O médico Leandro Fonseca de Carvalho, de 27 anos, participa dos estudos clínicos da vacina Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria no Brasil com o Instituto Butantã. Ao Estadão, ele compartilhou como tem sido o processo e as impressões sobre a paralisação dos testes, que foi anunciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na noite desta terça-feira, 9. “Ao longo do processo de testagem, fui muito bem informado e acolhido. No termo de compromisso, já informam tudo o que a gente precisa saber, de uma forma bem clara e simples para que qualquer pessoa entenda”, disse o médico. Leia a seguir o depoimento que ele concedeu à reportagem:
“Participei dos estudos clínicos para a vacina Coronavac quando uma amiga entrou para o ensaio. Acredito que, tendo a oportunidade, temos que contribuir com a ciência. Pensei também que se desse certo e não houvesse nenhum efeito adverso, como vi que amigos próximos não tiveram, eu me vacinaria antes do previsto e evitaria o contágio das pessoas com quem convivo. Por mais que alguém não seja grupo de risco, nunca se sabe como a pessoa vai reagir porque a doença é imprevisível, então eu tinha receio de me contaminar e passar adiante.
O país de origem dessa vacina ser a China não me influenciou em nada. O que eu observei, a princípio, foi a confiança que eu tenho nas instituições que estão participando do estudo. Aqui, em Belo Horizonte, os testes são liderados pela Universidade Federal de Minas Gerais e a pessoa responsável é o Mauro Martins Teixeira, do Departamento de Bioquímica, ex-professor de vários amigos. Isso pesou muito mais para mim do que o país, até porque sabemos que essa análise está muito ligada ao desconhecimento e à xenofobia.
Sem falar que, no caso da Sinovac, a produção é pelo Instituto Butantã, então não fazia sentido nenhum analisar de que país vinha. Ao longo do processo de testagem, fui muito bem informado e acolhido. No termo de compromisso, já informam tudo o que a gente precisa saber, de uma forma bem clara e simples para que qualquer pessoa entenda. Não tenho nada a me queixar quanto a isso, os critérios e riscos foram muito bem esclarecidos.
Essa foi a primeira vez que eu participei de um teste clínico para uma pesquisa. Ao mesmo tempo, devo ter feito mais de dez testes ao longo da pandemia para saber se entrei em contato com o coronavírus. Ter participado do estudo não mudou em nada a forma como eu me relacionava com a pandemia. Acho que a gente é muito mais influenciado pelas questões políticas. São as decisões tomadas a níveis municipal, estadual e federal que vão influenciar como a gente lida com o vírus enquanto sociedade. De toda forma, a pandemia ainda está acontecendo e a gente que trabalha no setor da saúde precisa se prevenir.
Descobri pelas redes sociais que os estudos tinham sido paralisados na noite de ontem (terça-feira, 9). Depois, fui me informar mais e ainda assim não me causou nenhuma insegurança ou medo, porque parece que tem mais um viés político nessa questão. Preferi esperar para tirar realmente alguma conclusão disso, até porque as notícias são muito recentes e me parece que os efeitos adversos não tiveram relação com a vacina.
Eu ainda recomendaria que, quem tivesse oportunidade, seja voluntário nesse estudo. Eu fui muito bem atendido durante o processo e todos os amigos que participaram também, ninguém teve efeitos adversos. A única dor que eu senti foi a da picada de uma agulha, como qualquer outra vacina.”
*Leandro Fonseca de Carvalho, 27, é médico residente em anestesiologia e voluntário no Brasil para os testes da vacina da Sinovac com o Instituto Butantã
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Fonte: Terra Saúde