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Uma em cada 4 instituições para idosos registrou covid-19



Levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com 1.762 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) com foco na pandemia da covid-19 apontou que 13,7% das instituições tiveram ao menos um óbito e 23,6% registraram infecções entre os idosos. Os dados foram coletados entre junho e setembro. Ao todo, foram 704 mortes e 3.278 infectados. Diante da nova alta de casos, a orientação de especialistas é evitar contato com parentes e aumentar ainda mais as restrições.

A pesquisa foi feita por meio de um questionário que abordou as estratégias adotadas para evitar infecções. Uma delas foi o monitoramento diário dos idosos, realizado por 99,5% das entidades. A restrição de visitas foi feita por 99,8% das instituições e o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) por profissionais foi adotado em 99% delas. A manutenção de rotinas, como o banho de sol, foi realizada por 97,3%.

Coordenadora de Serviços de Interesse para a Saúde da Anvisa, Alice Alves de Souza explica que as questões tiveram como base orientações de uma nota técnica da agência com foco nas entidades que foi atualizada em junho. “A pesquisa teve o objetivo de colher informações mínimas que pudessem auxiliar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária na priorização de ações para a prevenção e controle da pandemia da covid-19 nas ILPIs a partir das informações dos estabelecimentos.”

Alice explica que os dados são autodeclarados e estanques, refletindo o quadro do momento da resposta, mas algumas instituições responderam mais de uma vez, de modo que apenas a última resposta foi considerada. As informações foram repassadas para órgãos de vigilância sanitária estaduais “para conhecimento e providências, se fosse o caso”.

“Na realidade, chama a atenção para a necessidade do reforço das medidas de prevenção e controle de infecções causadas pelo novo coronavírus, bem como, a adequação de recursos físicos, materiais e humanos para o cuidado com qualidade ao idoso institucionalizado. Como dito, para a vigilância sanitária, a pesquisa auxilia na reflexão sobre as normas vigentes para ILPI.”

Desde março, o Residencial Santa Cruz, em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, redobrou os cuidados. “Duas semanas antes da data inicial do agravamento da pandemia, fechamos a instituição para visitas de familiares, profissionais externos e equipes terceirizadas, mantendo apenas os nossos profissionais de saúde, nutrição e hotelaria nos cuidados de nossos residentes”, explicou o enfermeiro especializado em Gerontologia e responsável técnico pelo residencial, Diego Rodrigues.

No início, foi realizada uma triagem em todos os residentes e colaboradores, mesmo sem apresentar nenhum sintoma clínico aparente, “com isso filtramos os riscos do vírus se propagar dentro da instituição”, separando os residentes contaminados. “Hoje realizamos testes preventivos apenas se o residente apresentar algum sintoma clínico. Colaboradores que apresentam sintomas clínicos são imediatamente afastados por 14 dias e realizado o exame para comprovação de contaminação, se o mesmo der negativo, ele retorna às suas atividades”, afirma o enfermeiro da instituição, onde vivem atualmente 48 residentes, entre 75 a 100 anos.

Desde o início da pandemia até o fim do ano, a instituição registrou cinco casos positivos de covid-19, sendo quatro residentes. “Três foram curados e um faleceu em ambiente hospitalar. Um colaborador, que também foi contaminado, evoluiu de maneira estável clinicamente”, acrescenta ele.

Para lidar da forma mais segura, o residencial montou integralmente um setor com suítes separadas para todos os residentes infectados. “Foi realizado um dimensionamento de enfermagem com uma equipe única para realizar os cuidados com os pacientes no período do isolamento e sua recuperação total, além de medidas farmacológicas prescritas pela médica da instituição”, diz o enfermeiro.

Fachada do Residencial Club Leger
Fachada do Residencial Club Leger

Foto: Divulgação / Estadão Conteúdo

Com a chegada da pandemia, o Residencial Club Leger, no Jaraguá, zona noroeste de São Paulo, também reforçou as medidas de segurança já existentes e ampliou o estoque de EPIs, como máscaras e luvas. “Estamos sempre reavaliando os procedimentos. Com essa nova alta da doença, estamos reforçando todos os nossos protocolos”, afirma o administrador do Residencial Club Leger, Vinícius Neves.

Atualmente, vivem no residencial quinze idosos, de 75 a 90 anos. Até o momento, nenhum caso de covid-19 foi registrado. “Felizmente, não tivemos nenhum caso confirmado. Estamos com um protocolo rígido e sempre atentos sobre a necessidade de mudanças”, acrescenta. Ainda de acordo com o levantamento da Anvisa, 55,2% das instituições tiveram profissionais afastados por suspeita ou confirmação de infecção e 82,1% conseguiram substituir esses funcionários.

O relatório da pesquisa destaca que o País não tem um cadastro com o número de instituições existentes no Brasil e que Acre, Amapá, Amazonas e Roraima não enviaram formulários. No caso do número de óbitos nas entidades (704), a agência informa, também no documento, que ele pode ser maior. “Este número pode ser superior ao apontado em virtude do formulário ter estado três meses disponível e ter sido preenchido uma única vez por cada ILPI.”

Sociedade de Geriatria e Gerontologia recomenda que visitas presenciais sejam suspensas

Diante do avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil, residenciais para idosos da capital paulista reavaliam constantemente os protocolos de segurança para evitar o contágio da doença entre os residentes. O cuidado foi reforçado no fim do ano, época em que as visitas de familiares, assim como as saídas de idosos, costumam ser muito comuns.

Em razão do aumento de casos da covid-19, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) recomenda que as famílias não tirem os idosos das instituições. Também orienta que seja dada preferência para encontros virtuais.

