Um levantamento feito pela CBF, e obtido com exclusividade pelo GLOBO, aponta que, até o fim do primeiro turno do Campeonato Brasileiro, 20% dos atletas das competições masculinas profissionais e de base organizadas pela entidade já tinham sido contaminados pelo novo coronavírus, levando em conta exames PCR e sorológicos feitos.

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As informações captadas pela CBF servem como balizamento para referendar a nova onda crescente de casos na Série A. Até o fim do primeiro turno do Brasileirão, foram 97 contaminados. Apenas nesta semana, o número de jogadores infectados, segundo levantamento do ge, passou de 60 (até sexta-feira à noite).

? Há um descuido geral da população. Isso inclui uma baixa de guarda de jogadores e clubes. Pode incluir maior aglomeração em aeroportos, talvez nos hotéis, o pessoal está indo para a praia. O jogador de futebol pode ir ao supermercado, à praia. Há uma cadeia de baixa de guarda. Isso vale para eles também ? avaliou Jorge Pagura, presidente da Comissão Médica da CBF, em entrevista ao GLOBO.

Pelo alto número de casos, a entidade recebe gradativamente atualizações sobre o cenário e passou a compilar os estudos analíticos de cinco em cinco rodadas. O recorte que a CBF já compilou abrange 6.604 jogadores, com 1.323 já positivos, considerando sete competições (quatro divisões profissionais, além do sub-20, sub-17 e aspirantes). Estes dados se referem a exames PCR e sorológicos ? contando, portanto, jogadores que tiveram o vírus antes mesmo do início do Brasileiro, em competições estaduais ou outros torneios.

. Foto: O Globo
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A análise mais recente preparada pela entidade rejeita a possibilidade de infecção dentro dos jogos. Segundo Pagura, quando há um surto em um determinado clube, o adversário é acompanhado mais de perto por pelo menos dez dias após o confronto.

? Não houve evidência de contaminação dentro do campo ? disse Pagura, que não vê razão para mexer no protocolo para as competições nacionais:

? O protocolo é bem feito, mas não temos como controlar o que acontece lá fora.

A CBF valoriza a taxa de positividade dos testes PCR, considerada baixa. Dos 47.450 exames feitos nos jogadores desde o início das competições nacionais, 807 vieram com resultado positivo: 1,7%.

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Jorge Pagura pondera ainda que não há um índice igualitário em termos de infecção entre os clubes. Segundo ele, entre 30% e 40% das equipes são responsáveis pela maior parte de infectados. No início do Brasileirão, o Goiás teve um boom de casos, inclusive motivando o adiamento da estreia, contra o São Paulo. O cenário de contaminação se replicou no Flamengo, por ocasião da viagem ao Equador para a Libertadores e, mais recentemente, Santos, Palmeiras e Atlético-MG.

Atualmente, o Vasco conta com sete casos de Covid-19 no elenco ? o último deles, de Talles Magno.

A CBF observa atitudes mais “ousadas? de torcedores, que podem impactar nos clubes, como recepções às delegações em aeroportos. Na saída do ônibus, o time do Santos passou pelo meio de uma aglomeração de torcedores. O técnico Cuca fez esforço para sair de um emaranhado de braços de pessoas sem máscara. O treinador e outros jogadores testaram positivo dias depois. Mas a diretoria santista evita atribuir os casos a esse evento específico.

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Os dados do levantamento serão passados aos clubes em uma reunião com os médicos planejada para as próximas semanas. A CBF já começou a produzir um artigo científico para ser publicado no British Journal of Sports Medicine (BJSM).

Além dos descuidos que fazem parte de um cenário macro em relação ao coronavírus, Pagura cita a hipótese de um indivíduo que seja um “super spreader?, alguém cuja característica biológica funcione como disseminador de vírus:

? Ele pode ter muita carga viral.

O Palmeiras chegou a divulgar um caso intrigante, envolvendo o meia Gustavo Scarpa. O departamento médico apontou o que seria uma reinfecção por Covid-19, algo inédito no futebol brasileiro. A CBF olha com ressalvas e não aceita essa versão inicialmente.

? Para falar em reinfecção, tem que haver um monte de critérios. Tem que considerar o teste que foi feito e o sequenciamento do vírus. Há conceitos para verificar isso e não dá para a gente confirmar nada disso. Pode ter vírus residual. Pode ter sido um falso positivo. Pode ser um PCR persistente. Temos 40 milhões de casos no mundo. Esse conceito está difícil de definir mundialmente. Tem gente que mantém vírus por 12 semanas. Às vezes pode ser outro tipo de corona ? disse o presidente da Comissão Médica.

Nada de público

Talles Magno também seria um caso de reinfecção, uma vez que o atacante também constou como positivo nos testes realizados na reapresentação do elenco para os treinos, ainda para o Campeonato Estadual. Entretanto, o Vasco considera a possibilidade remota e acredita na hipótese de o atacante ter sido um falso positivo no primeiro teste.

Por conta do cenário do coronavírus no Brasil, a discussão a respeito da volta do público aos estádios ficou engavetada. Para a edição atual do Brasileirão, o timing ideal poderia ser na virada do turno, o que propiciaria um relativo equilíbrio técnico entre as equipes. A CBF chegou a formular um protocolo para que os estádios recebessem 30% da capacidade.

O documento recebeu aval do Ministério da Saúde, mas a discussão não avançou mais porque os municípios e governos estaduais não sinalizaram com a permissão, sintoma da política descentralizada que o país adotou para combater a pandemia. O Rio, um dos primeiros estados a promover o retorno do futebol sem público, foi exceção, mas a decisão da CBF em prol da reabertura só iria acontecer se fosse algo que contemplasse toda a Série A. Portanto, nada feito.

. Foto: Arte O Globo
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