Terminou sem acordo a tentativa de mediação feita pelo Tribunal de Justiça do Rio com as famílias das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu e representantes do Flamengo. No primeiro encontro, os parentes dos atletas mortos, acompanhados de advogados, sinalizaram com o interesse de tentar um entendimento, mas em seguida apresentaram um valor ao clube que era próximo do sugerido pelo Ministério Público e Defensoria.
O Flamengo se recusou a aceitar a proposta de R$ 2 milhões por família mais uma pensão mensal de R$ 10 mil até os quando os jogadores completassem 45 anos. O clube alega ter aumentado a proposta feita ao MP. Em vez de R$ 400 mil de indenização por família, chegaria a R$ 700 mil. Com pensão passando de um para três salários mínimos por dez anos. As famílias e os advogados consideraram os valores longe do ideal, e cancelaram a mediação.
Familiares de jovens que morreram na tragédia do último dia 8 reclamaram da ausência de membros da diretoria rubro-negra e chegaram a classificar como “brincadeira” e “tortura” a postura do clube.
– Estou perplexo com a atitude do Flamengo. É uma falta de respeito com os pais. Estão brincando com a vida dos nossos filhos. É tortura o que o Flamengo está fazendo conosco – afirmou Cristiano Esmério, pai do goleiro Christian Esmério, que tinha 15 anos.
– Viemos aqui como bobos, palhaços, desamparados por todos. Não nos sentimos acolhidos, principalmente pelo Flamengo – completou Cristiano, bastante abalado.
Mais cedo, o desembargador Cesar Cury, que conduzia a mediação, chegou a mostrar otimismo de que um acordo pudesse ser costurado entre as famílias e o Flamengo em dois meses. Após a proposta do Flamengo, no entanto, os familiares das vítimas se reuniram e fizeram uma contraproposta, cujos valores não foram divulgados. Os advogados rubro-negros comunicaram que não havia acordo. Diante disso, as famílias resolveram encerrar a mediação.
– As famílias estavam dispostas a ouvir. Aí o Flamengo fez uma proposta e não era condizente com o que as famílias esperavam. Depois, elas se reuniram sem o Flamengo e fizeram uma proposta de consenso. O clube não concordou. Pedimos que os advogados levassem a questão ao presidente, e não foi possível acordo. As famílias, então, decidiram encerrar o processo de negociação – disse Cinthia Guedes, representante da Defensoria Pública.
Marília Barros, mãe do zagueiro Arthur Vinícius, que tinha 14 anos, criticou dirigentes do Flamengo por não darem satisfação pela ausência – ou saída abrupta, no caso de Rodrigo Dunshee – da reunião desta quinta.
– Tudo que foi proposto a gente está vendo que foi por água abaixo. Nenhum dinheiro vai trazer nossos filhos de volta, mas eles têm que ter um pouco de respeito, de dignidade – disse Marília.
Procurado, Dunshee se posicionou ao GLOBO e disse que havia profissionais contratados para ir à reunião, e que ele só foi no início para prestar solidariedade.
– Eu não tinha que ir. Não sou parte da mediação. Fui prestar solidariedade. Por isso o Landim (presidente) também não foi. Presidente não participa das mediações. Eu falei no começo que não ia ficar. Fui carinhoso. Não saiu do jeito que eles queriam – disse o vice-jurídico.
Fonte: O Globo