Bolzan.
Do outro lado, Mário Bittencourt, que preside o Fluminense e votou à favor da limitação, acredita que decisão irá evitar o desequilíbrio competitivo.
? A limitação possui a mesma natureza desportiva existente na troca de jogadores de um clube para o outro. Entendo que um treinador que passa por três ou quatro clubes no mesmo campeonato causa desequilíbrio competitivo assim como a regra já proíbe o troca-troca de atletas. Vejo algo inovador ? conta Mário.
Outro ponto defendido pelos favoráveis é evitar que os clubes colecionem multas rescisórias por administrações anteriores. O Santos, que votou à favor, atualmente paga sete técnicos (além do atual, Ariel Holan), segundo o presidente Andres Rueda.
‘Limite’ na Espanha
Entre as principais ligas do mundo, a Espanha é uma das que adota um “limite? para a troca. Mas é um cenário bem diferente do que deve ser visto no Brasil.
Segundo as regras, um técnico interino só pode orientar uma equipe em quatro jogos ou em um período máximo de duas semanas. Ao final deste período, o clube tem que tomar uma decisão: ou contrata um treinador ou promove o interino a técnico definitivo. Está previsto no Regulamento Geral do RFEF.
Isso afetou diretamente o Real Madrid que, em 2018, demitiu Julen Lopetegui e colocou Santiago Solari assumindo interinamente. Após semanas, os espanhóis não avançaram por um novo comandante e tiveram que efetivar o argentino.
Interino do Palmeiras enquanto o português Abel Ferreira passa seus últimos dias de férias em sua terra natal, João Martins aprovou o limite para troca de técnicos no Campeonato Brasileiro.
? Essa medida já existe na Europa e, aqui no Brasil, concordo plenamente porque, com tanto volume de jogos, é difícil manter uma equipe no mais alto nível. Muitas vezes, há momentos um pouco mais baixos. E isso não invalida o trabalho e a competência dos jogadores e do treinador ? argumentou João Martins.
Fonte: O Globo