Rubinho, de 51 anos, técnico do Sesi Vôlei Bauru, que desenvolveu quadro grave para Covid-19 e teve alta hospitalar na última quinta-feira, após oito dias internado na UTI, contou que teve medo do pior mas que tentou se manter positivo para encarar o tratamento. Em determinado momento, quando foi para a unidade de terapia intensiva e precisou de auxílio mecânico para respirar, sabia que era um “vai ou fica”. Consciente o tempo todo, ele disse que ficava vendo TV e acompanhando o noticiário sobre a doença. Ele acredita que a Superliga de vôlei pode melhorar seus protocolos de prevenção, aumentando a frequência de testes.
? A perda muscular é brutal, em tão pouco tempo. É tudo muito complexo, destruidor. É muito limítrofe, ficamos à mercê da doença porque a medicina ainda não sabe curá-la. É uma doença traiçoeira ? falou Rubinho, que ainda está em processo de recuperação do pulmão, que ficou 60% comprometido, com caminhadas e fisioterapia
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O treinador disse que, se estivesse num hospital público, sem leitos e tendo de esperar por atendimento, não resistiria.Também por isso, falou que a situação é desesperadora.
? Muitos não vão sentir nada mas um sente, como foi meu caso. E fiquei ali, numa corda bamba. Poderia ir ou não ir. É desesperador ver que as pessoas e o governo não dão a atenção que deveriam ao tema. Os casos estão proliferando, o problema está aumentando.
Rubinho, que disse que está extremamente reflexivo após se curar da doença, revê conceitos e seu comportamento. Quer voltar à corrida e dar melhor peso entre o trabalho e sua vida pessoal.
? Eu poderia ter morrido. Em outros tempos, voltaria o mais rápido possível para a quadra. Mas estou me cuidando, tendo cuidado de me recuperar bem e não avançar o farol.
Rubinho contou que, provavelmente, se contaminou na viagem com o time para São José dos Pinhais. A equipe foi de ônibus para a partida contra o time local. O time havia feito cinco jogos fora de casa até então.
Segundo Rubinho, ele não havia passado bem no dia anterior e depois, de volta a Bauru, teve muita falta de ar. Fez o teste para Covid-19 dias depois, com todo o elenco, e foi direto para o hospital. Rubinho não conseguia respirar. Ele não chegou a ser entubado, mas precisou de auxílio mecânico, com dois tipos de cateter diferentes.
? Quando passei para um ventilador de alto fluxo, já na UTI, sabia que era a linha tênue da doença. Ou passava dali ou teria de chegar num terceiro estágio de ventilação, muito mais delicado. Reagi bem e reverti o quadro. Estava tranquilo, com a mente controlada, mas sabia que era um ou vai ou fica. Era uma luta do meu corpo contra o vírus. Imagino, inclusive, que se tivesse acontecido isso em junho ou julho, talvez eu tivesse ido para um caminho pior. O conhecimento nesta época m relação à doença era menor.
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Rubinho contou que teve medo mas que tentou controlar os pensamentos e focar apenas na recuperação. Disse que sentia dificuldade de reação mas que precisava de tranquilidade. A esposa Rejane, de 46 anos, foi para Bauru para ficar a seu lado (“veio me ajudar a me salvar” ). As três filhas ficaram em São Paulo.
Rubinho que se diz emotivo nesse momento acredita que é preciso conviver com a doença de forma responsável, uma vez que ainda teremos um ano de 2021 “muito ruim”. Usar máscara da forma correta é o mínimo, na sua opinião, além do governo agilizar o processo de vacinação para a população.
? Acho também que temos de ajustar os protocolos para os esporte. É obvio que tem um peso financeiro aí mas temos de melhorar. É importante ir avaliando e mudando. São muitos casos no feminino e aumentar a quantidade de testes, ter menos tempo entre um teste e outro, poderia ser possível. Temos de olhar o problema de frente e fazer os ajustes dentro do possível.