“Defendemos a manutenção da suspensão da visita presencial, uma medida de proteção aos idosos, a não ser que seja feita de forma alternativa, sem contato entre residentes e familiares. Por exemplo, o idoso pode ficar na janela da residência e a família passar com carro na frente da janela, mantendo distância de dois metros. Residenciais que têm parede de vidro também podem organizar visitas, ficando o familiar de um lado do vidro e idosos do outro lado”, avalia Paulo Villas Boas, médico geriatra e integrante da comissão de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da SBGG.

Atento à saúde dos residentes, o Residencial Santa Cruz aconselhou que os idosos não saíssesm durante o período das festas de fim de ano. Para a família que decidiu buscar o parente, no retorno o residente permanece em isolamento por 14 dias e apenas sairá após realizar o teste RT-PCR e apresentar resultado negativo, segundo o responsável técnico pelo residencial, Diego Rodrigues.

Por medida de segurança, a instituição mantém os protocolos internos com aferição de temperatura dos profissionais, medidas de sanitização e limpeza, além das limpezas diárias e visita de familiares em modelo drive thru.

“Este esquema de visita funciona de maneira eletiva com agendamentos antecipados. Com duração de 20 a 30 minutos, a visita é realizada através de um vidro, onde mantemos um telefone na parte interna e externa para os familiares se comunicarem com os residentes. Finalizando a visita, a equipe de limpeza e higienização realiza toda a sanitização do ambiente e do vidro para a próxima visita agendada, assim controlamos e minimizamos os riscos a todos os familiares, residentes e equipe da instituição”, avalia Rodrigues.

Diferentemente de países como o Canadá, onde o índice de mortes em instituições de longa permanência chegou a 80%, no Brasil, a taxa é relativamente baixa, em torno de 1,7%, segundo o integrante da comissão de ILPIs da SBGG. Em alguns países europeus, como Espanha e Itália, houve número significativo de surtos em estabelecimentos desse tipo.

“Lançamos um documento sobre a necessidade de manter as medidas de controle e restrição de visitas externas, exceto em casos excepcionais, uso de EPIs e manutenção da capacitação dos profissionais. É muito comum, funcionários de instituições mudarem de emprego constantemente e isso dificulta a capacitação continuada. Outro aspecto que funciona bastante é a testagem para verificar se o funcionário está com covid-19. Defendo que deva ser regular, uma vez a cada sete dias. O teste é desagradável, mas funciona como medida preventiva”, acrescenta Villas Boas.

O Residencial Club Leger incentivou encontros online entre os residentes e seus familiares. No caso de visitas presenciais, os protocolos devem ser respeitados. “Os familiares devem marcar hora. Todos precisam usar máscaras e manter o distanciamento social. Para isso, nos valemos da nossa grande área externa”, explica o administrador do local, Vinícius Neves.

A preocupação com idosos que vivem em instituições de longa permanência é grande, em razão do maior risco de agravamento. “Quanto mais velha a pessoa, maior a taxa de letalidade. Além disso, o idoso que tem diabete, hipertensão ou problema cardíaco fica mais exposto ao vírus”, diz Paulo Villas Boas, médico geriatra. De acordo com estudo do Centro de Controle de Doenças chinês, a taxa de letalidade para pacientes na faixa de 70 a 79 anos é de 8% e de 15% para quem tem mais de 80 anos.

Entidade realiza projeto para evitar infecções em instituições da periferia

O Instituto Horas da Vida, organização social sem fins lucrativos da área da saúde, lançou um projeto chamado Envelhecer Sustentável, que, com ajuda de parceiros, atingiu 20 instituições de longa permanência para idosos da periferia de São Paulo para evitar a disseminação do vírus. Desde 1º de julho de 2020, 537 idosos foram testados.

“Um dos nossos fundadores é geriatra e, quando foi identificado que o público idoso é o mais vulnerável, houve preocupação com as ILPIs da periferia, porque as filantrópicas acabam recebendo mais recursos do que as particulares de pequeno porte. Fizemos uma série de contatos para entender como estava a situação na periferia e percebemos que tinham necessidade de saber como lidar, porque os gestores são pessoas simples que dão suporte a pessoas em situações de vulnerabilidade. Queriam saber como orientar os funcionários, qual a conduta ao identificar um caso de idoso e colaborador. Também lidavam com a falta de EPIs. Muitas sobrevivem de eventos beneficentes e bazares. Tudo que não poderia ser feito neste momento”, relata Elisangela Tolosa, diretora de Desenvolvimento Organizacional do Instituto Horas da Vida.

Ela relembra que, antes do início do projeto, uma das entidades com duas unidades já tinha registrado 17 óbitos de idosos. As ações começaram com trabalhos de testagem e desinfecção de todas as casas. “Na primeira unidade, oito estavam contaminados. Todos assintomáticas e a maioria era funcionário.” Até novembro, nenhum novo caso foi registrado, mas eles voltaram a ocorrer com a retomada das visitas.

“Uma das unidades teve oito casos e fizemos um vídeo de orientação para passar condutas para as visitas. As famílias estavam desde março sem ver os idosos. Mas não pode ter contato físico.” A 1ª fase da iniciativa durou até 31 de dezembro e uma campanha para arrecadação de verba para que o trabalho continue está disponível no site da entidade.

“Estamos buscando novos investidores para a 2ª etapa em uma plataforma de financiamento coletivo chamada Global Giving, que está no ar no nosso site. Queremos continuar com o trabalho porque vai demorar até a vacina ser distribuída para todos”, acrescenta Elisangela. Idosos fazem parte do grupo prioritário do plano nacional de vacinação do Ministério da Saúde, que prevê imunizar todos dessa faixa etária ainda no 1º semestre.

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Estadão

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Fonte: Terra Saúde


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