Para a maioria das pessoas, estar apaixonado é sinônimo de felicidade e plenitude. Além disso, estar em um relacionamento romântico pode trazer inúmeros benefícios para a saúde – comprovados pela ciência -, como diminuição da pressão arterial, alívio do stress e da ansiedade, redução de dores e melhoria da saúde cardiovascular. No entanto, existem aspectos do romance – nem tão famosos e apreciados – que podem ter efeitos físicos e psicológicos prejudiciais, incluindo aumentar os níveis de stress, induzir pensamentos suicidas (que podem ou não culminar em morte) e causar vício.
Para explicar melhor essas associações, o site especializado Medical News Today preparou uma lista com as três principais consequências negativas do amor. Confira.
1. Amor e stress
Se por um lado, pesquisadores afirmam que o amor ajuda a reduzir os níveis de stress – o que de fato faz -, estudos mostram que dependendo da fase do relacionamento, os níveis de cortisol, também chamado de hormônio do stress, podem estar elevados.
Estar apaixonado desencadeia a liberação de uma série de substâncias químicas no cérebro, incluindo a ocitocina, chamada de hormônio do amor, que costuma ser liberada durante o sexo ou toque físico. Essa substância tem efeito calmante, mas especialistas dizem que os níveis de ocitocina só começam a subir de forma considerável (a ponto de trazer benefícios à saúde) depois do primeiro ano de namoro. Portanto, outros hormônios atuam no início do namoro, principalmente o cortisol, pelo menos é o que indica um estudo de 2004.
De acordo com o resultado, indivíduos que estão apaixonados a menos de seis meses apresentam altos níveis de stress, que só declinam e voltam aos níveis normais depois que o relacionamento se prolonga. Segundo os pesquisadores, esse aumento nada mais é do que uma reação normal do corpo durante o início do contato social, fase em que estamos sempre tentando agradar.
No entanto, como o cortisol circula pelo corpo por quase um ano, ele pode deixar suas marcas no organismo. Altos níveis de cortisol podem prejudicar o sistema imunológico, aumentando o risco de infecções. Além disso, em excesso, esse hormônio pode elevar a probabilidade de desenvolver hipertensão e diabetes tipo 2, assim como prejudicar a função cerebral e até mesmo reduzir o volume do cérebro.
2. Amor e vício
Além da ocitocina e do cortisol, outra substância poderosa é liberada quando estamos apaixonados: a dopamina, também chamada de hormônio do prazer, já que só é liberada quando a pessoa se envolve em atividades que considera prazerosa. No entanto, essa substância tem a capacidade de provocar vícios.
Uma pesquisa de 2010 mostrou que esse vício pode surgir porque o amor ativa áreas do cérebro associadas à dependência de cocaína, ganhos e perdas (como durante apostas), desejo, motivação e regulação emocional. “A ativação de áreas envolvidas no vício em cocaína pode ajudar a explicar comportamentos obsessivos associados à rejeição no amor”, disseram os pesquisadores.
De acordo com Helen Fisher, principal autora da pesquisa, esses comportamentos danosos incluem mudanças de humor, obsessão, dependência emocional, perda de autocontrole, desejo intenso, mudanças de personalidade e distorção da realidade. Diante desses sintomas, alguns especialistas sugeriram incluir o vício em amor no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais junto com outros vícios comportamentais, como dependência sexual, vício em comprar, vício em trabalho ou em aparelhos tecnológicos, por exemplo. No entanto, a proposta não foi aceita.
Apesar de ser uma preocupação, outros cientistas acreditam que estar “viciado” em alguém não é uma doença e pode ser explicado como resultado de uma capacidade fundamental do ser humano que, às vezes, é exercida em excesso. Ainda assim, eles acreditam que se o excesso de amor for prejudicial deve, sim, ser tratado da mesma forma que qualquer outro vício. “Pessoas cujas vidas são impactadas negativamente pelo amor devem receber oportunidades de apoio e tratamento semelhantes às que oferecemos a dependentes químicos”, explicaram em artigo.
3. Amor e limerência
De acordo com a psicóloga Dorothy Tennov, autora do livro “Amor e Limerência: a experiência de estar apaixonado (1979)”, apaixonado pode causar sentimento de limerência – caracterizado por um desejo romântico associado à necessidade intensa, avassaladora e obsessiva de ter esse sentimento correspondido. Para a especialista, o amor nem sempre gera limerência e a limerência nem sempre está relacionada ao amor.
Em seu livro, Dorothy descreve alguns sinais típicos de quem está em estado de limerência, como:
- Pensamento intrusivo a respeito do objeto de desejo;
- Intenso desejo de reciprocidade;
- Realizar ações com base na possibilidade de que o objeto de desejo possa retribuir os sentimentos;
- Incapacidade de ter sentimentos de limerência em relação a mais de uma pessoa por vez;
- Medo exagerado da rejeição;
- Timidez excessiva e incômoda na presença do objeto de limerência;
- Percepção de que quanto mais difícil é se livrar da sensação, mais intensa ela se torna;
- Dor no “coração” (região no centro do peito) quando a incerteza da reciprocidade é forte;
- Sensação de andar no ar quando a reciprocidade parece evidente;
- Intensificação do sentimento e deslocamento de toda atenção para o objeto de limerência ao ponto de outras atividades ou preocupações perderam a importância; e
- Enfatizar as qualidades do objeto de limerência enquanto ignora intencionalmente os defeitos.
Segundo Dorothy, há aspectos negativos da limerência que não recebem a devida atenção, mas podem ter graves consequências, como a criação de situações em que o indivíduo provoca uma lesão em si mesmo para receber a atenção do objeto de limerência, suicídio em que um bilhete é deixado diretamente para o objeto de limerência, além de homicídios cometidos em prol do objeto de limerência.
Outro aspecto negativo da limerência é autodepreciação, especialmente em casos em que a pessoa percebe a própria obsessão e tenta – em vão – se livrar do sentimento. Para quem se percebe vivendo esse sentimento, a recomendação é escrever um diário, focar nos defeitos da outra pessoa ou procurar um terapeuta.
Fonte: Veja