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Ex-auxiliar de Bernardinho na seleção brasileira masculina, Rubinho participou dos últimos três ciclos olímpicos com direito a medalha de ouro na Rio 2016 e as pratas em Pequim 2008 e Londres 2012. Além disso, é tetracampeão da Liga Mundial (06/07/09/10), bicampeão do Mundial (06/10), campeão da Copa do Mundo (07) e bicampeão Pan-Americano (2011 e 2017). A experiência no Sesi-Bauru é a primeira no comando de um time feminino.
Seu time, que fez a última partida no dia 27, vai jogar nesta terça-feira, às 21h30 (com SporTV), contra o Minas, em Bauru. Rubinho não estará em quadra.
A modalidade, que optou por não adotar um formato de bolha, é a que mais sofre com a contaminação pelo novo coronavírus, ao menos entre as principais ligas do país. A organização exige testes de 15 em 15 dias e afastamento de 10 dias em casos positivos.
O vôlei voltou às disputas logo após o futebol, em 17 de setembro, com o circuito nacional de vôlei de praia, em esquema “bolha”, em seu CT, em Saquarema. Mas, no caso do vôlei de quadra, o mesmo modelo não foi possível de se realizar. O torneio manteve jogos de ida e volta, nas cidades sedes das equipes (a NBB, de basquete, por exemplo, optou por ter sedes fixas em sua competição nacional, com os times se hospedando em hoteis da cidade; neste momento os jogos acontecem em São Paulo e em Mogi das Cruzes).
Além disso, antes da disputa da Superliga, em 31 de outubro, a modalidade realizou os regionais (ao menos, o Praia Clube viu Fernanda Garay testar positivo e o Taubaté perdeu Bruninho ainda na reta final do Campeonato Paulista) e o Super Vôlei, em esquema bolha (o Itapetininga ficou fora do torneio após surto, com oito jogadores infectados).
Feminino mais afetado
A Superliga feminina é a mais atingida até o momento. A contagem de casos positivos para o novo coronavírus chegou a 32 e adiou dez jogos, segundo dados da Confederação Brasiliera de Vôlei até o dia 8/12. A entidade não divulgou números mais atualizados. Entre os homens, Blumenau (quatro), Uberlândia (quatro) e Ribeirão (cinco, incluindo um membro da comissão técnica) também tiveram casos positivos.
Até a data de 8/12, 2.134 exames foram realizados pelos 24 clubes, entre atletas e comissão, para as Superligas Masculina e Feminina, com 2,48% de casos positivos.
Pelo regulamento, um time que apresentar quatro jogadoras ou duas levantadoras com Covid-19 pode pedir o adiamento de partida.
Além do Bauru com 16 casos positivos, incluindo do técnico Rubinho, o time de Osasco também teve jogo remanejado por causa de um surto que atingiu quatro atletas, há cerca de duas semanas. O grupo enfrentará o Praia Clube, nesta quarta-feira, às 19h (com Sportv), em Uberlândia.
O primeiro clube que pediu remanejamento na tabela foi o Sesc RJ Flamengo: com nove casos positivos (sendo dois entre membros da comissão técnica), o time teve três partidas adiadas. Duas delas ainda vão acontecer.
E com oito casos positivos entre as atletas, o time de José dos Pinhais teve dois jogos suspensos, um deles ocorreria nesta semana.
No caso do basquete, a NBB divulgou que em novembro, em meio às 38 partidas realizadas, foram feitos 1.462 testes em atletas, estafe dos clubes e árbitros, com 26 casos positivos (13 atletas, 7 membros das equipes e 6 árbitros).
Atualmente, o Corinthians vive surto com oito atletas contaminados e o Bauru, um (divulgado na semana passada).
No caso do basquete, não há adiamento de partidas por causa do novo coronavírus (é atribuído WO).
Os atletas fazem testes a cada dois dias, em média, já que precisam fazê-lo 48h antes de entrar em quadra. O torneio nacional masculino conta com 16 times e começou em 10 de novembro.
A organização do evento considera que a escolha por disputar o torneio em sede fixas ajudou a evitar mais contaminações.
Fonte: O Globo