A volta de Cristiano Ronaldo a Madri já bastaria para atrair todas as atenções para o Atlético x Juventus desta quarta-feira, último dia das partidas de ida das oitavas de final da Liga dos Campeões. Mas o estádio Wanda Metropolitano, que será palco da final do torneio, verá um duelo que desperta curiosidade tanto pelas individualidades, quanto pelas estratégias. Um duelo tático, às 17h (de Brasília), entre tentativas de ativar as estrelas e fórmulas de neutralizá-las. O espaço não será concedido, terá que ser conquistado.
De um lado Cristiano Ronaldo, que chegou a Turim para ser a peça que faltava numa Juventus que, uma temporada antes, chegara muito perto de eliminar seu ex-clube, o Real Madrid. De outro Griezmann: se a Juventus pagou 100 milhões de euros para ter Cristiano, o Atletico precisou investir alto para evitar que o atacante francês fosse para o Barcelona.
Mas ainda que nas duas áreas técnicas estejam técnicos que construíram times com conceitos um tanto diferentes, vão se enfrentar dois modelos de jogo e dois clubes com uma cultura que parte da aplicação e da rigidez sem a bola: seja pelo DNA italiano da Juventus, seja pelo ideário de futebol de Simeone no Atlético. São dois trabalhos sob diferentes estágios e cobranças, dois momentos que influenciarão diretamente no ânimo das equipes.
À tradição italiana de times defensivamente fortes e extremamente fiéis a estruturas táticas, Massimiliano Allegri construiu nesta Juventus um ataque de enorme mobilidade. O jogo se desenvolve a partir de um meio-campo técnico e versátil, com Pjanic iniciando a armação, auxiliado pelo uruguaio Bentancourt e pelo francês Matuidi. À frente deles, deverá estar o argentino Dybala. Ele pode ser uma espécie de vértice de um losango, ou juntar-se a Cristiano e Mandzukic na frente como um terceiro atacante.
As trocas de posição são uma constante, numa temporada que permitiu ao craque português mostrar, além da capacidade goleadora, uma enorme inteligência de ocupação de espaços. Seu entendimento do momento de buscar a área ou, por vezes, o lado do campo, confunde a marcação dos rivais. Assim como as movimentações de Dybala e dos meias. Outra jogada característica são as manobras pelo lado direito, com apoio do lateral Cancelo, encontrando Mandzukic na segunda trave.
Os cinco melhores gols da Juventus contra times espanhóis
(O vídeo acima é um conteúdo produzido por Dugout )
Sobre esta Juventus pesa a expectativa de que, com o acréscimo de Cristiano, qualquer coisa diferente de superar a campanha do ano passado seja uma frustração. Na ocasião, uma arbitragem polêmica impediu o time de passar pelo Real Madrid nas quartas de final. A liderança folgada no Campeonato Italiano, que deverá ser vencido pela oitava vez seguida, permite que o time se concentra na Liga dos Campeões.
Mas executar seus movimentos de ataque não será simples em Madri. Se o futebol italiano se caracteriza por sua rigidez defensiva, o rival de hoje é um Atlético em que Diego Simeone tornou a arte de defender obstinadamente uma marca, um selo de distinção. No clube há pouco mais de sete anos, fez o clube mudar de patamar e alcançou duas finais de Liga dos Campeões com um estilo marcado.
Ocorre que o sucesso do modelo, por mais paradoxal que pareça, está na raiz de alguns questionamentos recentes. As boas campanhas fizeram o clube ampliar receitas e, com elas, vieram investimentos maiores. Na atual temporada, foram 126 milhões de euros para contratar jogadores como os meias Lemar, ex-Monaco, e Rodrigo, ex-Villarreal. Sem falar na manutenção de Griezmann e na recente aquisição de Morata por empréstimo.
Neste ano, o nível de atuações não foi tão consistente e o time se viu cercado de uma cobrança por um jogo mais elaborado, mais expansivo. Uma das teses sobre a dificuldade de repetir a marcação disciplinada e sufocante de outros tempos, combinada a uma eficiência ofensiva, diz respeito a um suposto novo perfil do elenco. Como se o discurso de que a cultura do sacrifício é a única forma de competir com os mais ricos não fosse mais tão convincente. Afinal, a receita anual de 305 milhões de euros na última temporada, apenas 25% menor do que a da Juventus, permite ao clube contar com jogadores de primeira linha, com ambições de protagonismo maiores.
O fato é que, apesar de momentos ruins, como a goleada sofrida diante do Borussia Dortmund por 4 a 0 na fase de grupos, o Atlético vem cumprindo os objetivos habitualmente exigidos dele. É terceiro colocado no Espanhol e chega com chances às oitavas da Liga dos Campeões. Hoje, a escalação será como uma carta de intenções de Simeone sobre o jogo. Pode começar com Thomas, Rodrigo, Saúl e Koke na linha de quatro meias, todos eles jogadores com capacidade de apoiar ações ofensivas, mas afeitos à marcação. Outra opção é ter Correa numa das pontas, dando mais agressividade num jogo em casa.
A questão será descobrir os espaços para ativar Griezmann e Morata, cujo entendimento parece promissor apesar da convivência de apenas 15 dias. Se quiser ser protagonista da decisão em sua nova casa, o Atlético terá que fazer valer o fator campo.
Fonte: O Globo