Depoimento de José Augusto Pellegrini, médico intensivista da UTI Covid do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
“As equipes estão esgotadas. As pessoas que trabalham nos hospitais não aguentam mais, estão no limite da sua capacidade emocional. Não é raro encontrar colegas extremamente estressados chorando nos corredores dos hospitais.
A gente não desconecta. Eu fico todos os dias, o dia inteiro, em alerta, gerindo leitos de UTI para dar conta da demanda. Ninguém esperava essa rapidez no aumento de casos nem a gravidade com que eles se apresentam.
Vemos muitas pessoas jovens e saudáveis extremamente doentes ocupando leitos de UTI. E não adianta aumentar os leitos porque os pacientes morrem, e morrem muitos. Tivemos colegas da equipe de enfermagem que vieram a falecer sob os nossos cuidados. Eu vi jovens de 18 anos morrerem apesar de todo o esforço e recursos.
Precisamos antecipar o parto de uma gestante para salvar a mãe e o bebê. A gente se pergunta se aquela mãe vai conhecer seu filho que acabou de nascer, se vai conseguir cuidar dos outros que estão em casa. Vi crianças de dois, três anos perderem seus pais para a covid.
Estamos no limite da capacidade física dos hospitais e também de equipe profissional. Temos a nítida sensação de que não vamos dar conta dessa transmissão desenfreada que está acontecendo. Já estamos em colapso. A fila de pacientes graves necessitando de leitos de UTI é enorme, há muitas pessoas aguardando na emergência.
As pessoas têm que perceber que estamos vivendo o pior momento. Temos vacinas, mas o poder público não é competente para colocá-las à disposição da população. Esse é o momento de ficar em casa mais do que nunca.
Temos um presidente que trabalha ativamente todos os dias para sabotar o combate à pandemia e para minimizar a gravíssima crise humanitária, sanitária, econômica e social que vivemos. Essa falta de empatia é o que mais me causa revolta e indignação.” /Depoimento a Mariana Hallal
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Fonte: Terra Saúde